Bibliotecas alternativas facilitam acesso à leitura
Por Rafaela Sant’Anna
O brasileiro lê, em média, dois livros por ano e cerca de 30% da população nunca comprou um livro. Os dados da pesquisa Retratos da Leitura, realizada em 2016 pelo Instituto Pró-Livro, apontam também que classes mais baixas têm o maior percentual de não-leitores, cerca de 60%. Os baixos níveis de leitura não assustaram o otimista professor Jailson Cordeiro, que há pouco mais de dois anos deu início à Biblioteca de Muro.
“Como toda ideia criativa surge de um problema, pensei em como fazer para tornar popular a literatura e fazer dela um hábito. Lembrei de algumas hortas comunitárias que são feitas nas calçadas e aí surgiu a iniciativa de fazer a biblioteca no muro”, conta Jailson.
O professor já fazia diversos trabalhos na área cultural, atuando em projetos de dança e música. Durante um curso de criação e inovação, realizado em São Paulo, foi desafiado a criar algo gastando apenas dez reais e assim surgiu a ideia de trabalhar com a literatura. Com os materiais necessários, Cordeiro chamou um colega e juntos executaram o projeto.
A biblioteca fica na rua Barra Velha, bairro Floresta, e está ativa desde abril de 2018. Já foram catalogados mais de 500 livros, todos doados pela comunidade. O acervo fica armazenado em uma estante de madeira totalmente fechada, para assegurar a conservação dos volumes. Para ter acesso, os leitores só precisam ir até o local, escolher um livro e devolvê-lo após o término da leitura. Devido às doações, os gêneros variam bastante, mas, em geral, a maioria são romances e literatura infantil.
Para a professora de Língua Portuguesa da rede estadual Édna Polanczyk, as iniciativas de bibliotecas alternativas são interessantes e extremamente válidas, principalmente quando ficam em pontos estratégicos e de fácil acesso à população. “A proximidade do contato com o livro incentiva a leitura, pois tudo que se mostra frequente ao nosso cotidiano acaba por ser incorporado a ele. Se tenho livros à disposição todo dia, uma hora ou outra, por cansaço ou por curiosidade, vou pegar um deles”, observa. Segundo ela, a Casinha de Leitura que fica na entrada do Supermercado Fort Atacadista e as prateleiras com livros que ficam na farmácia de manipulação Botica do Vale, também são projetos que ajudam a estimular a leitura.
A jornalista Marcela Güther, que organiza o grupo Leia Mulheres em Joinville, concorda com Édna sobre a escolha dos lugares para as bibliotecas alternativas. Para ela, o conteúdo das bibliotecas é muito importante. “Já vi algumas ações, mas nunca peguei um livro dessas bibliotecas, pois as obras não batiam com o meu gosto pessoal. Acho que um ponto a ser relevado nesse tipo de ação é quais livros são dispostos ao público, já vi muitos técnicos e pouco atrativos.” Ela também acredita que durante a pandemia, esse tipo de ação fica mais limitada.
Outros projetos de leitura em Joinville
A Associação Atlética de Comunicação (AACOM), da Faculdade Ielusc, também desenvolveu um projeto de incentivo à leitura, a Geladeira Literária. A biblioteca foi levada para a comunidade Jardim das Oliveiras, em Araquari. A comunidade passa por diversas dificuldades. O local não tem saneamento básico, energia elétrica e por ser uma ocupação, passa pelo constante risco de despejo.
Durante uma reunião para elaboração do projeto, um estudante informou que em sua antiga escola haviam geladeiras paradas. Ao fazer contato com a escola, a geladeira foi doada e assim surgiu a ideia do armazenamento dos livros. Uma campanha para doação foi realizada dentro e fora das dependências da Faculdade Ielusc. Cerca de 400 livros foram arrecadados. “Na hora que descemos com a geladeira, as crianças ficaram doidas e já foram pegando os livros pra ler”, conta a presidente da Atlética, Gabriela Dutra. A geladeira possui livros de ficção, psicologia, autoajuda e infantis.