Entenda os impactos do diagnóstico tardio do TDAH
A data 14 de novembro marca o Dia Nacional da Alfabetização e destaca a importância da educação
Por Luiza Rodrigues
De acordo com o estudo realizado em maio deste ano pelo Ministério da Educação (MEC), Santa Catarina é o único estado do Brasil que alcançou o nível de alfabetização ao final do segundo ano do ensino fundamental. Embora o estado seja o menos impactado, a alfabetização ainda é uma realidade distante no Brasil, principalmente quando se trata do ensino em escolas públicas com crianças com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Segundo resultados da pesquisa Alfabetiza Brasil, apenas em 2021, 56,4% dos estudantes do 2º ano do ensino fundamental não estavam alfabetizados. Os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que antes da pandemia em 2019, o percentual de não alfabetizados era menor, com 39,7%.
A especialista em neuropsicopedagogia clínica e alfabetização, Izabel Andrade, de Santa Catarina, apresentou dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção que mostram que o transtorno afeta de 3% a 5% das crianças na idade escolar. Ela explica que frequentemente os professores se desesperam na hora de ensiná-los porque não sabem como o cérebro de uma criança com TDAH funciona para o devido ensino especializado. Izabel recomenda que em caso de suspeita da condição de aprendizado, o primeiro passo é buscar um profissional especializado para diagnosticar (ou não) a criança. Para os professores, é essencial saber a forma como funciona o cérebro e o modo de aprendizagem de uma pessoa com TDAH para poder auxiliar de maneira assertiva a alfabetização e aprendizado da criança.
Andrade explica que o TDAH é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta as condições executivas, ligado às operações mentais de identificar, comparar, analisar. “É o conjunto de habilidades que são essenciais para a criança fazer escolhas, demonstrar autocontrole, regular as próprias emoções, controlar impulsos, planejar e executar. Todas essas condições estão alojadas no córtex pré-frontal, e quem tem o diagnóstico de TDAH não tem uma irrigação sanguínea adequada nesta área do cérebro.”
De acordo com a Dra.Izabel, o cérebro de uma criança com TDAH foi programado para aprender no movimento, não tem como obrigar a criança a ficar quatro horas parada assistindo uma aula sentada em uma sala fechada.
TDAH na fase adulta também impacta qualidade de vida
Miguel Rocha, empresário joinvilense, 22, teve seu diagnóstico apenas aos 20 anos. O processo deu início quando Miguel descobriu que estava com depressão e ansiedade, a partir de então ele deu sequência com tratamento psicológico e psiquiátrico e, durante o processo, recebeu o diagnóstico do TDAH.
A desatenção, dificuldade de concentração por longos períodos de tempo, sentimento de não estar presente em diálogos e hiperatividade eram aspectos marcantes de sua personalidade “Eu era uma criança muito bagunceira e agitada na escola, mas ao mesmo tempo tirava notas boas”, compartilhou. No entanto, ele creditou seus pais por criar um ambiente de autodesenvolvimento, enfatizando a responsabilidade pessoal.
Miguel também lembrou que, nas aulas que não interessavam, ele tinha grande dificuldade em se manter acordado e focado. Ele foi muito participativo nas matérias que o cativavam, mas isso, por vezes, causava atritos com seus colegas, chegando a uma petição para que ele saísse da sala, fato que trouxe certo problemas relacionados à rejeição.
Rocha não enfrentou os problemas de alfabetização ou autoestima na infância devido ao TDAH, mas na fase adulta, a condição começou a afetar sua comunicação e produtividade. Durante a infância, não houve diagnóstico do transtorno, apenas considerações superficiais sobre seu comportamento agitado e distraído, mas na fase adulta, foi confirmada a condição e pôde seguir com o tratamento adequado.
Para enfrentar seus desafios, Miguel desenvolveu estratégias, como encontrar lógica e conexões entre tópicos de diferentes áreas, em vez de simplesmente memorizá-los. Ele também creditou seus pais por criar um ambiente de autodesenvolvimento, enfatizando a responsabilidade pessoal.
O empresário enfatizou a importância sobre organização de tempo, paciência e autoconhecimento desde a infância, para que possam enfrentar as dificuldades ao longo da vida com confiança. “Ajudar as crianças a se compreenderem e respeitarem seu próprio tempo é uma lição valiosa.”