Redmann lança seu primeiro álbum; ouça Auto-Retrato Quebrado
Por Luiz Fedumenti
Com necessidade de externalizar sentimentos e na busca por autoconhecimento, o artista joinvilense Redmann lança Auto-Retrato Quebrado. Em seu primeiro álbum, desbravando contradições mundanas e angústias pessoais em rimas ácidas, a obra é uma viagem pelo universo experimental do artista, que utiliza do hip-hop como laboratório para a sua estética.
O álbum é o hip-hop na mais pura essência: samples bem selecionados que se conectam e ambientam a obra, letras que provocam o ouvinte e colaborações certeiras. “Aqui do Brasil, me inspiro em nomes como Makalister, Lessa Gustavo e Paola Rodrigues, sem contar os artistas que participam do disco, que também são referência para mim”, revela o artista.
O disco conta com participações de artistas já conhecidos no hip-hop underground brasileiro. Nomes como Nabru e Ogoin (Belo Horizonte), Matheus Coringa (Salvador) e Ieti (Rio de Janeiro), se juntam a SBG e Heloo (Joinville) como colaborações do álbum.
O nome “Auto-Retrato Quebrado” é uma referência a Egon Schiele, pintor austríaco da escola expressionista que ficou conhecido por revolucionar a pintura figurativa, retratando o estado psicológico das pessoas, ao invés de suas características físicas. Mas a conversa entre Redmann e Schiele não fica apenas no título: enquanto o pintor realizava desenhos subversivos, com “personagens” angustiados, doentes, confusos e sexuais, o músico joinvilense fala sobre esses sentimentos em seu cotidiano durante toda a obra.
As primeiras rimas do álbum, em “Neuroses, Vendavais”, soam como um desabafo e, ao mesmo tempo, como um convite para enxergar o mundo da mesma ótica que o artista:
“Neuroses, vendavais
Meu âmago exala caos
Minha existência me oprime
Respirar é tão difícil”
A diante, o rapper expressa indignações sobre o cotidiano capitalista, se questionando sobre as formas de consumo e a violência policial nas periferias brasileiras. Em “Se Não Fosse a Arte Eu Já Tava Morto”, faixa que conta com a participação de Matheus Coringa, Redmann assume uma postura crítica ao estado automático e “mastigado” em que vivemos ao descrever seu cotidiano.
“Andando calmo, cansado
Sem energia tenho estado
Estressado com tanto automático
O mundo é lúdico”
Já em “Terra no Meu Guardanapo”, o artista roga: “Quem matou Marielle, me explica? / Quem matou João Pedro, me explica?”.
Além das críticas e desabafos, Redmann esbanja conhecimento cultural ao conectar sua realidade com a de outros artistas, além das referências cinematográficas explícitas nas letras. Filmes como Beleza Americana, De Olhos Bem Fechados e Trainspotting possuem suas temáticas interligadas ao álbum, tanto pela postura crítica do artista ao enredo das obras, como pela identificação de situações vividas pelo artista.
“Durante o processo desse disco descobri que a existência humana parece sempre buscar aquele sentimento de epifania, onde nos sentimos um com nosso corpo, mente e o mundo à nossa volta. O problema (ou aquilo que torna essas experiências tão especiais) é que elas não acontecem com a frequência que nós gostaríamos”, relata o artista.
FICHA TÉCNICA:
Um disco de Redmann
Produzido por Redmann e Chiarelli!
Intrumentais por Chiarelli!, e e.inc em “Terra no Meu Guardanapo”
Captação por Zxka em Joinville/SC
Mixagem e masterização por Zxka
PARTICIPAÇÕES:
Matheus Coringa em “Se Não Fosse a Arte Eu Já Tava Morto”
ogoin em “Roda da Fortuna”
nabru em “Contigo Consigo Parar com o Cigarro”
SBG em “Na Casa do Jorge”
Heloo em “Permanência”
ieti em “Preciso Arrumar Minha Casa”
Capa e contracapa por Lessa Gustavo