Do Athlético ao Parma, a trajetória de Hernani, que transformou o sonho em rotina
Por Alisson Dias e Tammy Pereira de Abreu
Foram mais de 100 jogos com a camisa do Athletico Paranaense, com direito a título estadual, golaços e o carinho da torcida. Hernani Azevedo Júnior, hoje com 31 anos, soma passagens por clubes da Rússia, França e Itália e carrega a experiência de quem teve que aprender a viver longe de casa, mas nunca distante do sonho que o acompanha desde criança: o futebol. Reconhecido pela sua capacidade, tanto defensiva quanto ofensiva, Hernani constrói uma trajetória marcada por dedicação, superação de desafios e adaptação.
Natural de São Gonçalo do Sapucaí (MG), o volante brasileiro iniciou sua carreira nas categorias de base do Athletico Paranaense, onde se destacou e conquistou espaço na equipe profissional. Em 2016, chamou a atenção do Zenit, clube tradicional da Rússia, e iniciou sua jornada internacional e, de lá pra cá, atuou por clubes como Saint-Éttiene, Parma e Reggina, consolidando sua carreira na Europa.
Hoje, Hernani soma experiência, maturidade e respeito internacional, mas mantém o desejo de, um dia, retornar ao clube que o formou, o Athletico, onde tudo começou.
Você, apesar de ser volante, uma posição que requer mais apoio defensivo, é um jogador de muitos gols.Qual foi o gol mais marcante da sua carreira?
O primeiro gol foi um chute de fora da área, que é uma das minhas características, foi contra o Vitória, no meu primeiro jogo como titular como profissional na Arena da Baixada, foi o mais especial para mim até então.
[Jogo: Athlético-PR 2 x 0 Vitória, rodada 21 do Campeonato Brasileiro de 2014]

Já que você falou da estreia, qual foi a sensação de estrear profissionalmente pelo Athletico?
Ali no Athletico, eu tenho que ser muito grato ao clube, até porque foi o clube que criou o sub-23 e, dessa forma, eu consegui criar uma bagagem antes de estrear realmente pelo profissional. A gente disputou o campeonato estadual e, com isso, jogadores que se destacaram conseguiram ganhar uma oportunidade no time principal, e isso facilitava a questão de estar mais pronto e maduro para receber uma carga de um jogo nacional. É difícil encontrar palavras para descrever, eu depositei todas as minhas fichas na profissão e, quando você estreia pelo profissional, você olha todo esforço, não só meu, mas dos meus pais; eles abdicaram de muita coisa para realizar o meu sonho, então é gratificante.
Você participou de uma safra muito boa de revelações da base do Athletico, com grandes jogadores como Léo Pereira, Bruno Guimarães, entre outros.Qual era o diferencial do clube para ter tantos jovens bons?
Agora, no futebol, quanto mais cedo, independentemente da idade, se o atleta tem qualidade e tem a forma física ideal para atuar, os meninos estão atuando. O Athletico foi muito visionário nisso, a preparação, a ideia de colocar os jovens para disputar o estadual, que é um campeonato difícil, mas não se compara a nível nacional.Então o clube foi muito visionário, e acabou dando certo. Na minha safra teve eu, Marcos Guilherme, Bruno Mota, Otávio, Sidcley… A gente viveu desde o setor juvenil até o profissional, o que é muito difícil de acontecer no futebol. Mas o clube abriu as portas para esse projeto e deu muito certo. Depois disso ainda teve o Renan Lodi, Bruno Guimarães. O clube conseguiu colocar os atletas no mais alto nível de preparação e colheu muitos frutos.
O Athletico é conhecido por não vender os jogadores tão cedo.Quando chegou uma proposta para você ir para a Europa, você já se sentia pronto? Qual foi o sentimento?
Hoje, os jogadores completam 18 anos e acabam saindo para a Europa. Eu saí do Athletico com quase 22 anos e mais de 100 partidas pelo clube. Na minha opinião, isso tem prós e contras, o fato de o jogador não ser tão maduro em questão de campo e de trabalho, porque, a partir do momento em que chega na Europa, é adaptação, é outro idioma, é esquema diferente. No Brasil, a gente trabalha muito o futebol em si, muita tática, trabalho individual. Quando eu fui para o Zenit, eu estranhei bastante essa mudança, mesmo tendo bastante número de jogos pelo clube, foi uma mudança muito grande. Eu acredito que são coisas que têm que ser trabalhadas extra campo, para preparar a mente do atleta para essa mudança.
No período em que você jogou no Zenit, havia outros brasileiros no clube?
Tinha dois brasileiros no Zenit que me ajudaram muito, o Giuliano e o Maurício, pessoas muito importantes na minha carreira.Tive a sorte de ter dois outros portugueses. Depois tive que me empenhar no estudo, no curso de inglês, o clube disponibilizou um curso de inglês para os atletas no CT, mas é aquela coisa de pensar pequeno, às vezes coisas no futebol acontecem tão rápido, e eu não era tão participativo nesse curso, mas acho que quanto antes o atleta se empenhar mentalmente, mais fácil será a adaptação.
Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
O momento mais difícil foi no ano de 2021, quando fomos rebaixados para a Série B com o Parma onde eu tive um ano individualmente muito bom, mas coletivamente fomos péssimos e acabamos caindo, e depois eu fui para o Genoa, que foi onde eu senti mais dificuldade. Apesar de ser meu quinto ano na Europa, eu não consegui desenvolver o meu papel, tive muitas lesões, não me adaptei ao clube e à cidade. Quando eu jogava, eu jogava mal. É uma grande equipe e cidade, é uma pena não ter dado certo, mas faz parte do desenvolvimento do atleta. O meu maior sonho é todos os dias acordar e continuar fazendo o que eu estou fazendo, porque eu me dedico, é o que eu gosto de fazer, eu tenho o dom graças a Deus, eu vivo o meu maior sonho todos os dias.

E sobre plano de carreira?Você chegou a receber alguma proposta para voltar para o Brasil? Estaria disposto a jogar em outro time do Brasil sem ser o Athletico?
Eu tive muitas propostas de clubes. A minha intenção é permanecer nesse campeonato de alto nível, mas o meu maior sonho é voltar para onde eu me formei. O Athletico é a minha casa, é um clube que me deu tudo, me formou como homem, desde os 13 anos até os 22.Eu sou muito grato ao presidente [Mario Celso Petraglia] por tudo que ele proporcionou para mim e para minha família.
