Rádio se reinventa diante a ascensão da inteligência artificial
Enquanto novas ferramentas surgem, conexão humana e confiança nos locutores permanecem fundamentais
Por Anna Bibow
O rádio está passando por transformações significativas com a ascensão da inteligência artificial (IA). Essa tecnologia redefine não apenas como as emissoras operam, mas também a experiência do ouvinte. A empresa norte-americana Futuri lançou, em 2023, a RadioGPT, a primeira plataforma de rádio do mundo alimentada por IA. O recurso usa a mesma tecnologia do ChatGPT.
A inteligência artificial tem revolucionado a maneira como interagimos com as máquinas. Uma dessas inovações, como mencionado, é a capacidade de criar voz de locutor com IA, uma tecnologia emergente que tem o potencial de revolucionar a relação do público com o rádio. Segundo o diretor regional da NDTV, Silvano Silva, “você até pode colocar inteligência artificial para fazer rádio, porém, ela vai ser automatizada e voltada à programação musical”. A geração de voz de locutor IA envolve o uso de tecnologias avançadas, incluindo síntese de fala e técnicas de um determinado locutor. O texto é convertido em áudio, enquanto o sistema aprende e imita a entonação, ritmo e ênfase únicos de um locutor específico.
De acordo com o Kantar Ibope Media, os brasileiros dedicam 3h55min por dia ouvindo rádio tradicional. Da audiência, 65% dizem preferir o meio de comunicação por ele trazer notícias sobre suas cidades e, segundo o Inside Áudio 2024, 58% dos ouvintes confiam para se manterem informados. Para Juliana Jeremias Galvão, 43, empreendedora, o aparelho é sua companhia diária, “De manhã, quando eu acordo, já vou direto ligar o meu radinho e escutar as notícias do dia”. Dessa forma, entende-se que, mesmo com os novos avanços tecnológicos, o rádio e o jornalista ainda têm credibilidade na sociedade.
Outro ponto importante é a credibilidade do meio, reforçada pela percepção de que as informações veiculadas não são falsas, conforme destacado por 50% dos consumidores da pesquisa do IBOPE. O diretor do grupo NDTV Joinville, Silvano Silva, diz que “os locutores são pessoas conhecidas pelos moradores, então o rádio tem esse diferencial exatamente por isso. Ele não é uma pessoa escondida atrás de um endereço IP na internet e sim uma pessoa que está ali. Os ouvintes sabem o endereço e isso faz a diferença na credibilidade do veículo e, obviamente, a verificação das informações é fator primordial para que isso continue acontecendo”.
Conexão além da notícia
O rádio se expande através da sua capacidade de unir o melhor de dois mundos: a credibilidade e o companheirismo do dia com o dinamismo do online. Por isso, Fabrício Vilela, locutor da NDFM e radialista, afirma que seu papel primordial é fazer a diferença na vida de seus ouvintes. “Eu prezo por alegrar o dia da outra pessoa. De repente, algo que o ouvinte precisa escutar está através da música, de um recado ou de uma informação”.
Por conta dessa conexão e companheirismo, Juliana Jeremias Galvão, 43, empreendedora, prefere ouvir rádio a ouvir uma plataforma de streaming. “Na inteligência artificial a gente sente falta da emoção, da empatia, você não sente a pessoa. Já quando você conhece o locutor por trás do microfone, você sente como ele se expressa, o carisma e entende sobre o que ele está falando e absorve o sentimento que ele passa”.
A combinação das novas ferramentas digitais expande as possibilidades de interação e o alcance, apontando para um futuro promissor diante de novas tecnologias. Sua credibilidade e proximidade com o público permanecem sólidas e tudo indica que continuarão sendo essenciais para manter o rádio relevante em um mundo cada vez mais digital.