Capoeira ensina lições de vida, afeto e disciplina
Por Vinícius Sprotte
A capoeira é considerada Patrimônio Imaterial da Cultura brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. No período da escravidão dos negros, a capoeira foi uma forma de resistência dos escravos trazidos da África, utilizada para defesa física, consolidou-se no Quilombo dos Palmares. Por certo período, passou a ser vista como uma prática violenta pelos brancos e, por esse motivo, quem praticava a Capoeira estava cometendo um crime. A partir de 1930, voltou a ser legalizada, quando o Mestre Bimba fez uma apresentação da luta para o ex-presidente Getúlio Vargas, que a alçou à posição de esporte nacional do Brasil.
Juliano Ramos dá aulas de capoeira desde 2006 e conheceu essa arte em meados da década de 1990, em Balneário Barra do Sul, por causa de um grupo de amigos. Desde então, apaixonou-se por esse esporte e tem em Vicente Ferreira Pastinha, conhecido por Mestre Pastinha, sua referência. Para ele, a capoeira é mais do que uma luta. “Encaixa-se tanto como cultura quanto esporte, arte ou luta, brincadeira ou jogo”, afirma Juliano. Com a prática da capoeira, Juliano aprendeu que para ser forte não é preciso brigar. “Ela é boa para a vida. A capoeira é a única luta tocada e cantada”, conta o professor.
Fernando Ramos Caetano pratica capoeira há 11 anos no grupo Beribazu, do professor Juliano Ramos. O esporte ajuda-o como defesa pessoal, mas ele também gosta da musicalidade, da identidade cultural e da história da colonização e ancestralidade da luta. Para ele, a capoeira é um dos poucos esportes inclusivos. “A ‘capoeiragem’ não olha classe social, religião e limitações físicas”, analisa.
Na opinião de Fernando, a capoeira é pouco valorizada na América do Sul. “Certamente, se nascesse em país europeu ou asiático seria muito mais valorizada”, opina o aluno. A luta deveria, segundo ele, estar em todas as escolas públicas para estimular a parte física, motora, dar equilíbrio emocional, ajudar na criatividade, entre outros benefícios.
Professor de capoeira em Joinville, Marcelo de Souza Rafael leciona no colégio Positivo para a educação infantil. Ele começou a praticar quando tinha três anos de idade, em 1985, treinado por Mauro Barreto Dutra. “É um dos meus meios de vida, a capoeira é o que eu sou”, define ele emocionado. Ensinar a conviver em sociedade, a ter disciplina e a respeitar as outras pessoas, além de cuidar do corpo são alguns dos ensinamentos que a capoeira traz para a vida de seus praticantes. “O legado da capoeira é o respeito à memória dos mestres, daqueles escravos que morreram para a capoeira estar onde ela está hoje”, complementa Marcelo.
Musicalidade ajuda a compreender a capoeira
Toda roda de capoeira é acompanhada de música contagiante. Danças como maculelê, samba, coco de roda, ciranda, frevo, puxada de rede também são, muitas vezes, apresentadas pelos capoeiristas.
As músicas tratam da história de um povo, de um mestre, de uma época, de amor, de guerra e de paz. “Depende do que o cantador quer comunicar na roda ou no jogo, serve para muitas coisas como louvar um Deus, um santo ou um orixá”, explica Juliano. “Depende da crença de quem canta, para incentivar o jogo, provocar, acalmar, iniciar ou acabar a roda.”
Por meio da musicalidade, a capoeira trabalha o conhecimento do corpo e de seus comandos. Conforme Marcelo de Souza, os praticantes dependem das cantigas para jogar. “É como uma orquestra de berimbaus, atabaques, pandeiro, tudo isso conduzindo dois capoeiristas”.
Foto capa: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil