
Unidos da City transforma a bicicleta em movimento cultural
Grupo liderado por Capi celebra o segundo encontro formalizado e transforma o pedal em cultura colocando Joinville no mapa do grau
Por Priscila Pereira
O Unidos da City nasceu de forma espontânea. Em 2016, Matheus Steinein, 23, produtor de eventos e influenciador digital de Joinville e mais conhecido como Capi, decidiu criar um grupo no Facebook para marcar um rolê de bicicleta com amigos. “Desde criança eu pedalo. Um dia pensei em juntar uma galera e ir pedalando até o mirante… Daí começou. Era só para dar um rolê nos domingos, todo primeiro domingo do mês”, relembra Capi.
O salto veio em 2021, quando Capi levou os encontros para o Instagram. “Quando comecei a postar Reels, estourou. Antes era só no WhatsApp e no Facebook, bem fechado. Foi na pandemia que tudo mudou.” O impacto foi imediato: os rolês, que reuniam algumas dezenas de ciclistas, passaram a atrair centenas e, em eventos formalizados, já chegaram a mobilizar mais de 3 mil pessoas. Aventuras na Bike
O diferencial do Unidos da City em Joinville é a formalização dos encontros. “Antes eu só postava no Instagram e pronto. Agora, para organizar, eu tenho que ligar para a Polícia Militar, pedir cones, avisar que vai ter evento. Mudou tudo”, explica Capi.
Essa formalização trouxe outro público: as famílias. “Antes tinha criança que saía escondida de casa para vir. Agora o pai traz de carro, monta a cadeira de praia e fica assistindo. Hoje é um rolê de toda a família.”
No próximo dia 28 de setembro, às 15h, no Parque São Francisco, bairro Adhemar Garcia, o Unidos da City realiza o segundo encontro formalizado em Joinville. Para Capi, isso mostra que o movimento está consolidado: “Dentro do nosso encontro é proibido cigarro, é proibida bebidas alcoólicas. É só para pedalar e se divertir. A gente está tirando a criançada do mal caminho.”

Mesmo com o crescimento, Capi insiste em manter a essência: “O motivo real disso aí é a criançada. Não quero perder a essência. É estilo de vida, não negócio.” A organização conta com patrocínios pontuais apenas para cobrir custos básicos: “O nosso único gasto é a ambulância e a limpeza. Eu consigo pagar com apoio da moça do espetinho, do cara do pastel. Peço um valor x, e isso cobre o essencial. O dinheiro que entra é só para a equipe. Eu não preciso crescer em cima disso.”
Além da ajuda local, o Unidos da City também criou sua própria identidade visual. As camisetas do grupo circulam entre os participantes e ajudam a reforçar a sensação de pertencimento. Para Capi, são detalhes que unem a comunidade sem transformar o movimento em um produto comercial.

O Unidos da City deixou de ser apenas um grupo de Joinville. Hoje, já existem parcerias com ciclistas de Itajaí, Itapoá e Curitiba. Os encontros são trocas constantes: quando os grupos vizinhos vêm a Joinville, o Unidos da City também retribui, participando dos rolês fora da cidade. “Cada cidade tem o seu grupo. A causa do grau é enorme no Brasil todo”, destaca Capi.
Essa rede fortalece a prática e mostra que o movimento, mesmo nascido de forma simples, é capaz de gerar laços regionais e nacionais. O Unidos da City se torna, assim, um ponto de referência no mapa da cultura urbana.

O grau ganha espaço no Brasil
O movimento do grau, que envolve manobras de empinar bicicletas, tem conquistado reconhecimento em várias cidades brasileiras. Em Forquilhinha (SC), o prefeito anunciou em vídeo oficial no Instagram da prefeitura a construção de uma pista voltada à juventude. Já em Blumenau (SC), a Lei Ordinária nº 9.666/2025 reconheceu o wheeling como prática esportiva, desde que realizado em locais adequados e sob normas da Confederação Brasileira de Motociclismo Diário Oficial.
Curitiba discute a criação de uma “Rua do Grau” em espaço delimitado, enquanto cidades como Vera (MT) e Montes Claros (MG) já planejam e inauguram pistas exclusivas. Esses exemplos refletem uma tendência nacional: tirar a prática das ruas e oferecer espaços oficiais, transformando o grau em esporte regulamentado e seguro.
Mais que esporte, uma marca cultural
Com milhares de seguidores nas redes sociais e encontros que transformam ruas em palcos de lazer e convivência, o Unidos da City mostra que o grau em Joinville não é apenas manobra: é comunidade, saúde e resistência cultural.
“Quero marcar essa nova geração, assim como a minha foi marcada. O Unidos da City é isso: pedalar, viver culturalmente e mostrar que a infância pode ser boa quando a gente tem o caminho certo”, resume Capi.
Na roda que gira, não há só bicicleta. Há infância preservada, há pais que se reconhecem nos filhos e há uma juventude que transforma energia em cultura. O Unidos da City é prova de que, quando o movimento nasce da comunidade, a cidade inteira pedala junto.