SIC reúne especialistas para debater sofrimento psíquico
Conciliar trabalho e estudos, adaptar-se à rotina universitária, conviver com pessoas diferentes, tirar boas notas, viver longe da família… Diante de tantas transformações ao mesmo tempo, o aluno de ensino superior pode desenvolver transtornos psíquicos, como a ansiedade, a depressão, síndrome do pânico, entre outros. Estudo da Associação Americana de Psicologia aponta que mais de um terço dos universitários do primeiro ano sofrem com distúrbios psicológicos. Conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde), os casos de depressão cresceram 18% nos últimos dez anos e até 2020 esta será a doença mais incapacitante no mundo. Na América Latina, o Brasil ocupa a primeira posição quando se trata da ocorrência de distúrbios depressivos, que atingem 6% da população.
Por conta dessa triste realidade, a primeira noite da Semana Integrada de Comunicação (SIC) foi dedicada a discutir o Sofrimento Psíquico de Jovens Universitários, reunindo pontos de vista de diferentes áreas do conhecimento. A professora Valdete Daufemback mediou uma mesa-redonda com a participação do psiquiatra Pedro Felipe Portella Deroza, da psicanalista Marilene Wittitz, do hipnoterapeuta e especialista em neurociência Rafael Kraisch e de Marianita Scheuer Pereira, terapeuta floral e especialista em psicopedagogia e psicodrama.
O psiquiatra Pedro Felipe, que também é professor universitário, destacou a necessidade de diferenciar um estado de tristeza ocasional dos transtornos psíquicos. “Se a tristeza for contínua e prejudicar a capacidade funcional da pessoa, então há um transtorno”, explicou. Segundo ele, a sociedade muitas vezes cobra mais do que o ser humano pode dar e, com isso, as pessoas não têm mais tempo para si mesmas. “Se estou 24 horas disponível para tudo, na verdade não estou disponível para nada”, comentou ele ao criticar o abuso da interação por meio das redes sociais e aplicativos.
No mundo acadêmico, a exigência por produtividade e publicação de artigos científicos, por exemplo, é reflexo do cerceamento ao tempo livre do indivíduo, pois se cria um sistema em que, para progredir na carreira, é preciso priorizar a produção. “Mais de 50% dos casos que atendo no consultório são de ansiedade”, informou o médico.
Empobrecimento simbólico
A psicóloga Marilene Wittiz observou que o ser humano vive um momento de “empobrecimento simbólico”, pois, ao mesmo tempo em que se tem um grande avanço nas tecnologias de comunicação, há um déficit nas trocas presenciais e isso traz consequências à vida cotidiana. “Depressão, compulsões, ansiedade revelam o mal-estar de uma sociedade que inflaciona a posição do sujeito como consumidor”, afirmou.
As três maiores fontes de angústia humana apontadas por Freud continuam presentes na atualidade, na opinião de Wittiz: os fenômenos naturais, o corpo – sobretudo o envelhecimento e o adoecimento – e o relacionamento com outras pessoas. A psicóloga, que também é professora do ensino superior, defende que a universidade deve potencializar a criação e a arte como formas de ajudar os jovens a encararem tantos desafios. “Quando você cria algo, deixa sua marca no outro”, explicou. “É preciso preparar os acadêmicos para lidarem com a diversidade e com a adversidade.”
“Qual foi a última vez em que o cérebro humano passou por uma grande atualização?”; “Se o ser humano é racional, onde está a lógica do sofrimento?”. Com uma série de questionamentos, o hipnoterapeuta Rafael Kraisch levou a plateia a refletir sobre as emoções humanas e sobre o modo como se tenta lidar com elas. “O cérebro foi criado para necessidades muito simples, mas a vida se complexificou”, disse. Rafael também defendeu que as pessoas dediquem tempo para o autoconhecimento, pois assim estarão mais aptas a lidarem com suas reações emocionais.
Marianita Scheuer Pereira falou sobre o desenvolvimento da terapia floral, desenvolvida pelo médico inglês Edward Bach. “A essência floral não é mágica, trata-se de usar informação das plantas, um pequeno movimento para acessar em nós qualidades e virtudes e potencializá-las”, destacou.
Além dos estudantes dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, a abertura da SIC também contou com acadêmicos de Psicologia e egressos.
Programação
Antes do início da conversa sobre Sofrimento Psíquico, alunos de Jornalismo, orientados pela professora Beatriz Cavenaghi, apresentaram um telejornal com reportagens gravadas e entrevistas ao vivo.
A SIC prossegue até quinta-feira. Hoje ocorrem apresentações de Trabalhos de Conclusão de Curso de acadêmicos de Publicidade e Propaganda e, no dia 12, o professor Rogério Christofoletti (UFSC) palestra sobre Ética e Mercado de Trabalho. Na mesma noite haverá lançamento de uma web série produzida por alunos de Jornalismo e exposição da coletânea do Correio Brazilienze, doada por Carlos Haddad.