
Frozen: The Broadway Musical
Resenha crítica por Guilherme Beck Scolari
Recentemente tive o tremendo prazer de prestigiar as superproduções musicais “wicked” e “meninas malvadas” ao vivo em São Paulo. Foi a primeira vez em meus 20 anos que assisti a musicais de tamanha escala e investimento. A experiência foi indubitavelmente de tirar o fôlego – pois ver performances ao vivo de atores tão profissionais e bem dirigidos, assim como trocas de figurino cirurgicamente precisas e cenários dinâmicos construídos com absoluta perfeição. Dito isso, para conseguir assistir as peças, houve um tremendo planejamento de horários e verba – e caso deseje repetir a dose, terei de fazer todo esse plano mais uma vez.
Assim, as gravações teatrais feitas de forma profissional como Hamilton e Cats se tornam excelentes ferramentas de democratização e preservação do teatro – ainda que não transmitam em sua totalidade a experiência de se assistir ao vivo. Nesse contexto, a Disney adicionou em seu catálogo de streaming a versão da Broadway de um de seus maiores sucessos dos últimos anos: Frozen, aqui em sua versão Broadway.
Em aspectos técnicos, a gravação da peça se assemelha muito ao feito em “Hamilton”, utilizando de planos mais abertos para transmitir o escopo dos cenários e números musicais e ângulos mais intimistas ao realçar a performance facial dos atores. De forma geral, a direção agrada – ainda que os ângulos que mostram a plateia em meio a peça tenha resultado em uma desnecessária quebra de imersão. No mais, o trabalho é inegavelmente bem feito, oferecendo o melhor que a tecnologia de som e áudio podem comprar (dito isso, uma versão gravada para realidade virtual poderia ser um grande avanço na preservação e maior imersão de performances teatrais, assim como um ótimo uso para a tecnologia – aumentando a acessibilidade e democratizando o acesso – ainda que óculos desse tipo possuam um alto valor de mercado).
Em relação ao musical, a maior parte das músicas já consagradas pelo filme de 2013 estão aqui presentes. O grande destaque continua com “Let it go”, que finaliza o primeiro ato da peça com uma performance digníssima. Além disso, novas músicas originais foram escritas para a versão teatral – mas, infelizmente, não adicionam muito a experiência, com melodias que pouco empolgam e letras que são, em geral, sem forte inspiração. Os fãs mais assíduos devem gostar das adições musicais, por darem um pouco mais de destaque para alguns personagens secundários como Hans e Oaken – embora não tenham energia o suficiente para ficar a longo prazo do público.
Embora certas escolhas de elenco não tenham sido minhas favoritas, muito pela indiferença à fidedignidade visual de certos personagens com suas versões originais – As atuações são inegavelmente boas, essencialmente recriando com poucas alterações o já visto na versão animada. O destaque fica com Laura Dawkes, que interpreta Anna, esbanjando o carisma e a doçura necessários para sua personagem. Samantha Barks solta a voz como Elsa, brilhando principalmente nos números musicais, e Craig Gallivan funciona muito bem como alívio cômico em sua versão de Olaf.
O set design é deslumbrante, trazendo praticamente tudo de essencial da animação para a realidade. Alguns itens e personagens chave foram retirados dessa versão e, embora não impactem muito no conjunto da obra, ficam mais evidentes por algumas coreografias que, na minha visão, poderiam ser mais interessantes. Além disso, uma música essencial foi cortada para abrir laias para uma composição original para essa versão, tirando parte do peso da canção original e fazendo muita falta.
Frozen: The Musical é uma excelente forma de se voltar para o reino congelado de Arendelle (muito melhor do que um live-action, diga-se de passagem) – mesmo que com algumas mudanças desnecessárias e escolhas criativas aparentemente sem sentido. As músicas novas podem não surpreender, mas pouco ofendem. A grandiosidade da produção encanta muito, merecendo ser assistida na maior qualidade sonora e de som disponíveis.
Avaliação: 3,5/5. ⭐⭐⭐½