BMX: do underground as Olimpíadas
Por Bruna Schenekemberg
Foto: Getty Images (2016)
Talvez você possa até estranhar um atleta adulto em cima de uma bike pequena, porém, o BMX (Biclycle Motocross) trata-se de um esporte olímpico. Criado na década de 1950 na Europa, ganhou popularidade na Califórnia, Estados Unidos. Estreou em 2008 com a categoria Racing e, em 2020 nas Olimpíadas de Tóquio, entrou o estilo livre, Freestyle.
O BMX veio para o Brasil em 1978, no estado de São Paulo e em 1979 já tinha sua primeira pista. Em Santa Catarina, o esporte apareceu em meados dos anos 80 pela região do vale de Itajaí. A cidade de Joinville começou com seus primeiros registros de adeptos da BMX em 1985, em fitas VHS e como na época não havia pistas, os adeptos andavam onde hoje é o Big da Americanas. Os bmxers, como são chamados, pedalavam na via gastronômica e depois passaram a praticar atrás do Centro Eventos devido ao espaço amplo no qual poderiam realizar suas manobras.
Após Joinville ter sua primeira pista construída no bairro Floresta, os bmxers migraram para lá junto com os skatistas, porém a construção não foi projetada para suportar o peso da BMX e dos atletas. Com a construção da pista da Beira Rio, no bairro Saguaçu, há cerca de oito anos, a BMX ganhou um espaço adequado para a prática do esporte.
Conhecido pela vanguarda da BMX em Joinville, Celso Mello ou Celinho como é conhecido, tem 45 anos e pratica o esporte desde a década de 90. “Ando de bike há 27 anos, andei em uma equipe que fazia apresentações, porém era apenas nos finais de semana por hobby”, conta.
No estado catarinense a modalidade mais praticada é o Freestyle, e dentro dela o street, Park e o Flatland, cujas manobras são praticadas em pistas ou em lugares públicos. Há também praticantes do Dirt Jumping, como no caso do grupo do parque de diversão Beto Carrero World, que contém como uma de suas atrações.
Geralmente, os adeptos começam entre 11 a 17 anos, porém iniciar aos 15 anos considera-se uma idade tardia já que grande parte dos profissionais começam cedo suas carreiras como alguns atletas de renome do estado de Santa Catarina. Allan dos Santos ou como é chamado “Allan Bique”, 28 anos, conta que começou andar com 15 anos inspirado pelo programa de tv “X Game“. Allan ressalta que até tentou andar de skate antes, mas logo se apaixonou pela BMX, “Já tinha tentado andar de skate, porém achei muito difícil e chato, por tentar inúmeras vezes uma manobra para acertar e é bem difícil. A bike você consegue até utilizar para ir em outros lugares como meio de transporte ao mesmo tempo”, diz o esportista. Atualmente o esporte é um hobby de Allan que em sua adolescência andava com Celinho e outras pessoas.
Além do X Game há outros grandes campeonatos de BMX, como o Campeonato Brasileiro de BMX Freestyle e o Campeonato Mundial de BMX. A nível estadual, nos últimos anos, Santa Catarina tem alguns campeonatos de renome, como o de Guaramirim, Rio do Sul BMX Freestyle e BMX Street Jam Canoinhas e alguns menores que não ocorrem com frequência. Joinville por sua vez contou apenas com um campeonato em sua pista da Beira Rio, no ano de 2016.
Daniel Prochnow, de 17 anos, é um dos jovens atletas que tem se destacado na cidade pelo seu desenvolvimento na BMX. Com a ajuda do irmão, começou a andar de bike aos três anos de idade. “Mas eu não conhecia o mundo das manobras ainda, mas já gostava muito de pedalar, até que aos sete anos meu pai me deu uma bicicleta cross. Então fui em uma pracinha que tinha uma pista, onde conheci a bmx e comecei a me interessar”, diz Daniel, que conta que nunca teve apoio para praticar o bmx até porque era muito novo e seus pais não tinha tempo para ajudar o levando na pista para praticar, foi quando vendeu a bicicleta. Segundo ele, seis anos depois voltou a andar onde começou a fazer manobras, após seus pais comprarem uma bicicleta pro-x 10, específica para a modalidade.
Dificuldades da BMX
A BMX por ser um esporte novo não tem suporte financeiro na região. Há apenas duas cidades que auxiliam, no caso da cidade de Guaramirim que a prefeitura ajuda e Itajaí. O canal ESPN é um dos que acenderam o amor pela BMX, e despertou uma cultura alternativa “underground”, ao transmitir pela primeira vez em 1997 o programa X Game para 198 países, incluindo o Brasil. Diversos esportes radicais eram vistos realizando suas inúmeras manobras juntamente com a BMX. A maioria dos jovens dos anos 90 entrevistados para a produção deste projeto experimental citou esse programa. Segundo eles, foi um dos primeiros contatos que tiveram com o esporte. Todo atleta almeja participar dos campeonatos promovidos pelo X Game. Em 2013, o brasileiro Douglas Leite de Oliveira, também conhecido como Doguete, participou de uma das competições. Ele é um dos maiores nomes do esporte, nacional e internacionalmente.
“A dificuldade do esporte no geral e a discriminação, muitos julgam a gente como vagabundos, vândalos ou coisas piores, tem um preconceito muito grande. Voltada para Santa Catarina … e também a falta de infraestrutura no estado para pistas, campeonatos e aquela motivação que o estado pode dar para o esporte”, comenta Alexandre Aguiar.
O esporte ainda tem que lidar com a rivalidade dos skatistas que geralmente não aceitam eles andarem na pista deles por conta da estrutura que não é tão resistente com medo de estragarem devido às manobras realizadas pelas BMX. Recentemente uma pista famosa do estado do Rio Grande Do Sul proibiu não somente os adeptos de BMX, como outros, ficando limitado apenas para o skate.
Com isso, os atletas dessa modalidade nacionalmente lutam por apoio das prefeituras e reconhecimento nos meios midiáticos para que possam praticar o esporte utilizando as pistas que os parques e praças possuem, não sendo liberado apenas para uma determinada categoria mas para todos de modo geral.