Sambaqui atrai pesquisa arqueológica internacional para Joinville
A revista Royal Society Open Science publicou em setembro de 2018 um estudo realizado por pesquisadores do Brasil e do Reino Unido. A pesquisa revelou novidades na alimentação de uma população que habitava o litoral da Mata Atlântica há mais de 5 mil anos. A partir do dia 10 de julho, esses estudos serão retomadas no sambaqui Morro do Ouro, em Joinville. O estudo envolve pesquisadores da Universidade de York (Inglaterra) com a participação de instituições, como Exceter (Inglaterra), Univille, MAE, Museu Nacional do RJ e o Museu de Sambaqui. Os recursos foram obtidos por meio de edital da National Geographic.
A pesquisa investiga o consumo, manejo e cultivo de vegetais dos antigos habitantes do litoral da Mata Atlântica. “Até poucos anos considerava-se que a dieta alimentar dos povos construtores de sambaquis era basicamente peixes e frutos do mar. Supunha-se que eles comiam outras coisas, mas não tínhamos as comprovações”, explica Roberta Meyer Miranda, Coordenadora do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville.
Segundo Roberta, em 2007 a pesquisadora Dra. Verônica Wesolowski (MAE – USP), por meio de análises no sambaqui Morro do Ouro, descobriu que esses povos se alimentavam de amido e tubérculos, como milho e cará. Em 2015 e 2016, o Dr. André Carlo Colonese (Universidade de York) investigou a dieta através de fragmentos de ossos de costela coletados de sepultamentos em sambaquis e comprovou o consumo de vegetais, indicando novas informações sobre o modo de vida desses povos.
A produção de alimentos é um dos mais importantes acontecimentos na pré-história humana. Queremos entender se a Mata Atlântica foi um dos primeiros centros de produção de alimento na América do Sul, junto a outras áreas do continente. Morro do Ouro é um dos sambaquis mais antigos na Baía da Babitonga, datado de cerca de 5000 anos. Este sítio já nos deu indícios de que as populações que ali viviam consumiam muitas plantas”, conta Colonese.
De acordo com o pesquisador, uma bateria de análises será aplicada para confirmar se realmente existia o cultivo e manejo da vegetação daquela área. Serão realizadas, inclusive, análises de DNA de sedimentos para identificar as plantas consumidas por esses grupos humanos.
Do Museu do Sambaqui integram a equipe principal de pesquisadores a arqueóloga Dione da Rocha Bandeira e a coordenadora Roberta Meyer Miranda da Veiga. Voluntários também devem participar das escavações. “Na arqueologia, tanto no Brasil quanto no exterior, é comum a atuação de pesquisadores fora o corpo técnico. Alunos de arqueologia ou de pós-graduação costumam se cadastrar para participar, pois é experiência de campo”, explica Roberta.
Os chamados sítios-escolas funcionam dessa forma. Neste formato, ninguém é pago para escavar, no máximo os voluntários recebem auxílio de alimentação e estadia.
O apoio institucional do Museu do Sambaqui de Joinville a esta pesquisa, além da investigação arqueológica, inclui educação patrimonial. “O objetivo é promover um sítio-escola, por isso, estamos abrindo algumas vagas para alunos de comunicação e pedagogia, com participação voluntária, sem custos”, conta.
Quem tiver interesse no assunto pode acompanhar as escavações a partir do dia 20 de julho, das 9 às 17 horas, gratuitamente. Algumas palestras, ainda sem data marcada, também vão ocorrer no local.