Mês do combate ao suicído pode ser motivo de preocupação
Setembro é o mês em que a discussão sobre o suicídio entra em pauta. É um momento em que todos estão abertos e dispostos ao diálogo e a compreensão. Porém, algumas práticas das pessoas vem preocupando profissionais da área fazendo com que alguns alertas também sejam discutidos.
É muito comum que durante esse período as pessoas fiquem mais suscetíveis a querer ajudar o próximo. Gestos como este, mesmo bem intencionados, podem desencadear um efeito reverso em pessoas que possuem maior tendência ao suicídio. “Muitos podem pensar sobre o suicídio, alguns mais, alguns menos e outros pensam de forma compulsória e aguda”, enfatizou Nasser Haidar Barbosa, psicólogo e professor da Faculdade Ielusc.
Para Nasser, que trabalha em um dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), “falar de suicídio abertamente, pode causar o afloramento de gatilhos aqueles que pensam nisso de forma doentia, e isso não é nada bom”, completa o psicológo. A campanha do setembro amarelo não deveria se tratar de um diálogo aberto sobre suicídio, mas sim abrir o espaço para falar sobre saúde mental e como cuidar dela, assim “falamos de suicídio não falando sobre”, observa.
Um fenômeno da psicanálise amplamente discutido no meio é o efeito Werther. Em 1774, o escritor alemão Johann Wolfgang Goethe escreveu a obra “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. O enredo consiste na construção do suicído do seu protagonista após se apaixonar por uma jovem comprometida. O trágico destino de Werther não ficou apenas nas páginas do romance de Goethe, já que não foram poucos os casos de jovens da época que cometeram suicídio após a leitura do livro. A partir disso, em 1974, o pesquisador americano David Philips nomeou esse fenômeno como efeito Werther.
Mesmo esse efeito sendo citado em diversas obras que retratam o suicídio, não se pode dizer que ele é cem por cento comprovado. A maior tese sobre esse tema é a que a explica não como um causador direto da imitação ao ato suicida, mas sim um vetor de reflexão. Ou seja, não foi a leitura do romance de Goethe em si que causou o autoextermínio dos jovens, mas sim a reflexão que esses mesmos jovens fizeram de suas próprias vidas após lerem o livro. Portanto, falar e romantizar o suicídio pode ser um gatilho para que pessoas emocionalmente instáveis acabem por fazê-lo.
O principal motivo de preocupação de profissionais mais críticos a campanha se dá principalmente pela romanização por parte de algumas pessoas juntamente ao sentimento de achar que sabe como agir em uma conversa com pessoas tendentes ao suicídio. “Na teoria, profissionais como psicólogos e psiquiatras são mais capacitados. Mas, a grande verdade é que nem mesmo isso torna alguém capaz de lidar com pessoas com esse tipo de comportamento, quiçá pessoas sem preparo algum”, pondera Nasser.
O maior ato de sensibilidade e proteção que se pode fazer para alguém que está enfrentando este tipo de situação, jamais será substituir o papel de um profissional da área. O verdadeiro auxílio será quando o ajudante admitir que esse problema está longe de suas capacidades e que não cabe a ele resolver a questão, mas sim direcionar a pessoa a um profissional competente. Isso claro, não significa que não se deve escutar uma pessoa com problemas e simplesmente ignorá-la. Deve-se, sim, escutar e agradecer a pessoa por confiar em alguém, mas ter noção de que não é apenas aconselhando que esse problema irá sumir. O devido tratamento deve ser aplicado exclusivamente por um profissional.
Os caminhos a serem tomados para o redirecionamento da pessoa com problemas são diversos, desde a procura de médicos particulares, até centros públicos de atendimento, como os CAPS. O Centro de Valorização à Vida (CVV) está sempre com suas linhas abertas para conversas em momentos de crise através do número 188. Além disso, atendimentos e direcionamentos podem ser feitos a partir de qualquer médico em postinhos de saúde e hospitais públicos na rede SUS.