Joinville enfrenta desafios e busca fortalecer o cinema local
Cineasta aponta a falta de espaços e recursos para o desenvolvimento do audiovisual joinvilense
Por Maria Eduarda Alecrim
Enquanto Joinville é amplamente reconhecida como a cidade da dança e das flores, o cinema local luta por reconhecimento. Apesar do talento dos cineastas e das iniciativas crescentes na área, os desafios para produção, exibição e alcance do público ainda são uma realidade, fortemente influenciada pelas políticas culturais.
Para a cineasta Heloisa Mazzuchetti, o cinema joinvilense enfrenta barreiras que limitam a execução e exibição de produções locais. “Hoje, a gente não tem muitos lugares para exibir os nossos projetos em Joinville. O que acontece muito é enviar para festivais fora da cidade, mas, localmente, os espaços ainda são escassos”, explica. Segundo ela, iniciativas acadêmicas, como as exibições realizadas pelas faculdades que oferecem o curso de Cinema, ajudam a movimentar a cena, mas ainda não suprem a demanda por festivais e eventos específicos na cidade.
Os desafios não se restringem à exibição. A produção de filmes também enfrenta dificuldades ligadas à falta de recursos. Heloísa lembra de seu último projeto, realizado com o apoio de parcerias e uma campanha para arrecadação de fundos. “Só a equipe técnica tinha 20 pessoas. No mínimo, o que eu deveria dar seria alimentação, já que todos estavam trabalhando por amor à arte”, conta. Ela acredita que, com maior acesso a financiamentos, seria possível explorar melhor o potencial criativo das produções.
Impacto das políticas culturais no cinema local
Apesar das limitações, Heloísa reconhece o impacto positivo de políticas culturais como os editais de incentivo. “Hoje, vemos muita gente enviando projetos para editais. Antes, isso não acontecia, e até sobrava verba porque não havia propostas suficientes”, afirma. Ela reforça a importância de iniciativas que garantem recursos não apenas para a produção, mas para a circulação dos filmes: “Existem editais que destinam verbas específicas para a distribuição, o que ajuda muito a levar as produções ao público.” No entanto, segundo Heloísa, o cinema local ainda opera em uma espécie de “bolha”. “Poucas pessoas sabem que está sendo feito cinema em Joinville. A cidade precisa de mais atenção e reconhecimento nessa área. Não somos apenas a cidade da dança ou das bicicletas, temos muito mais a oferecer”, conclui.
O audiovisual no cinema joinvilense
Fahya Kury Cassins, sócia e diretora de uma produtora em Joinville, compartilha sua perspectiva sobre o papel de ter uma produtora no desenvolvimento do cinema em Joinville. Desde sua fundação, a produtora tem se destacado ao apresentar novas histórias ao público e promover projetos de qualificação em cinema e audiovisual. Entre suas contribuições ao cinema local, estão a geração de trabalho e renda, a exibição de produções e a formação de interessados na área.A produtora tem obtido sucesso na captação de recursos públicos e privados para viabilizar seus projetos. Fahya ressalta que a Oficina Produções utiliza recursos municipais, estaduais e federais, inclusive via mecenato — modalidade que permite a participação da iniciativa privada por meio de isenção de impostos. Além disso, não hesitam em investir recursos próprios para garantir a realização de suas produções.
Impacto das políticas culturais
Para Fahya, as políticas culturais são essenciais para o desenvolvimento do cinema local. Segundo ela, “no mundo inteiro o cinema só existe com investimento de políticas culturais e econômicas para a produção. Toda verba investida em cinema retorna para a sociedade de diversas formas”. Porém, ela critica a burocracia nos editais municipais, que não se adequaram ao decreto federal de 2024, e ressalta que as barreiras administrativas dificultam tanto a produção quanto a exibição. A falta de infraestrutura também é uma limitação: “não temos nenhuma sala de cinema pública, não temos espaços culturais equipados para exibições e quase não há investimento municipal nos espaços culturais já existentes”.
Fahya observa que o mercado local ainda carece de opções para exibição de filmes produzidos em Joinville, especialmente fora das salas comerciais. Contudo, fora da cidade, as produções têm sido bem recebidas. Apesar das limitações, ela relata experiências positivas em exibições locais, como a estreia realizada na Escola Municipal Professor Reinaldo Pedro de França, no Morro do Amaral.
Perspectivas para o futuro
Ao refletir sobre o futuro do cinema em Joinville, Fahya aponta três pilares essenciais: qualificação da mão de obra, estrutura e investimentos. Sem esses elementos, o crescimento do setor estará comprometido, mesmo com iniciativas de sucesso, como o filme Gritos do Sul (2022), que ganhou projeção nacional. “Após o boom, corremos o risco de ver muitas pessoas abandonarem a área e até mesmo a cidade em busca de melhores oportunidades”, alerta.