Estudante analisa cobertura do futsal no rádio joinvilense
José Luís tem 83 anos. A esposa, Alaíde Virgínia, 84. Os dois já viram muita coisa nesta vida. Eram crianças quando o rádio nascia e a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim. Mais tarde veio a TV, a internet e tantas outras invencionices tecnológicas. Mas, nesta semana, eles viram pela primeira vez uma apresentação de Trabalho de Conclusão de Curso de graduação. No começo da noite de quarta-feira, o casal não tirou os olhos e ouvidos do neto Vinícius Leonardo de Oliveira, que apresentou a monografia “Análise da cobertura radiofônica do futsal em Joinville”.
A ideia inicial para a pesquisa surgiu por acaso. Ao fazer uma reportagem para a faculdade, Vinícius foi a um treino da equipe de futsal JEC/Krona. Ao chegar ao ginásio para entrevistar o treinador e alguns jogadores, foi questionado se era assessor de imprensa da Liga Nacional. Os atletas estavam visivelmente surpresos com a presença de um repórter no local, pois, segundo eles, isso é raro. A partir desse instante, Vinícius decidiu investigar como ocorre a cobertura do futsal pela mídia local e compará-la com a atenção dispensada ao futebol.
Enquanto o Joinville Esporte Clube, principal equipe de futebol de campo da cidade, atravessou um ano difícil, com maus resultados, dificuldades financeiras, torcida desanimada e uma agenda de jogos esvaziada, a equipe de futsal (JEC/Krona) está na elite da modalidade, firmou-se como uma das mais importantes do país. Mesmo assim, a pesquisa verificou que o espaço e a qualidade de cobertura dedicados ao futebol do JEC é bem maior que a atenção dispensada ao futsal.
Na parte quantitativa da análise, Vinícius verificou que, em três programas observados (todos após bons resultados do futsal), o tempo dedicado ao futebol de campo (na soma das quatro emissoras) foi de 111,39 minutos, enquanto para o futsal foi de 61,36.
Além de analisar programas esportivos de quatro rádios joinvilenses, Vinícius também entrevistou profissionais que atuam na cobertura esportiva e na assessoria de imprensa do Krona e da Liga Nacional de Futsal. Entre os resultados, ele observou que os motivos alegados para a pouca atenção ao futsal são patrocínio insuficiente para manter profissionais que acompanhem a equipe em todos os jogos; falta de espaço na programação; carência de profissionais com conhecimento aprofundado do futsal; questões culturais, pois se alega que a “paixão nacional” é o futebol e valores financeiros que o futebol movimenta.
A professora de radiojornalismo Solange Engelmann, uma das avaliadoras, elogiou a escolha da perspectiva antropológica para tratar do futebol e sugeriu alguns autores para aprofundar outros pontos de vista. Também fez algumas contribuições acerca da organização das categorias de análise e cobrou uma postura mais crítica de Vinícius na apresentação dos resultados. “Creio que a idolatria também pode ser uma das causas para a pouca visibilidade do futsal, pois se trata de um jogo mais coletivo do que o futebol de campo, onde sempre há o ídolo da vez”, argumentou.
Com a experiência de quem já trabalhou em rádio, a professora Maiara Maduro gostou da organização do trabalho, apontou algumas correções textuais e sugeriu aprofundar a abordagem teórica sobre jornalismo esportivo. “Discutir como esses veículos estudados encaram a cobertura esportiva – se como informação ou mero entretenimento – também seria interessante”, comentou.
Depois de uma hora e trinta minutos, a orientadora de Vinícius, professora Marília Crispi de Moraes, anunciou a aprovação do trabalho, com nota 8. Seu José e Dona Alaíde puderam enfim transformar a emoção da primeira banca em um longo e afetuoso abraço no neto jornalista.