O impacto da cultura do imediatismo
Como as redes sociais alteram o comportamento dos usuários
Anna Bibow
A comunicação imediata e o compartilhamento ágil de informações têm sido cruciais para o desenvolvimento da sociedade, desde a invenção do telégrafo até a era digital. Essa situação leva a busca incessante por gratificação instantânea, impulsionada por redes sociais como TikTok e Instagram. O constante bombardeio de informações rápidas e a pressão por resultados imediatos têm contribuído para um aumento significativo de ansiedade e outros transtornos psicológicos, evidenciando uma preocupação crescente com os efeitos adversos desse fenômeno digital.
As plataformas digitais, ao priorizarem conteúdos cada vez mais breves e atraentes, acabam por prejudicar até mesmo os criadores de conteúdo. A radialista e produtora digital Camila Xavier afirma que, para manter o interesse do público, os criadores têm apenas 15 segundos para capturar a atenção. “Com as novas plataformas, o produtor de conteúdo teve que se adaptar a esse formato acelerado”, destaca Xavier.
De acordo com a psicopedagoga Andreza Otto Soubhia, o imediatismo se pauta em fazer com que algo aconteça na hora que o indivíduo queira, sem pensar nas consequências, como se fosse um vício pelas telas. Definições do dicionário exemplificam o termo como “impaciência”. E é dessa forma que os problemas psicológicos podem começar a surgir. “Ao serem contrariados, ou seja, quando algo não acontecer de imediato, gera uma frustração nas pessoas que, por sua vez, manifestam pensamentos e sentimentos depressivos, comportamentos descontrolados e desestabilidade emocional se não estiverem bem amparadas”, diz Andreza.
O TikTok e a ilusão da vida real
Durante a pandemia da Covid-19, popularizou-se mundialmente o TikTok, aplicativo de vídeos curtos, de até 1 minuto, que se tornou o mais baixado nos últimos dois anos. Uma pesquisa realizada pelo próprio app mostrou que havia 1 bilhão de usuários ativos em 2021, e apenas no Brasil, de acordo com o DataReport, o app alcançou 74,1 milhões de usuários ativos no início de 2023.
A psicopedagoga alega que a pandemia por si só gerou uma ansiedade maior, pois a pessoa imediatista perdeu o controle da situação. As pessoas não podiam sair e obter tudo o que estavam acostumadas, a falta de comunicação com outras pessoas causou a introspecção e isolamento total. Dessa forma, as redes sociais auxiliaram a obter notícias em tempo real, estar em contato com outros, mas, de forma descontrolada, as redes tomaram a vida das pessoas, intensificando o desejo de querer ter uma vida igual a das pessoas seguidas nas redes sociais.
“O imediatismo impacta diretamente na minha vida, inclusive me deixa ansiosa. A gente acaba desenvolvendo uma ansiedade por estar acostumado com as coisas de imediato, o que nos faz muito mal, pois a vida real não é assim, e nós não controlamos tudo”, conta a acadêmica Ana Júlia Zanotto, de 19 anos.
A professora de inglês Adriana Murara relata os desafios de fixar a atenção de seus alunos em aula. “As redes sociais estão condicionando os cérebros a não esperar. Um anúncio de 30 segundos, por exemplo, dura uma eternidade. Além disso, não conseguimos nos concentrar por muito tempo no mesmo assunto sem perder o interesse e o foco”. Para a professora, as pessoas estão cada vez mais condicionadas a focar em informações curtas, por um período curto de tempo e já mudar de informação. Basicamente é o que acontece quando o internauta perde horas assistindo pequenos vídeos no TikTok, por exemplo.
Um estudo publicado na revista científica NeuroImage explica o motivo dos internautas fixarem tanto sua atenção na plataforma. Os pesquisadores perceberam que áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa são ativadas pelos vídeos da rede, produzindo de forma rápida uma sensação de prazer e satisfação no organismo. Dessa forma, o cérebro se “acostuma” a receber uma grande quantidade de dopamina em um curto período de tempo, por isso, passar uma hora assistindo a uma aula ou até mesmo a um filme, parece uma eternidade.