Associação de Moradores do Ulysses Guimarães enfrenta obstáculos para manter as atividades
A ausência de um espaço físico para a realização de reuniões e eventos, bem como a baixa adesão da comunidade impedem que a associação seja mais atuante no cenário local.
Por Isabelle Meurer
O que caracteriza uma associação de moradores forte e atuante? Para o atual presidente da Associação de Moradores do Ulysses Guimarães, José Miguel de Oliveira, a participação daqueles que residem no bairro é, sem dúvida, primordial. Miguel é presidente desde 2019, o mandato já expirou, no entanto, segundo ele, como ninguém formou uma nova chapa, continua à frente dos trabalhos.
Formalmente, a associação existe desde 1998, quando o local era um conjunto habitacional e, de lá pra cá, tem enfrentado dificuldades no que diz respeito à estrutura e atuação daqueles que moram no bairro, além da falta de um representante político que lute pelas necessidades da região.

Segundo o documento “Bairro a bairro – 2017”, disponível no site da Prefeitura de Joinville, o bairro Ulysses Guimarães, criado em 29 de dezembro de 2004, é resultado do desmembramento de território do Jarivatuba e Adhemar Garcia. Em março de 2005, houve um plebiscito e a população escolheu o nome Ulysses Guimarães, em alusão à personagem política brasileira, além de já ser o nome do conjunto habitacional lá existente. Faz parte também o antigo Loteamento Rosa, região anterior à criação do conjunto habitacional que hoje dá nome ao bairro. O Ulysses Guimarães conta com a Escola Municipal Amador Aguiar, o Centro de Educação Infantil Maria Laura Cardoso Eleotério e a Vila da Saúde, espaço que possui pista de caminhada, playground e horta comunitária, localizado no entorno da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF). De acordo com o último Censo, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, 11.900 pessoas residem no bairro.

A associação não possui sede física, o que para Miguel dificulta o envolvimento da comunidade, uma vez que não há um local próprio para a realização de reuniões e eventos. Então, quando precisam de um local para reuniões ou encontros com autoridades, usam o espaço da Escola Municipal Amador Aguiar e também da Comunidade Santa Paulina, igreja católica do bairro. “A gente até tem uns locais que a prefeitura diz que pode ceder, mas envolve uma burocracia muito grande. […] A prefeitura fornece esses espaços, mas eles destinam primeiro para a área da educação, saúde e segurança pública. Nesses três âmbitos, se eles não precisarem, aí vem para a associação de moradores, e depois para outros fins. Ficamos em quarto lugar na prioridade.” Ainda segundo Miguel, como o bairro não tem um representante na Câmara de Vereadores, fica mais difícil que a solicitação seja atendida.


Para Dorly Meurer, morador do bairro há mais de 30 anos, falta engajamento da população para que a associação volte a crescer. Ele pontua que muitas conquistas foram alcançadas, como o asfaltamento de ruas, e que, anos atrás, havia mais diálogo entre a prefeitura e a população. Para Dorly, a participação das pessoas é fundamental, mas o poder público também deve fazer a parte dele, ouvindo as reivindicações de bairros de regiões periféricas. “É preciso entender as reais necessidades do local, tem muita coisa a ser feita, como pavimentação de ruas e construção e manutenção de espaços de lazer. Quem sabe alguém faça algo, para que a gente possa ser ouvido através da associação.”

Apesar de todas as dificuldades que a associação enfrenta, há também as conquistas, como o asfaltamento de algumas ruas de grande circulação no bairro. “Conseguimos muitas coisas aqui, como a pavimentação da Rua Eurides Francisco Tomasoni, através da prefeitura, por causa dos protestos. Se fizéssemos uma manifestação pacífica até a prefeitura e cobrássemos resposta […] a comunidade tinha que ir lá. Não adianta ir um só.”

Para que a associação possa ser forte e atuante, segundo Miguel, é importante que o poder público volte a apoiar a entidade, por meio da presença de um representante da prefeitura, sempre que solicitada, nas reuniões, e da doação de terreno para a construção da sede e de espaços de lazer. Todavia, ele acrescenta que a contribuição da comunidade é crucial nesse processo. “Os maiores culpados (pelo insucesso da associação) somos nós mesmos, os moradores. Ninguém se mobiliza. A força do povo conta muito – se nos mobilizássemos na frente da Câmara de Vereadores ou da prefeitura, a imprensa ia perguntar o que estava acontecendo, e diríamos que estamos abandonados. A prefeitura só vai ver os problemas do bairro através de uma associação.”
Por fim, Miguel acrescenta que, mesmo com todas as dificuldades e mazelas citadas anteriormente, a associação segue existindo. “Continuamos fazendo as reuniões sempre que possível. A primeira questão que batemos é a infraestrutura, por exemplo, a questão do saneamento básico. Então reunimos a comunidade – os poucos que vão – e levamos as demandas até a prefeitura. Agora estamos pavimentando algumas ruas. A prefeitura nos dá esse apoio, porém a adesão da comunidade tem que ser 100%.”
