Bicicleta é meio de transporte de 11% dos joinvilenses
A estudante de Jornalismo Taynara Reinert produziu uma reportagem sobre o uso da bicicleta em Joinville e os obstáculos enfrentados quando se tenta modificar hábitos tão arraigados quanto a valorização dos automóveis e a falta de estrutura adequada aos ciclistas. O conteúdo será publicado em quatro partes. Hoje, um dos assuntos é o Plano de Mobilidade de Joinville.
971 acidentes com ciclistas nos últimos 20 meses
Conhecida como a Cidade das Bicicletas em função da quantidade expressiva de operários que saíam das fábricas sobre os pedais décadas atrás, Joinville continua na luta para minimizar o número de acidentes nas ruas envolvendo ciclistas. De janeiro de 2017 a 9 de outubro de 2018 houve 971 ocorrências, 12 só nos primeiros dias de outubro de acordo com o Corpo de Bombeiros Voluntários.
Carolina Sato faz parte dessas estatísticas. Com 24 anos, Carolina usa a bicicleta como meio de transporte diário há quatro anos, para trabalhar, estudar e para se locomover nas atividades de lazer. Em dois anos ela sofreu três acidentes. “É bem difícil, os trechos com ciclofaixa, que são poucos, acabam do nada ou têm tartarugas no seu começo e fim, o que dificulta a passagem”, comenta a ciclista.
O Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) também cobre acidentes ocasionados por veículos a pessoas transportadas ou não, incluindo ciclistas, e pode ser acionado no Detrans da cidade, pelo site, por empresas privadas que cobram pelo serviço, diretamente nos correios de maneira gratuita ou também pelo telefone: 0800 022 12 04.
Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Joinville chegou, em 2018, a 583.144 pessoas. Desse total, 11% possuem bicicletas como meio de transporte, o que equivale a mais de 64 mil joinvilenses, segundo o documento Joinville Cidade em Dados 2018, desenvolvido pela Prefeitura. O levantamento também mostra que 36% da população, ou seja, mais de 209 mil joinvilenses, possuem automóveis.
Desde 2014, Joinville acompanha o Plano de Mobilidade de Joinville (PlanMOB), em conformidade com a Política Nacional de Mobilidade (Lei 12.587/12) e o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Lei Municipal n. 261, de 28 de fevereiro de 2008), criado para estabelecer estratégias e ações que favoreçam a mobilidade sustentável na cidade e para melhorar o deslocamento de pessoas de maneira mais prática e com segurança, com economia e baixo impacto ao meio ambiente.
O PlanMOB prevê, entre seus objetivos específicos, “aumentar o índice de deslocamentos por bicicleta” e propõe, entre suas diretrizes, “ampliar a atratividade do sistema de transporte por bicicletas, garantir a qualidade de infraestrutura das vias cicláveis, considerando a segurança dos ciclistas e bicicletas e garantir a completude nos bairros, considerando moradia e trabalho”. Mas apesar das intenções, o Plano caminha com atraso e, como se percebe pela cidade, as mudanças previstas para as bicicletas ocorrem lentamente. Conforme informações da Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud), o setor público, como qualquer outro, também sofre com questões imprevisíveis e que podem acarretar alterações no plano inicial, como a adição de alguns prazos.
Dentre as 21 ações prioritárias definidas, apenas duas estão em curso e outras três seguem mapeadas. As duas primeiras são “(III) a expansão da rede cicloviária (implementada gradualmente através da manutenção de sinalização horizontal dos bairros)” e “(XVI) a sinalização para o cicloturismo – rotas da área rural”. As demais são “(VIII) a implantação de semáforo inteligente, (XIII) a ampliação da oferta de mobiliário (paraciclos) em estações de transporte coletivo e (XVI) a instituição do Selo Empresa Amiga Bicicleta”.
Quando questionada sobre os projetos para atingir os bairros mais periféricos da cidade, onde há um fluxo intenso de ciclistas, a arquiteta e urbanista da Sepud, Samara Braun, declara que há estruturação da malha cicloviária, com a manutenção de sinalização horizontal dos bairros e “estudos para implantação de sistema de bicicletas compartilhadas e possibilidade de integração com transporte coletivo (através da próxima licitação).” O acompanhamento do PlanMOB é feito tanto pelo Executivo, quanto pelo Conselho da Cidade (Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável de Joinville) e Observatório Municipal da Mobilidade.
Também participando do PlanoMOB e fomentando a prática do pedal como mobilidade urbana, o grupo Pedala Joinville destaca-se na cidade e enfrenta dificuldade para colocar o Plano em prática “Participamos ativamente, temos assento com direito a voto no Conselho da Cidade. Em termos de projeto/planejamento estamos bem, o problema sempre é a implantação/execução”, informou a Diretoria. “Há muito a fazer. Existe muito planejamento e intenções, mas pouco é colocado em prática, o foco fica sempre no carro.” Para o Pedala Joinville, a utilização diária da bicicleta é a maior luta, porque apenas com a inclusão desse meio de transporte no dia a dia das pessoas é possível “minimizar o problema de mobilidade urbana”.