Espetáculo Bio – Círculo da Vida trata de relações de cuidado entre as pessoas
Neste final de semana, de 26 a 28 de abril, o Galpão de Teatro da Ajote recebe o espetáculo Bio – Círculo da Vida. O monólogo trata das relações de cuidado entre as pessoas. O trabalho é resultado de um processo colaborativo criado a partir de memórias da atriz Ângela Finardi e de muitas pessoas que com ela compartilharam suas histórias pessoais sobre cuidar e ser cuidado.
Em 2016, o projeto foi inscrito no Edital do SIMDEC – Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura de Joinville e aprovado em 2017. O recurso foi liberado somente em março de 2018 e, a partir daí, a pesquisa para criação da dramaturgia teve início. O processo criativo, segundo Ângela, intensificou-se no segundo semestre do ano passado. “A proposta inicial era coletar essas histórias presencialmente e pela internet, verificando como e quando se dava a necessidade da presença física para a ação de cuidar, se havia possibilidade de cuidar a distância, abrangendo, enfim, essas duas formas de cuidado”, afirmou.
Uma página no Facebook foi criada com o intuito de coletar histórias para a composição da dramaturgia, no entanto a página acabou sendo utilizada pelas pessoas que tinham vontade de compartilhar a sua história apenas como um primeiro contato. Além disso, as pessoas que entravam em contato com Ângela precisavam responder algumas perguntas formuladas junto Sabrina Lermen, diretora da peça. Sabrina conta que as pessoas que compartilharam as histórias possuem perfis sócio-econômico-culturais diversificados. São pessoas que trabalham como advogados, atores, compositores, cuidadores, donas de casa, enfermeiros, escritores, estudantes, fisioterapeutas, jornalistas, médicos, músicos, professores, psicólogos, performer, técnicos de enfermagem, terapeutas ocupacionais, vendedores ambulantes. “Foi um processo muito intenso e emocionante, estar aberta a ouvir com atenção o que as pessoas tinham para contar me levou a ter experiências inimagináveis que incluíram conhecer melhor as pessoas e também ouvir palavras de gratidão por, simplesmente, estar aberta para escutar”, observou.
No decorrer do processo, a ideia de uma cena interativa surgiu, inspirada no museu de empatia sediado em Portugal: 50 pessoas que compartilharam suas histórias também doaram um par de sapatos. “O público, também limitado a 50 pessoas, é convidado a calçar um sapato diferente do seu e ouvir a história daquela pessoas e tentar se colocar no lugar dela, andar com os seus sapatos”, conta Ângela.
A história de um ator surdo levou Ângela e Sabrina a refletirem que era impossível tratar do tema “cuidado” sem pensar na acessibilidade inclusão de pessoas com deficiência. “Por isso, as 50 histórias coletadas foram transformadas em vídeo e traduzidas em Libras.
Para Ângela, a parte mais difícil de preparar o monólogo teatral é garantir um bom jogo entre atriz e público, sem dividir essa função e a energia da cena com outro companheiro de cena. “Em BIO, a escrita dramatúrgica também foi desafiadora. Quando se pega um texto pronto, de um autor clássico, 50% do percurso criativo já foi realizado e testado anteriormente. Em BIO, o desafio foi grande ao escolher, dentre as 50 histórias, apenas três para serem representadas, além de fragmentos da minha própria história”, comentou.
O público alvo desse monólogo teatral atinge profissionais e estudantes de Jornalismo e Enfermagem por serem profissões nas quais as habilidades de escutar e perceber o outro são fundamentais. Mas o espetáculo é aberto para todas as pessoas. Além disso, o público pode adquirir uma experiência sensorial e afetiva sobre cuidar do outro.