Câncer de pele: a doença silenciosa que afeta a população brasileira
Por: Ana Júlia Dagnoni Zanotto
No Brasil, cerca de 33% de todos os diagnósticos de câncer são de pele, segundo o Instituto Nacional do Câncer, o INCA, de 2022. A cada ano, o país registra mais de 185 mil novos casos da doença. A doença é provocada pelo crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele. Essas células se dispõem formando camadas e, de acordo com as que forem afetadas, são definidos os diferentes tipos de câncer. Os mais comuns são os carcinomas basocelulares e os espinocelulares, responsáveis por 177 mil novos casos da doença por ano. Mais raro e letal que os carcinomas, o melanoma é o tipo mais agressivo de câncer da pele e registra 8,4 mil casos anualmente.
Os casos da doença estão muito concentrados na região sul e sudeste do país, onde há maior população de pele branca, a mais afetada. Segundo o dermatologista Gustavo Moreira Amorim, quanto mais melanina a pele tem – pigmento responsável por dar cor à pele e pelos, bem como conferir proteção contra os raios ultravioletas – menos chance de desenvolver o câncer. A população descendente de alemães e europeus em geral tem em sua maioria a pele muito clara. E essa população, por sua vez, está muito presente nas regiões sul e sudeste do Brasil, onde houve um grande processo de imigração europeia.
O médico alerta que a população de pele branca deve redobrar os cuidados com a proteção solar. “O principal fator de risco que se tem pro câncer da pele é, sem sombra de dúvida, a queimadura solar. Então a exposição solar desprotegida que gera queimadura solar deve ser evitada. Não proteger a pele na infância, na adolescência, é o que vai fazer aumentar o risco de câncer da pele no futuro. E essa exposição solar continuada, desprotegida, vai aumentar o risco do câncer da pele mais comum que se tem na população, que é o carcinoma basocelular e na sequência o carcinoma espinocelular.”- diz ele.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, além do filtro solar, é importante usar chapéu e roupas de algodão nas atividades ao ar livre, pois eles bloqueiam a maior parte da radiação UV. Tecidos sintéticos, como o nylon, bloqueiam apenas 30%. Uma dica é evitar a exposição solar entre às dez da manhã e às quatro da tarde. Outro objeto que tem extrema importância na proteção solar são os óculos de sol, que previnem catarata e outras lesões nos olhos. Os tipos de câncer de pele são:
- Carcinoma basocelular (CBC): o mais comum dentre todos os tipos. Surge nas células basais, que se encontram na camada mais profunda da epiderme (a camada superior da pele). Tem baixa letalidade e pode ser curado em caso de detecção precoce. Aparecem mais frequentemente em regiões expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Podem se desenvolver também nas áreas não expostas, ainda que mais raramente. Em alguns casos, além da exposição ao sol, há outros fatores que desencadeiam seu surgimento. Certas manifestações do CBC podem se assemelhar a lesões não cancerígenas, como eczema ou psoríase. O tipo mais encontrado é o CBC nódulo-ulcerativo, que se traduz como uma pápula vermelha, brilhosa, com uma crosta central, que pode sangrar com facilidade.
- Carcinoma espinocelular (CEC): o segundo mais prevalente dentre todos os tipos de câncer. Manifesta-se nas células escamosas, que constituem a maior parte das camadas superiores da pele. Pode se desenvolver em todas as partes do corpo, embora seja mais comum nas áreas expostas ao sol, como orelhas, rosto, couro cabeludo, pescoço etc. A pele nessas regiões, normalmente, apresenta sinais de dano solar, como enrugamento, mudanças na pigmentação e perda de elasticidade. O CEC é duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres. Assim como outros tipos de câncer da pele, a exposição excessiva ao sol é a principal causa do CEC, mas não a única. Alguns casos da doença estão associados a feridas crônicas e cicatrizes na pele, uso de drogas anti rejeição de órgãos transplantados e exposição a certos agentes químicos ou à radiação. Normalmente, os CECs têm coloração avermelhada e se apresentam na forma de machucados ou feridas espessos e descamativos, que não cicatrizam e sangram ocasionalmente. Eles podem ter aparência similar à das verrugas.
- Melanoma: tipo menos frequente dentre todos os cânceres da pele, o melanoma tem o pior prognóstico e o mais alto índice de mortalidade. O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou preto. Porém, a “pinta” ou o “sinal”, em geral, mudam de cor, de formato ou de tamanho, e podem causar sangramento. Por isso, é importante observar a própria pele constantemente, e procurar imediatamente um dermatologista caso detecte qualquer lesão suspeita. Essas lesões podem surgir em áreas difíceis de serem visualizadas pelo paciente, embora sejam mais comuns nas pernas, em mulheres; nos troncos, nos homens; e pescoço e rosto em ambos os sexos.
Lembrando que somente um médico especializado pode diagnosticar e prescrever a opção de tratamento mais indicada para todo caso e/ou suspeita da doença.
A aposentada Florentina Vinter Koegler, “dona Tina”, como é conhecida, de 75 anos, que mora em Joinville, nunca teve o costume de utilizar o protetor solar. Ela tem a doença há 30 anos, e segundo ela, até hoje são necessárias pequenas cirurgias para retirar as feridas e o material cancerígeno. Dona Tina conta que nunca utilizou protetor solar, mas que sabe da sua importância: “É um costume que eu sei que sempre deveria ter tido, e poderia ter evitado tanto sofrimento com essa doença.”
O filtro solar deve ser no mínimo de fator proteção trinta, mas o ideal é que no verão, a época mais quente, seja de pelo menos cinquenta ou sessenta, e haja reaplicação a cada duas ou três horas. Mas e quando procurar um médico? “Talvez a maneira da gente ensinar a população para perceber e procurar atendimento, é uma ferida de pele que não cicatriza em pelo menos duas, três semanas… isso deve chamar atenção. E um outro aspecto também é o sangramento com facilidade. Ficar atento a uma pinta, um sinal de pele que passa a crescer, mudar de cor, ficar mais preto e alterar o padrão de coloração dele” – explica o doutor Guilherme.
As pessoas com histórico de câncer da pele de melanoma na família, devem frequentar um dermatologista para prevenção, pelo menos a cada seis meses. Especialmente aquelas de pele clara que não tiveram costume de proteger a pele da radiação solar ao longo dos anos. Com um tratamento preventivo e cuidados básicos é possível evitar a doença e suas complicações. O câncer de pele tem tratamento, e em muitos casos, tem cura!