Geração Z e seleção brasileira: o desejo do hexa alimentado pela web
A primeira geração com acesso fácil às conquistas brasileiras do passado, mas não às do presente
Por Luiz dos Anjos e Marcelo Henrique
Em 2002, a seleção brasileira de futebol conquistou seu último título em Copas do Mundo da FIFA, a quinta taça, firmando-se como hegemonia no esporte. Alguns torcedores nascidos a partir da virada do milênio, no entanto, manifestam seu anseio por vivenciar pela primeira vez uma conquista do Brasil na Copa do Mundo Catar 2022 e seu descontentamento pela seca, que completa 20 anos no próximo 30 de junho. Para especialistas, os sentimentos de frustração e ansiedade dos jovens em relação ao desempenho da seleção podem ser incentivados pelo uso da internet e das redes sociais.O relatório “O desafio Z: Comunicação para a geração hiperconectada”, realizado pela Kantar IBOPE Media, revela que uma das características mais marcantes da Geração Z é ser altamente conectada. Conforme o estudo, 98% deles acessam a web. Porém, sua “hiperconectividade” não se refere somente a estar “online”. Os jovens dessa geração também se distinguem por acessar a internet de mais dispositivos e por mais tempo. Enquanto a média de navegação da população geral é de 5h26 por dia, os integrantes da Geração Z passam 6h45 na rede.
Para a psicóloga e mestre em Patrimônio Cultural pela Univille, Juliana Kunz Silveira, a juventude tem utilizado as mídias digitais como grande fonte de informação, referência e identificação. “As redes sociais bombardeiam eles a todo momento com possíveis figuras de referência, que, muitas vezes, estão ligadas a vendas de produtos ou algum tipo de consumo”, explica ela. “Se partirmos do princípio que os algoritmos irão sugerir conteúdos de acordo com o interesse, a juventude acaba tendo acesso apenas às informações ‘filtradas’.” Isso, segundo a profissional, diminui a possibilidade de ampliar o olhar.
A respeito disso, Vitorí da Silva, de 23 anos, especialista em Marketing Digital com ênfase em Ciência de Dados, explica que as informações pessoais de cada conta (likes, compartilhamentos, interações no feed etc.) permitem observar padrões dos mais diversos tipos em relação aos usuários. Com isso, as estruturas algorítmicas conseguem fazer sugestões de perfis e conteúdos que os usuários podem ter interesse ou até prever suas ações.
Além disso, Juliana comenta que o desejo dos jovens de assistir a uma conquista da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2022 tem muito a ver com a cultura do país em relação a esse esporte, passada de geração em geração. “Há muitas famílias que são mais ligadas ao futebol, onde os vínculos, inclusive, são estabelecidos por meio do interesse por um clube específico, de assistir aos jogos no estádio ou pela televisão”, afirma ela. Essa cultura cultivada nas microrelações do cotidiano podem ser transferidas para a web e, mais precisamente, para as redes sociais, onde mais consomem conteúdos.
Uma pesquisa realizada pela Comscore, empresa especializada em análises de audiência online, mostra que o Brasil tem 22 milhões de jovens entre 18 e 24 anos (geração Z) conectados à internet, o que representa 17% da população digital. Desse volume, mais da metade (60%) utiliza apenas dispositivos móveis para se conectar. Além disso, o estudo aponta que 63% desses jovens utilizam a internet como primeira fonte de informação e 61% encontram na rede o principal canal de entretenimento.
O fácil acesso às memórias de conquistas passadas da seleção brasileira em Copas do Mundo, mas não poder viver isso no presente é algo que frustra jovens torcedores. “Não assisti o Brasil ganhar nenhuma Copa do Mundo”, afirma Gustavo Ponick, de 19 anos, nascido em 2003. “Depois que comecei a assistir, foi só decepção.” Ele ainda explica que passa o dia inteiro nas redes sociais, pois trabalha com isso, e acompanha conteúdos, principalmente, sobre futebol, videogame, cinema e história.
A geração que não viu o Brasil ser campeão
Nicholas Fernandes, de 17 anos, nasceu em 2004 e é estudante do terceiro ano do Ensino Médio. Ele relata que seu consumo de mídias sociais é elevado, somando cerca de 6 horas por dia ou mais. Entre os assuntos em que mais costuma inteirar-se estão futebol, cultura pop, viagens e curiosidades interessantes.
Por outro lado, Juliana também comenta que não só o acesso às memórias do passado, mas, inclusive, a possibilidade de acompanhar outras ligas e times de futebol do exterior podem potencializar o desejo de ver o próprio time ou seleção vencer um torneio importante.
O Brasil nas últimas copas
Desde o pentacampeonato, conquistado frente à Alemanha por um placar de 2 a 1, em 30 de junho de 2002, a seleção brasileira teve atuações relevantes nas edições posteriores do torneio mundial, mas em nenhuma se pode obter o tão esperado hexa. Para refrescar a sua memória, o repórter Anderson Marques traz um breve panorama da performance do Brasil nas últimas Copas do Mundo:
Para saciar o anseio da Geração Z, a seleção vai buscar o hexacampeonato neste ano. Em 1º de abril, a equipe conheceu os primeiros adversários do mundial de 2022. No grupo G, o Brasil vai ter a companhia de Sérvia, Suíça e Camarões – as duas primeiras seleções são adversários que já estiveram no mesmo grupo que a seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia em 2018.
Capa: Seleção brasileira não conquista um mundial há 19 anos. Reuters / Diego Vara