Crônica: Debate ou Circo?
Por Beatriz da Silva de Sá Dias
Em tempos de eleição, o palco político se transforma num verdadeiro espetáculo. Os debates televisivos, que deveriam ser espaços de troca de ideias, planejamento e visão de futuro, acabam se convertendo em arenas onde o confronto e o espetáculo barato roubam a cena. A retórica fica de lado e o circo toma conta.
No fim das contas, é isso que vende. A provocação ao concorrente vale mais do que qualquer projeto social, qualquer ideia de melhoria para a cidade, qualquer discussão séria sobre os problemas que afligem a população. A audiência sobe, os cliques aumentam, e a política se torna apenas mais um episódio de uma novela trágica e cômica. Os candidatos, ao invés de falarem de suas propostas, discutem como personagens de uma novela ruim, dispostos a destruir não apenas a reputação do outro, mas também a própria dignidade.
O debate que deveria esclarecer propostas aos eleitores termina com mais um episódio vergonhoso da longa lista de espetáculos políticos no Brasil. Ali, em frente a milhões de telespectadores, um retrato desumano do que se tornou a política: não um campo de ideias, mas de ofensas, ameaças e violência.
O desatino cresce no mundo todo, mas aqui parece tomar proporções absurdas, fruto de uma desconexão cada vez maior entre os políticos e a realidade do cidadão comum. Talvez seja esse o verdadeiro abismo: os candidatos, em sua ânsia de lacrar e polarizar, ignoram as urgências que batem à porta de cada brasileiro. Em vez de discutir a falta de segurança, educação e saúde, preferem lançar-se em uma guerra de narrativas grotescas que apenas alimentam o circo virtual das redes sociais.
Mas a pergunta que fica no ar é se esse é realmente o fundo do poço da política ou apenas uma estratégia bem calculada. Será que esses candidatos estão conscientes de que a melhor maneira de se destacar em um cenário cada vez mais competitivo é se afundar na lama? Talvez, para alguns, o choque e a controvérsia sejam as únicas ferramentas que restaram para chamar a atenção de uma população cansada e descrente. O marketing político moderno parece ter encontrado nas redes sociais um campo fértil para o extremismo, onde likes e compartilhamentos valem mais do que propostas concretas.
Em um país onde tudo acontece rápido demais — das redes sociais às manchetes escandalosas — a política é, muitas vezes, relegada ao último plano. Na verdade, ela só surge como uma lembrança incômoda nas vésperas das eleições, quando, de repente, nossas opiniões esbarram nas opiniões dos outros e, como que por mágica, percebemos que os outros também têm voz. E é nesse choque de vontades que nos damos conta de que, mesmo sem querer, estamos todos jogando o mesmo jogo.
A política, que deveria ser um espaço de debate e construção, torna-se uma guerra de trincheiras, onde cada lado defende sua bandeira como se estivesse em uma batalha final. Não há mais diálogo; há gritos, há memes que zombam da ignorância alheia e silêncios que cortam relações familiares.
Cada brasileiro carrega sua esperança política. Uns a abraçam com convicção, acreditando que sua participação pode, de fato, mudar alguma coisa. Outros preferem apertar a mão da esperança, como quem firma um acordo tímido, participando mais por obrigação do que por crença genuína. E há aqueles que dizem ter esperança, mas sequer sabem o que ela significa; repetem palavras de ordem, mas não olham com profundidade para o que está em jogo.
A verdade é que a política, mesmo sendo um direito e um dever, é vista como um fardo. Muitos preferem gastar suas energias postando memes, rindo do caos, porque, afinal, é mais fácil zombar do que se engajar. É mais fácil rir do que se informar, do que conhecer quem irá falar por nós durante quatro anos ou mais. E assim, o ciclo continua. Para muitos a política só é lembrada nos períodos de eleição.
No entanto, há uma esperança que não se dispersa, uma faísca que, mesmo em meio ao radicalismo, pode acender algo maior. Ela reside naqueles que, apesar de tudo, ainda acreditam no poder do diálogo, na força do voto consciente, na importância de conhecer e escolher seus representantes com responsabilidade. Talvez seja uma minoria. Talvez sejam apenas sussurros em meio ao caos. Mas são esses sussurros que podem, um dia, se tornar o grito de mudança que tanto almejamos.
Porque, no fim das contas, a política não é apenas sobre os políticos e seus eleitores radicais. Ela é sobre todos nós, sobre o que queremos para o futuro. E essa decisão, por mais difícil e entediante que pareça, está sempre em nossas mãos.
O povo brasileiro, esse tribunal severo e soberano, pode, em seu julgamento silencioso demais ou às vezes escandaloso de menos, colocar um fim a essa escalada de ódio. Ou, quem sabe, optará por perpetuar o caos, atraído pela sedução do escândalo e pela promessa vazia dos que gritam mais alto em busca de alguns anos na cadeira do circo de politicagem brasileira.