Jogo digital ajuda na reabilitação respiratória de pacientes da COVID-19
Por Nadine Quandt e Rafaela Sant’Anna
Segundo a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), apenas um em cada três pacientes de Covid-19 que passam pelo procedimento de respiração mecânica sobrevive. Pensando nos sobreviventes e suas sequelas respiratórias, o Laboratório de Pesquisas em Aplicações Visuais (Larva), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), iniciou a adaptação de um jogo e de um sistema para reabilitação respiratória.
O projeto é inédito no Brasil e consiste em um jogo digital que estimula os músculos respiratórios e a expansão pulmonar. Ele funciona a partir do Dispositivo Pneumotacógrafo, montado com materiais e de baixo custo, como canos de PVC e garrafas pet. O “Pitaco“, como é chamada a ferramenta, calcula a respiração e inspiração. No jogo, um golfinho precisa desviar os obstáculos e coletar moedas numa viagem pelo mar. O controle do sistema é totalmente feito pela respiração do paciente: conforme a pessoa assopra e respira, o personagem realiza movimentos.
Pacientes que passam por período de respiração mecânica invasiva apresentam fraqueza muscular e, no caso do Coronavírus, lesões pulmonares também foram observadas. Portanto a fisioterapia é uma etapa fundamental para o retorno da condição respiratória ideal. A forma lúdica ajuda na recuperação, pois o paciente realiza os exercícios necessários enquanto vai alcançando as metas solicitadas no game.
“Inicialmente, a intenção era contemplar patologias respiratórias específicas, como doenças obstrutivas das vias aéreas, asma, fibrose cística e também para pessoas com Síndrome de Down, para auxílio da higiene brônquica e controle de ansiedade”, conta o professor e coordenador do laboratório, Marcelo Hounsell. Com a pandemia da COVID-19, o Larva resolveu adaptar o projeto. Segundo o professor, o objetivo é tornar o tratamento menos massante e obter melhores resultados.
Aprimoramento
O Lavra vai disponibilizar o sistema gratuitamente para clínicas especializadas em reabilitação do sistema respiratório em todo o estado. Alan Zalewski, mestrando em Engenharia Elétrica na Udesc Joinville, é um dos colaboradores do projeto. “O aparelho está em sua quarta versão, estamos aprimorando para que ele tenha mais funções e também seja o mais barato possível”, conta. O sistema poderá ser utilizado para recuperação de todos os pacientes que passam por intubação, seja em decorrência de contaminação pelo Coronavírus ou por qualquer outra circunstância.
Especialistas avaliam eficácia do projeto
A professora da Udesc de Florianópolis e fisioterapeuta pulmonar Camila Santos Schivinski pesquisa o funcionamento prático do Pitaco e o considera um incentivador, principalmente no tratamento infantil. “O jogo estimula a inspiração profunda e a expiração prolongada. Com isso, de acordo com uma avaliação prévia, o fisioterapeuta pode lançar mão desses ciclos respiratórios para melhorar a ventilação pulmonar da criança”, avalia a professora.
Camila explica que diversos fatores, como idade, doença de base, tempo em ventilação e presença ou não de complicações são levados em consideração nos objetivos e diferentes condutas fisioterapêuticas planejadas.
A fisioterapeuta respiratória Kamila Franzin da Silva apoia as iniciativas lúdicas, como o projeto do Larva, que utilizam jogos como um complemento para o processo de recuperação, entretanto lembra que o processo não depende apenas da respiração.
Segundo a especialista, a etapa de reabilitação depende de vários fatores, desde a forma como o paciente foi intubado, os cuidados que recebeu na UTI, as posições em que o corpo ficou e até sua capacidade de recuperação da musculatura corporal. “Não se trata apenas de encher e esvaziar pulmões, trata-se de uma visão global do paciente”, informa a fisioterapeuta.