Terceira noite da SIC discutiu mercado de trabalho do jornalismo
O encerramento da 9ª Semana Integrada de Comunicação reuniu estudantes de Jornalismo, professores, egressos e pessoas da comunidade, na noite de quinta-feira. Homenagem, lançamento de web série, palestra, perguntas do público e sorteio de livros fizeram parte da programação que teve como apresentadores os acadêmicos Mateus Lino e Jéssica Horr, da 4a fase.
No palco do anfiteatro ficaram expostos todos os volumes da coletânea fac-similar do Correio Braziliense, primeiro jornal brasileiro, que circulou de 1808 a 1822, editado por Hipólito José da Costa. O doador dos 32 volumes, Carlos Taufik Haddad, esteve presente e recebeu os agradecimentos do coordenador do curso, Silvio Melatti, em nome da comunidade acadêmica. Haddad contou que, quando o Diário oficial de São Paulo recebeu a proposta de Alberto Dines para editar a coletânea a partir da coleção do bibliófilo José Mindlin, a empreitada foi “irrecusável”.
Um documentário mostrou o processo de pesquisa e restauração de todas as edições do Correio Braziliense. “Essa coleção virou naturalmente uma coleção literária”, afirmou Haddad. Segundo o jornalista, a qualidade da Faculdade Ielusc, que ele conheceu em uma de suas visitas a Joinville, foi o que o incentivou a fazer a doação.
Web Série interdisciplinar
A exibição do primeiro episódio da web série “Nós somos o mercado de trabalho”, produzida pela 5ª fase de Jornalismo no semestre passado, marcou o lançamento do trabalho. A série é resultado de um projeto conjunto das disciplinas de Economia, Telejornalismo 3 e Jornal Digital 2, com orientação dos professores João Bertoli, Beatriz Cavenaghi e Kérley Winques.
O episódio mostrou como o preconceito racial interfere na vida profissional de muitas pessoas. “Perguntem-se quantos negros trabalham com vocês, quais funções eles exercem. Isso é algo que deve ser discutido”, afirmou Roger Caetano, um dos alunos produtores do projeto. “Foram dois meses de muitas pesquisas, nós mesmos fizemos as captações de imagens e a edição de todos os vídeos”, explicou a estudante Catherine Kuehl.
Jornalistas e democracia
O Doutor em Ciências da Comunicação Rogério Christofoletti (UFSC) proferiu a palestra de encerramento. O tema “Ética e mercado de trabalho” instigou o público a refletir sobre a importância das condições adequadas de trabalho aos jornalistas, obstáculos e oportunidades da profissão. Autor de vários livros no campo da comunicação, o palestrante destacou a importância vital do jornalismo para democracia.
Aos jovens jornalistas, Christofoletti foi claro em sua mensagem: lutar pela valorização da profissão. “A fragilização da carreira do jornalista fragiliza uma sociedade livre”, afirmou. “O jornalista faz perguntas indelicadas e indigestas a quem é de direito se perguntar”.
Um dos artifícios do mercado para desvalorizar a profissão e até para pagar menores salários é adoção de nomes diferentes para funções exercidas por jornalistas, tais como gestor de mídia social, influencer, produtor de conteúdo, entre outros. Tal artimanha já foi utilizada na década de 1980, quando jornalistas que trabalhavam como âncoras de televisão eram contratados como radialistas e, com isso, recebiam salário inferior ao piso estabelecido para a categoria.
A luta por boas condições de trabalho vai além da remuneração justa, segundo o palestrante. Abrange também a segurança, equipamentos e equipes condizentes com a demanda de tarefas. Para isso, segundo Christofoletti, é preciso valorizar os sindicatos da categoria. “Se você tem um sindicato forte, você tem mais força na hora da negociação”. Apesar da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que aboliu a exigência de diploma para o exercício do jornalismo, a profissão é regulamentada e quem não é habilitado para exercê-la deve ser denunciado.
Também deve ser uma postura ética do jornalista, conforme o professor, não aceitar um cargo abaixo do piso salarial, atualmente em R$ 2.585,77, em Santa Catarina. Após a palestra, Christofoletti respondeu a várias perguntas do público e, ao final, houve sorteio de alguns exemplares de seu último livro, “A crise do Jornalismo tem solução?”, editado pela Estação das Letras e Cores.
Confira o vídeo da entrevista com Carlos Haddad antes do evento.