
Universitários em Joinville transformam criatividade em renda
Acadêmicos driblam a rotina puxada e encontram no empreendedorismo a chance de pagar a graduação e ganhar autonomia financeira
Por Camila Schatzmann Gomes
Conciliar trabalho e estudos é um desafio antigo para os universitários, mas em Joinville ele ganha novos contornos. Longe da rotina exaustiva de quem passa o dia fora de casa em empregos formais, alguns jovens têm encontrado no empreendedorismo uma forma de sustentar a graduação, trabalhar com o que gostam e ainda conquistar mais tempo livre.
Desde storymaker, profissional responsável por produzir storys para o Instagram do contratante enquanto ele está em determinado evento, passando pelos “famosos” morangos do amor, o empreendedorismo universitário assume diversas formas. Essas iniciativas surgem como alternativa para complementar a renda, sem abrir mão da rotina acadêmica.
Ketlin Milena, 27, estudante de Jornalismo no Ielusc, atua como social media estrategista e storymaker de casamentos e festas. “Eu entrei na faculdade já com o pensamento de empreender, então o curso me ajudou muito no desenvolvimento dos meus projetos e também em conhecimento técnico”, conta. “Antes disso, trabalhei por oito anos como analista de marketing em uma empresa de calçados aqui em Joinville. Lá, conheci uma pessoa que foi contratada para me ajudar com os conteúdos das redes sociais”, explica. “Como ela era pessoa jurídica, atendia outros clientes e eu percebi que mesmo sendo analista, o meu salário não chegava nem perto do dela. Então decidi sair do emprego e hoje nós duas trabalhamos juntas. Atendemos clientes do nicho de moda, beleza e dividimos todas as nossas tarefas”.

Na Univille, Larissa Martins, 21, estudante de administração, encontrou nos doces caseiros a chance de unir talento e necessidade. “Comecei vendendo brownies no campus e hoje já faço algumas encomendas grandes. É cansativo, mas é um cansaço que vale a pena”, disse a aluna. “Como moro com os meus pais, é bom porque esse dinheiro que conquistei vendendo ajuda nas minhas despesas pessoais. E eu fico sempre de olho! Se percebo que alguma coisa está na moda, eu já penso em fazer. Quando é comida, como agora com o morango do amor, melhor ainda, porque dá para lucrar bem”.
Desafios e escolhas
Dentro deste cenário, há estudantes que não escolheram empreender mas enfrentam uma rotina tradicionalmente exaustiva. Eles seguem ininterruptamente para aulas noturnas após o expediente ou, assim como outros discentes, fazem até o caminho inverso. Passam horas na faculdade e depois encarando o turno da madrugada.
Este é o caso da caloura de jornalismo Lilian Queiroz, 49. “Cursar Jornalismo é a realização de um sonho. Eu comecei a faculdade em 1992, mas precisei interromper porque engravidei e fui mãe solo. Mais de 30 anos depois, consegui voltar para a sala de aula. Sempre me cobrei muito, porque, de certa forma, a vida me colocava em situações em que eu usava habilidades da profissão. Fui vendedora por muito tempo e isso exige comunicação e persuasão”, relata.
Segundo reportagem do Jornalismo IESB, publicada em 2023 e intitulada “Equilibrando desafios, a jornada de quem estuda e trabalha”, estudantes que atuam no mercado de trabalho formal muitas vezes dedicam mais tempo ao trajeto e ao expediente, do que à própria casa. Sucedendo consequências para a saúde, como privatização crônica do sono.
Já a pesquisa do Correio Braziliense de abril de 2025, intitulada “Aprendizagem profissional reduz em quase 4 vezes o número de jovens nem-nem no Brasil“, demonstra que, embora haja uma baixa radical na estatística de jovens que nem trabalham e nem estudam, de 26,4% para 7%, suas rotinas ainda exigem disciplina intensa, com pouco tempo livre.
Panorama Nacional
A tendência de empreender durante a faculdade não é exclusiva de Joinville. De acordo com levantamento do estudo do Poder360, cerca de 19% dos jovens brasileiros entre 24 e 35 anos veem o empreendedorismo como meta de longo prazo. O movimento acompanha mudanças no mercado de trabalho e no perfil dos estudantes, que buscam autonomia financeira e liberdade de horários.
Além disso, segundo o levantamento do IBGE em 2022, 15,7% dos jovens de 15 a 29 anos já estudavam e trabalhavam, número equivalente a cerca de 7,7 milhões de pessoas.
Pesquisas nacionais reforçam que o ambiente universitário favorece testar produtos e serviços, permitindo experiência prática e retorno rápido do público. No geral, empreender na universidade traz mais do que uma fonte de renda: oferece liberdade financeira, flexibilidade de horários e maior qualidade de vida. Ao administrar o próprio negócio, os estudantes aprendem a organizar a rotina, tomar decisões estratégicas e investir em algo que realmente gostam de fazer, conciliando estudo, trabalho e lazer de forma mais equilibrada.