Geração Z transforma sexualidade e redefine relacionamentos
Jovens de 18 a 24 anos praticam menos sexo e enfrentam novos desafios emocionais e sociais
Por Rodrigo Santana
Um fenômeno crescente tem chamado a atenção de estudiosos e profissionais de saúde: o apagão sexual na Geração Z, que engloba jovens nascidos entre 1997 e 2012. Ao contrário de gerações anteriores, essa faixa etária demonstra um distanciamento significativo do sexo, refletindo uma diminuição no interesse e na prática sexual.
O termo “apagão sexual” refere-se à queda na frequência de relações sexuais, à diminuição do desejo e ao aumento do número de jovens que se identificam como assexuados ou optam por uma vida sexual mais moderada. Um estudo recente da Universidade de Yale, liderado pela pesquisadora Kyung Mi Lee, revela que os membros da Geração Z se envolvem em menos relacionamentos sexuais e um número crescente se identifica como assexual ou busca outras formas de prazer.
Para muitos da Geração Z, ter uma vida sexual satisfatória não é mais visto como uma prioridade. Eles concentram suas energias em áreas como carreira, saúde mental e desenvolvimento pessoal. A estudante Isabela (nome fictício), 19, observa que, enquanto para a geração de sua mãe o sexo era um tabu, nas gerações seguintes, como a dos millennials, houve uma maior liberdade. “Apesar dessa liberdade, a atitude em relação ao sexo ainda é influenciada por comportamentos conservadores, que eu descreveria como ‘quase de freira'”, comenta.
Isabela nota um padrão nos relacionamentos de sua irmã de 28 anos, que participa de relacionamentos mais casuais, mas com certo comprometimento. Sua irmã teve sua primeira experiência sexual aos 20 anos, sempre com pessoas que já conhecia. Para Isabela, essa abordagem é casual, mas ainda carrega um fundo de afeto. Ela, no entanto, ainda não teve nenhuma experiência sexual.
Sobre aplicativos de namoro, Isabela compartilha sua experiência negativa com o Tinder, que descreve como traumática devido à abordagem de muitos homens, que costumam iniciar conversas com cantadas desrespeitosas. “Muitas vezes, parece que eles só buscam atenção ou sexo casual, sem o desejo de estabelecer uma conexão mais profunda”, lamenta.
Em contraste, Mateus (nome fictício), 25, publicitário e fotógrafo, acredita que pessoas de gerações anteriores estão mais maduras em relação à vida sexual. Para ele, como jovem gay, o sexo surgiu mais tarde devido à repressão familiar. Mateus vê a falta de interesse sexual como uma escolha consciente ou uma mudança de prioridades, mas que pode gerar consequências para a saúde mental, levando à sensação de isolamento emocional.
“Nascido no interior, nunca estive em um relacionamento estável e me sinto inseguro quanto à minha aparência”, revela. Embora use aplicativos de relacionamento, ele confessa que está em um período de desintoxicação. “Usava aplicativos como o Grindr mais para saber quem estava ao meu redor do que para colocar em prática meus desejos”, explica.
Diferentemente de Isabela, Mateus compreende sua vida sexual de maneira mais definida, já tendo várias experiências e entendendo melhor seus desejos e parafilias.
Perspectiva psicológica e implicações emocionais
A psicóloga e gestalt-terapeuta Suane Souza analisa as complexidades da Geração Z, especialmente em relação à sexualidade, ao lidar com pacientes em terapia. Ela destaca que muitos jovens não buscam experimentar ou sair de suas zonas de conforto, representando uma resistência às normatividades sociais, como a heteronormatividade e a monogamia compulsória. “Quando você não experimenta, não descobre o que realmente gosta, e acaba sendo dominado pela normatividade”, afirma.
Suane observa que a visão de gerações anteriores sobre o conservadorismo da Geração Z pode ser, na verdade, uma adaptação mais passiva às normas sociais. Ela argumenta que a fluidez sexual, frequentemente associada a essa geração, não é tão predominante quanto se discute. “As pessoas estão mais preocupadas em se identificar com rótulos, como demisexual ou sapiossexual, do que em vivenciar suas sexualidades de forma mais aberta”, explica.
Esse foco na identificação, segundo Suane, está ligado à influência da internet e das redes sociais, onde muitos tentam definir sua sexualidade de forma autocentrada, distantes das experiências diretas. Em relação aos aplicativos de namoro, ela menciona a discrepância entre a persona virtual e a realidade, em que a “performatividade” se torna comum. “As pessoas criam uma imagem de si mesmas que não conseguem sustentar pessoalmente. Isso pode ser uma forma de autoproteção, já que as interações virtuais são mais controláveis e seguras”, ressalta.
Suane também destaca que a aceleração das relações digitais reflete uma tendência social onde tudo precisa ser mais rápido, incluindo as interações sexuais. A pandemia, segundo a psicóloga, intensificou esse processo. “Durante o isolamento, as interações virtuais aumentaram. A pandemia acelerou a virtualização das relações e trocas sexuais, que já era uma tendência, mas se intensificou durante o isolamento social”, conclui.