Geração Z busca espaço na política e enfrenta desafios
A maior presença da juventude nas urnas e nas redes sociais põe conquista de representatividade à prova
Por Júlia Balsanelli
A participação dos eleitores da geração Z nas eleições municipais aumentou 78% em 2024, em comparação com o pleito de 2020. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aproximadamente 1.836.081 jovens eleitores foram às urnas no último dia 6 para exercer o direito de voto. Nos últimos anos, o engajamento político da juventude, em especial da geração Z– nascidos entre 1995 e 2010– , tem mostrado força, impulsionado pelo uso em excesso das redes sociais e por um desejo crescente de transformação. Segundo o relatório “A nova dinâmica da influência”, publicado pela Edelman Data & Intelligence, 70% dos jovens desta geração afirmam estar envolvidos em uma causa social ou política. Os jovens estão não apenas observando, mas também se envolvendo ativamente, buscando representar suas próprias necessidades e criar um impacto real no cenário atual. Guilherme Mertens, 21, lidera a juventude de um partido e vê na política uma forma de provocar mudanças reais. “Hoje vemos muitas pessoas reclamando dos políticos, porém não fazem nada para fazer diferente. A partir disso, vi a importância de acompanhar de perto as decisões que influenciam não só a minha vida, mas a sociedade como um todo”, diz o jovem.
Além disso, o estudante acredita que a participação jovem vem crescendo e ainda há muito espaço para ampliação desse envolvimento. Para ele, as eleições futuras serão marcadas por uma maior presença de jovens candidatos, o que pode trazer dinamismo e inovação ao processo político. Contudo, Guilherme aponta o engajamento como um dos principais desafios de lideranças jovens, pois nem sempre é fácil mobilizar os mais novos a participar das discussões políticas. Em Santa Catarina, 356 jovens, entre 18 e 24 anos, se candidataram nas últimas eleições municipais, o que corresponde a cerca de 2% do total de candidatos. Larissa Stephanie, 23, professora e candidata a vereadora na última eleição, traz uma perspectiva crítica sobre a representatividade jovem na política. Ela pontua que ainda predominam homens mais velhos e de classes altas nos espaços de poder. “A disputa de ideias na política é importante. Eu quero fazer uma política que, de fato, seja representativa”, afirma ela, que defende uma atuação mais conectada com as necessidades das pessoas comuns e as realidades locais, como nas reuniões de bairro e manifestações. A professora também discute o preconceito que enfrenta por ser jovem. “A minha idade tem sido uma das maiores dificuldades, um dos maiores preconceitos que tenho sofrido”, relata. Mesmo assim, ela ressalta que a juventude precisa se empoderar e reconhecer sua capacidade de influenciar nas decisões que afetam diretamente suas vidas. As redes sociais, segundo Larissa, têm sido um canal poderoso para conectar e engajar jovens, aproximando-os das discussões políticas de maneira eficaz.
O dilema entre superficialidade e engajamento político
A geração que nasceu com um aparelho em mãos utiliza esta ferramenta para tudo, incluindo na política, em que a usa para comunicar e dar voz aos planos e ideias.
João Francisco Hack Kamradt, doutor em Sociologia e Ciência Política, reflete sobre o impacto transformador das redes sociais no cenário político. Segundo ele, essas plataformas mudaram a forma de fazer política e promoveram superficialidade nos debates. “As redes sociais são eficazes em criar engajamento político, mas, ao mesmo tempo, criam uma superficialização do debate, pois buscam confronto e lacração”, explica.
Ele ainda questiona se a política deve ser moldada para atrair o público que consome conteúdos rápidos e superficiais, como os do TikTok. “A política é complexa por natureza. Ela demanda tempo, paciência e muita capacidade de visão”, reforça ele, alertando para os desafios que a participação política simplificada pode trazer. A participação da Geração Z na política aponta para uma nova era de participação jovem, marcada pela busca por representatividade. Com uma visão crítica sobre o cenário atual, esses jovens trazem a expectativa de renovação, mas também enfrentam obstáculos, como o preconceito geracional e a superficialização dos debates. O futuro da política pode ser moldado por essas novas vozes, que, apesar das dificuldades, continuam a lutar por um espaço de maior relevância e impacto, desafiando as estruturas tradicionais e reinventando as formas de comprometimento cívico.