Grupos reflexivos tentam diminuir reincidência dos agressores
Quando o assunto é violência contra a mulher, é inevitável confrontar uma realidade: o maior culpado é o homem. No entanto, apenas personalizar a culpa não basta. É necessário refletir sobre as raízes desse problema. A violência de gênero é o resultado de uma junção de fatores, incluindo normas sociais, desigualdades estruturais e questões individuais de poder e controle.
“Nossa socialização é patriarcal desde cedo, as brincadeiras dos meninos estão muito mais voltadas ao vencer sexual e também para a guerra ou a violência mesmo que seja de forma inocente”, afirma o pesquisador Daniel Fauth Martins, psicólogo e mestre em Direito.
Isso não muda o fato de que autores de atos violentos devem ser responsabilizados por suas ações. No entanto, a simples punição não é suficiente para resolver o problema e, muitas vezes, nem acontece. Algumas iniciativas visam reduzir a reincidência de atos violentos. São os chamados “grupos reflexivos”, que discutem as causas da violência e oferecem suporte e intervenção para aqueles que desejam mudar. Esses projetos visam, não apenas responsabilizar os agressores por seus atos, mas também ajudá-los a entender e a modificar suas atitudes.
“O autor de violência é o homem que botou em prática o que já vivenciou ou viu, e por mais que isso não isente sua culpa, buscamos tratar, nos grupos, como foi o contato com a violência e trazer o pensamento de que ele é só mais um, mas é totalmente a respeito dele”, conta o pesquisador.
A Polícia Civil de Joinville informou que há palestras feitas por policiais civis intituladas “Papo de Homem para Homem”, nas quais são feitas reflexões a respeito de condutas que caracterizam atos violentos contra a mulher. Essas palestras incentivam a mudança de comportamento.
Em geral, os grupos buscam trazer a reflexão por meio do diálogo, abrindo espaço para que os autores de atos violentos conversem e entendam que agiram errado e que a mudança depende deles.
Bons resultados
Pesquisa realizada pelo Núcleo Margens, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), mostra que a reincidência entre homens que passaram pelos grupos é de apenas 5% contra 30% daqueles que não participaram do programa. O Brasil é o país com maior número de grupos registrados no mundo, cerca de 500, que estão sob o radar dos pesquisadores da UFSC, e a tendência é crescer ainda mais.
Na capital catarinense, há uma Delegacia de Proteção à Mulher, que atua investigando os casos de maior complexidade e de abrangência estadual, dando especial atenção à resolução dos crimes. Em Santa Catarina há solução em 100% dos casos de feminicídio.
Uma boa notícia também é que os grupos reflexivos para homens autores de violência contra mulheres estão em crescimento no estado. De acordo com dados preliminares da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica, que serão divulgados na íntegra no começo do próximo semestre, houve um aumento de 34,37% na existência dos grupos, que saltaram de 32, em 2022, para 43 atualmente.
O aumento vai ao encontro de uma das atualizações feitas na Lei Maria da Penha (Lei nº 13.984/2020), em 2020, que estabelece ao agressor a obrigatoriedade de frequentar centros de educação e de reabilitação, além de fazer acompanhamento psicossocial.
Fornecer apoio e orientação adequados a esses homens contribui para ajudá-los a mudar seus padrões de comportamento e para interromper o ciclo de violência. Embora o caminho à frente possa ser longo e desafiador, promover uma cultura de responsabilidade e respeito mútuo é um passo importante em direção a um futuro onde a violência contra a mulher seja coisa do passado.