Do Norte ao Sul: uma jornada de sabores e sonhos amazônicos em Joinville
Por Beatriz de Sá
Quando cheguei à porta do restaurante Sabores do Norte, na rua Marquês de Maricá 76, no bairro Vila Nova em Joinville, o aroma que saía de lá me abraçou de imediato. Era um cheiro familiar, de temperos e especiarias típicas, que me transportou por um breve instante para Belém, minha terra natal. O lugar parecia um pequeno refúgio da Amazônia, bem no coração de Santa Catarina, com suas paredes decoradas por quadros que celebravam o dialeto nortista, prateleiras repletas de potes de tucupi, especiarias e pequenas lembranças da nossa cultura.
A dona do restaurante chamada Beatriz, estava atrás do balcão quando me viu entrar. Seu sorriso já mostrava o calor genuíno que os paraenses sabem oferecer. Ela falava com uma tranquilidade contagiante, explicando o cardápio do dia a um trio de senhoras recém-chegadas à cidade. Ao me notar, parou por um momento e me cumprimentou com um “Seja bem-vinda!” que soou como música para meus ouvidos. Eu, que também sou paraense e me chamo Beatriz, não pude deixar de sorrir diante da coincidência. Ela riu, ajeitou os cabelos e me convidou a sentar à mesa, como se já nos conhecêssemos há muito tempo. O destino, com seu jeito misterioso, nos uniu aqui, em Joinville, em busca de recomeços e novos sonhos.
Beatriz, como tantas outras histórias de quem vem de longe, carrega com ela um passado de desafios e escolhas difíceis. Ela chegou a Joinville há quase oito anos, buscando melhores oportunidades para a família. A vida no Sul não era fácil, especialmente porque seu trabalho tomava muito do seu tempo, e os filhos, que estavam crescendo, precisavam de sua presença. Foi então que ela teve a ideia de usar o que sabia fazer de melhor: cozinhar. Ela começou com um delivery de pratos típicos do Norte, aos finais de semana, com o coração voltado para a sua família e para a saudade de casa. “Era uma forma de estar perto de casa e, ao mesmo tempo, apresentar um pedacinho do nosso mundo para o Sul,” ela conta com um sorriso nostálgico.
O sucesso foi tão grande que logo não cabia mais apenas na cozinha de sua casa. O boca a boca fez o restaurante crescer, e, com isso, surgiu o desejo de um ponto físico. Em junho de 2024, Beatriz e sua equipe participaram de uma festa junina em Joinville, e foi ali que ela percebeu que seu negócio era mais do que comida. Era um pedaço da cultura amazônica sendo compartilhado. “A comida do Pará não é só tempero. Ela carrega histórias, raízes, e eu queria que as pessoas sentissem isso,” diz ela, com os olhos brilhando de orgulho.
Em agosto de 2024, o Sabores do Norte ganhou sua própria casa, e hoje, aqui estou, observando com admiração a maneira como Beatriz fala do seu restaurante, com tanto amor e cuidado. Ela nos convida para saborear a verdadeira culinária paraense, com pratos como o vatapá, maniçoba, tacacá e açaí, que se tornaram os favoritos de muitos que ainda se encantam com os sabores exóticos. “É um desafio trazer tudo o que a gente precisa aqui. No Pará, é fácil encontrar tudo, mas aqui, a logística é um obstáculo. Mas não podemos abrir mão do sabor original. A qualidade vem de cada ingrediente, e eu não abro mão disso,” diz com firmeza, com um brilho nos olhos que só as grandes histórias de luta podem ter.
Ao redor, um ambiente acolhedor, e uma cliente entra, sorridente, indo direto até a geladeira pegar o famoso “chopp” – que em outros lugares pode ser chamado de sacolé, chup chup, dindin, entre outras muitas opções de nomes. Ela é vizinha de loja de Beatriz, uma cliente fiel que encontrou ali um canto de amizade. O restaurante, com seu cardápio típico, tornou-se um local de acolhimento não apenas para os paraenses, mas para qualquer pessoa que tenha o coração aberto para a cultura do Norte.
Conversando com Beatriz, perguntei sobre o impacto que o restaurante teve em sua vida e em sua família. Ela suspirou, com os olhos um pouco marejados, e me contou que o sucesso do Sabores do Norte foi, antes de tudo, um grande ato de união familiar. No início, o marido tinha medo de arriscar, mas ela foi firme em sua ideia e conseguiu convencê-lo. “Juntamos tudo o que tínhamos e seguimos em frente. Cada passo foi dado com muito medo, mas também com muita fé,” ela diz, com a voz carregada de emoção. A família, que sempre esteve ao seu lado, se uniu no projeto, e hoje, todos compartilham dessa vitória diária. “Agora pensamos no futuro, em expandir. Quem sabe, levar os sabores do Norte para mais cidades de Santa Catarina,” ela afirma, com os olhos fixos no horizonte, como quem já visualiza o próximo passo.
“Eu quero que as pessoas sintam a Amazônia aqui, em cada prato, em cada detalhe. O restaurante não é só comida, é uma experiência. É um pedacinho da nossa história compartilhada com quem vier até aqui,” diz Beatriz, com um sorriso que transborda de carinho. Ela conta com a ajuda de sua família e de fornecedores que se tornaram parceiros fiéis para manter o sabor autêntico e a qualidade da comida.
Na frente do restaurante, uma pequena frase escrita em uma placa resume a missão do Sabores do Norte: “Um Pedacinho do Pará na sua mesa.” Uma frase simples, mas que carrega todo o acolhimento que Beatriz e sua equipe querem oferecer a cada um que entra ali. “Trazer de volta a saudade de casa para a mesa, esse é o nosso objetivo,” ela diz com um brilho no olhar.
Ao me despedir, com um sorriso no rosto e o coração aquecido, Beatriz me convida para sua festa de comemoração de um ano de Sabores do Norte. “Vem, mana, vai ser legal!” diz ela, com aquele tom de voz que só quem é paraense reconhece, aquele tom que mistura amizade e acolhimento. E assim, com a risada leve e cheia de gentilezas, me despeço de Beatriz, sabendo que, como ela, também carrego um pedacinho do Norte em mim. Mesmo estando tão distante, o sabor e a energia da nossa terra estão sempre presentes.