Instituto HOPE inaugura Mercado Solidário em Joinville
O Mercado Solidário surge como nova alternativa diante das dificuldades de acesso à alimentação em comunidades de Joinville.
Por Priscila Pereira
O novo Mercado Solidário HOPE, inaugurado no dia 6, funciona no espaço recém-montado na rua Aubé, no bairro Boa Vista. A iniciativa do Instituto Social HOPE tem como objetivo garantir o acesso à alimentação gratuita e ao mesmo tempo fortalecer a autonomia das famílias em situação de vulnerabilidade. Mais do que um local de doação, o projeto busca promover respeito e novas perspectivas para quem enfrenta dificuldades no dia a dia.

“O Mercado Solidário nasceu de uma demanda social real”, explica Flávio Corrêa, assistente social e responsável técnico da área social do Instituto. “A insegurança alimentar é uma realidade tanto entre migrantes quanto entre famílias da própria cidade que perderam renda. A ideia é garantir o básico, a comida, para que a família possa olhar para outras áreas da vida, como saúde, profissionalização e estudo.”

Diferente da entrega tradicional de cestas básicas, o modelo oferece acompanhamento social e liberdade de escolha. As famílias interessadas fazem contato via WhatsApp, passam por análise técnica e, após visita domiciliar, podem acessar o mercado e selecionar os produtos que realmente precisam. “É mais trabalhoso, mas muito mais eficaz. Acompanhamos cada família, não apenas doamos”, reforça Flávio.

Entre as famílias atendidas pelo projeto está o casal Miguel e Íris, venezuelanos que chegaram a Joinville há cerca de um ano, acompanhados das três filhas pequenas. O casal busca estabilidade depois de enfrentar dificuldades com moradia e trabalho desde que deixou o país de origem.
Miguel atua como operador de máquina e produção em uma empresa local e conta que o início no Brasil foi desafiador. “Quando cheguei, fiquei um tempo sem emprego, e um amigo falou pra gente sobre o Mercado Solidário”, relembra. “Ele nos ajudou e nos apresentou ao projeto. Desde então, recebemos apoio e orientação, o que fez muita diferença.”
Íris, por sua vez, dedica-se aos cuidados com as meninas e à adaptação da família. Ela explica que ainda não conseguiu um emprego fixo, mas que o acolhimento recebido tem sido essencial para recomeçar. “A Onda Dura pra nós é como uma família. Eles escutam, ajudam, dão força, esse acolhimento a gente não encontrou em nenhum outro lugar.”
Durante a visita da reportagem, a filha do meio, Maria, acompanhava os pais com curiosidade, tentando se comunicar em português e misturando palavras em espanhol. A cena resume o esforço diário de adaptação da família e a importância de projetos que oferecem não apenas alimento, mas também um espaço de pertencimento.
Atualmente, o funcionamento do Mercado é sustentado por doações tanto de pessoas comuns quanto de empresários locais. “Nosso maior mantenedor é a Igreja Onda Dura,
porém recebemos diariamente doações de pessoas da comunidade e temos empresários que investem mensalmente para manter o projeto vivo”, explica o assistente social.
Pessoas que desejam contribuir com o projeto podem se cadastrar por meio de um link encaminhado após contato pelo WhatsApp (47) 99194-4713, o mesmo canal usado por famílias que precisam de ajuda.
Flávio também destaca que o Instituto HOPE não foi o primeiro a adotar o formato de doações em que o beneficiado escolhe o próprio alimento, mas sim o primeiro a criar um espaço físico dedicado exclusivamente a essa iniciativa em Joinville.
“Famílias fortes constroem sociedades fortes. Nosso trabalho é dar condições para que essas famílias recuperem o equilíbrio e caminhem com autonomia”, conclui Flávio.

Conferência municipal reforça urgência da segurança alimentar em Joinville
A preocupação com a insegurança alimentar em Joinville não é recente e ganhou destaque durante a 3ª Conferência Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em 2023. O evento reuniu 202 participantes entre delegados, representantes de conselhos, associações e poder público.
Com o tema “Comida de Verdade, Democracia e Equidade”, o encontro discutiu estratégias para enfrentar a desigualdade de acesso aos alimentos e fortalecer políticas públicas voltadas à nutrição e à soberania alimentar.
Segundo dados do IBGE e de levantamentos estaduais, cerca de 2,1 milhões de catarinenses convivem com algum nível de insegurança alimentar, o que representa aproximadamente 10% da população do estado. Em Joinville, um estudo realizado com usuários de um restaurante popular apontou que mais de 60% viviam algum grau de vulnerabilidade alimentar, evidenciando que o problema também atinge o município.
Entre as propostas apresentadas na conferência estão a criação de redes de abastecimento solidário, o incentivo a hortas comunitárias e o fortalecimento de iniciativas de distribuição digna de alimentos, como os mercados sociais.
As conclusões reforçam a necessidade de ampliar programas permanentes de apoio alimentar e de fortalecer a articulação entre poder público e sociedade civil para reduzir as desigualdades e garantir o direito básico à alimentação.
O desafio agora para o Instituto Social HOPE e demais atores de suporte social em Joinville é transformar o acolhimento imediato em trajetórias de autonomia sustentável e garantir que o acesso à alimentação adequada seja o ponto de partida para que as famílias vulneráveis possam reconstruir outras dimensões da vida.
