Joinville tem déficit na balança comercial pelo sexto ano consecutivo
Por Kevin Eduardo da Silva*
Faz mais de seis anos que a balança comercial de Joinville apresenta saldo negativo. Em agosto de 2020, o déficit era de US$ 747 milhões de dólares, segundo o portal Comex Stat, que apresenta estatísticas sobre o comércio exterior.
De acordo com Andrei Vinicius da Rosa, bacharel em Comércio Exterior e atual presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Associação Empresarial de Joinville (Acij), o déficit na balança comercial não significa necessariamente algo negativo. Segundo ele, abrir a região para a importação pode gerar mais competitividade na indústria e estimular a criação de empregos, principalmente na parte de logística. Mas ele também enfatiza a necessidade do fomento à exportação.
Com a pandemia, muitos brasileiros perderam os seus empregos e a renda, o que diminuiu o poder de consumo. Logo, a produção e exportação de produtos seria uma das soluções para tentar vencer a crise pós-pandêmica. Segundo a avaliação de Andrei, o Brasil não tem uma política de Estado de fomento à exportação, já que o país foca no mercado nacional.
Em Santa Catarina, Joinville ocupa o 2º lugar no ranking de importações e fica em 3º lugar nas exportações. A cidade é responsável por quase 15% do total de importações do estado. Somente no primeiro semestre deste ano, foram importados mais de um bilhão de dólares em produtos.
No cenário nacional, o Brasil importa muita manufatura (produtos em grande volume) e exporta muitas commodities (matéria prima, como petróleo, gado, café, soja e ouro). Em Joinville, 33% de produtos importados (cerca de US$ 404 milhões) são máquinas e aparelhos, material elétrico e suas partes (manufaturados) e 23% são de metais comuns, que geralmente são importados pelas indústrias da região.
Em busca do equilíbrio
Para o economista e professor Ulises Jacinto Aguayo Garrido, uma balança comercial ideal é aquela que apresenta equilíbrio. “A balança deveria estar menos negativa. O ideal é que estivesse positiva. Deveríamos exportar mais o que produzimos, para que isso se transformasse em recursos financeiros e estimulasse nossa economia”, explica.
De acordo com Garrido, Joinville poderia ocupar um ranking comercial melhor por conta dos fatores socioeconômicos e estratégicos da cidade. Ele avalia que a cidade está muito bem localizada, mas ainda faltam condições para que o município produza mais.
Segundo o professor, os principais motivos que impedem o aumento da taxa de exportação são a falta de infraestrutura na cidade e de incentivos fiscais às indústrias.
Relações comerciais
Quando o assunto é importação, um dos maiores parceiros comerciais de Joinville é a China. No ano passado, Joinville importou cerca de US$ 925 milhões em produtos chineses e, neste ano, até setembro, o equivalente a 504 milhões de dólares.
Mas a relação do Brasil com a China só foi possível graças a um protocolo assinado em 2004, durante o governo Lula, em que o Brasil reconhecia o país asiático com uma economia de mercado.
“Atualmente, a China é a fábrica do mundo”, diz Andrei. Para ele, o Brasil deve continuar a manter boas relações com o país asiático. Além disso, avalia que uma das estratégias para o país superar crise pós-pandêmica é fortalecer as relações com a América Latina. “Para as pequenas e médias empresas esta é uma saída, já que os nossos laços culturais com os países vizinhos são muito fortes. Além disso, há uma facilidade de logística imensa, o que é bem vantajoso para nós brasileiros”, enfatiza.
O professor Garrido segue a mesma direção: fortalecer as relações com a América Latina é uma das saídas para vencer a crise. “Nós (América Latina) seríamos o 4º PIB do mundo. Somos egoístas. Por exemplo, a Argentina não faz parcerias, ela compete com o Brasil. Temos também condições de fazer parceria com o Peru”, explica. De acordo o professor, faz tempo que essas ligações entre a América Latina são possíveis, mas as forças políticas não deixam que isso aconteça.
O caminho para atingir isso ainda é longo. Uma pesquisa, de 2015, mostra que os brasileiros desprezam a identidade latina, mesmo se vendo como líderes da região.
*Reportagem desenvolvida na disciplina de Jornalismo Impresso 3, com orientação do Prof. João Kamradt