Mulheres conquistam novos espaços no futebol
Por Nadine Quandt
De segunda a sexta, Jéssica Bett é estudante e estagiária de Jornalismo, mas, aos finais de semana, ela assume as funções do cargo de presidente do União do Oeste, clube amador da Segundona de Joinville. Ela é a primeira mulher a ser eleita presidente em um time de futebol amador da cidade. No cargo desde janeiro, Jéssica tenta conciliar seu dia a dia corrido com a agenda da presidência do clube. “As reuniões são feitas em dia que não tenho aula. Tentamos sempre nos programar com antecedência”, conta.
A estudante de 27 anos ocupa um local incomum para mulheres. Segundo pesquisa do Instituto Ethos, de cada 300 cargos executivos no futebol brasileiro, apenas cinco são ocupados por mulheres. “Eu não queria me candidatar, porque tinha receio por ser a única mulher na diretoria. Quando indicaram meu nome, tomei coragem e fiquei chocada com o resultado”, revela Jéssica.
Como o União do Oeste é um clube majoritariamente masculino, Jéssica teve medo de não ser respeitada, mas a receptividade foi boa. “No fim, todos me incentivam, algumas esposas de atletas, atletas do time feminino e torcedoras se dispuseram a ajudar no que for possível”, conta a presidente. Para ela, o diferencial do clube é seu ambiente acolhedor, que promove eventos para aproximar as famílias. Todos os jogadores e funcionários são voluntários e o time se mantém com o apoio dos torcedores e patrocínios.
Em março, o União do Oeste organizou um campeonato de futebol feminino. “Dentro da diretoria já existia o desejo de em criar um campeonato mais longo dedicado ao público feminino”, afirma Jéssica. O objetivo do evento era promover o crescimento da modalidade no município e também apresentar as equipes ao público.
Desbravando caminhos
Joinville é a maior cidade de Santa Catarina e não tem nenhum time profissional de futebol feminino. São aproximadamente 20 times amadores. O primeiro campeonato promovido pela prefeitura ocorreu no ano passado. “O cenário do futebol feminino é pouco assistido, possuímos atletas de nível altíssimo, de rendimento excelente, mas infelizmente nunca nos dão espaço”, conta Patrícia Borba, presidente do clube Damas da Bola.
As categorias femininas do futebol joinvilense encontram muitas dificuldades. Há poucos campeonatos, a maioria financiados pelas próprias jogadoras. Os patrocínios são escassos e a falta de salário das jogadoras faz com que elas abandonem o futebol para assumirem um trabalho remunerado. “Já é uma conquista fornecer, com muito trabalho, os uniformes sem custo para as jogadoras”, afirma Patrícia.
Joinvilense na Seleção Brasileira de Futebol Sete
Tânia Pereira, 27 anos, é joinvilense e jogadora da seleção brasileira feminina de Futebol Sete. Ela começou a carreira no Sem Maldade, time amador de campo, onde recebeu sua primeira convocação nacional. “O futebol de Joinville ainda está em uma fase inicial, falta investimento e atenção do governo. Porém, as meninas se dedicam tanto que ultrapassam as dificuldades”, conta Tânia.
Ela começou a treinar no futebol aos sete anos, na escolinha Fundação Joinville. “No início sempre ouvimos piadas, não acham que o futebol é um esporte feminino. Superei isso e tenho orgulho de onde cheguei com minha habilidade”, revela a jogadora. Tânia joga Futebol Sete desde de 2016, conquistou com a seleção brasileira dois títulos de Copa das Nações e uma Copa América.
Atualmente, Tânia é jogadora contratada do time Avaí Júnior, em Florianópolis, mas também também trabalha como promotora de vendas para complementar a renda.
Nenhum jogador profissional masculino precisa ter dois empregos. Quando começarem a investir no futebol feminino, ele vai crescer sem parar (Tânia Pereira, jogadora)