
Homem com H – Chove no molhado?
Resenha crítica por Guilherme Beck Scolari
Ney Matogrosso é um dos maiores símbolos da música nacional. Seu estilo animalesco e ao mesmo tempo andrógino fascina gerações há décadas. Agora, em 2025, a lenda recebe um longa semi-biográfico em sua homenagem, que não busca necessariamente entender ou dar respostas sobre quem é Ney, mas sim fazer o público sentir um pouco de como ele vive e viveu.
Atualmente, as duas vertentes de biografias cinematográficas mais populares são a “formatação Wikipédia”, que salienta grandes feitos e momentos-chave na carreira do músico, ou (e minha preferida), o que gosto de chamar de “formatação interna”, produções mais preocupadas em transmitir o que o artista passou e sentiu em seu lado mais íntimo durante a vida, deixando um pouco de lado a relevância do show X ou do momento Y em favor dessa proposta mais pessoal.
Felizmente, Homem com H brilha ao não se limitar a momentos específicos da carreira, entregando uma narrativa envolvente que conquista o público pela íntima conexão criada com seu protagonista. Não vá assistir a Homem com H esperando descobrir os maiores marcos da carreira de Ney, dados sobre sua fortuna ou outras informações pseudo-relevantes como o mês de lançamento das músicas e álbuns. O objetivo do diretor Esmir Filho vai além e é muito claro: Homem com H quer trazer à tona todo o sentimento de Ney Matogrosso — seus desejos, vontades e instintos. Dessa forma, o diretor consegue transpor com sucesso toda a inspiração e o estilo do cantor para as telas, contrastando o lado mais animalesco das performances com o lado íntimo e humano do artista.
Jesuíta Barbosa está brilhante como Ney Matogrosso. Sua performance apenas cresce ao longo do longa, deixando claro que sua atuação vai muito além de uma simples imitação. Ele cria sua própria interpretação de Ney e nos convida a acompanhá-lo com uma entrega impressionante. Seu comprometimento com a linguagem corporal, trejeitos e voz merece todo o reconhecimento do mundo! Se Rami Malek levou um Oscar por Bohemian Rhapsody, Jesuíta Barbosa merece muito mais!
Dito isso, os triunfos do longa não param por aí. Com uma recriação de época impecável, um excelente trabalho sonoro e visuais inventivos, Homem com H entrega um pacote audiovisual completo. Destaco uma cena no meio do longa que emula um plano-sequência com troca de atores e composições dignas de Edgar Wright.
Toda a construção proporcionada pelo longa ao trabalhar a ousadia de ser único é realmente inspiradora, ainda que exista uma dose de clichês e algumas cenas se estendam um pouco mais do que o necessário — nada disso, no entanto, tira o mérito da obra.
Portanto, não! Homem com H não chove no molhado. Ele traz uma vertente moderna para as cinebiografias nacionais e encanta com uma excelente narrativa recheada de atuações excepcionais e muita música boa. Digo, sem dúvida, que para os fãs de longa data do artista, um prato cheio foi servido — fazendo jus ao nome e à carreira de Ney Matogrosso em um grande filme