Mulheres, negros e LGBTQI+ ainda têm pouco espaço na política
Por Ana Carla Rubi*
O novo mandato para prefeitos e vereadores começou há quase um mês, mas o espaço para mulheres, negros e representantes da comunidade LGBTQI+ continua restrito. Em Joinville, dos 14 candidatos a prefeito, apenas duas eram mulheres, Tânia Eberhardt (Cidadania) e Mayara Colzani (PSOL). Tânia ficou em 4° lugar, com 17.436 votos, e Mayara em 13°, com 3.080 votos. Entre as 177 candidatas que concorreram a uma cadeira na Câmara de Vereadores, apenas duas conseguiram se eleger: Tânia Larson (PSL) e Ana Lúcia Martins (PT), o que representa apenas 1,12% das candidaturas. Tânia já era vereadora e Ana Lúcia se elegeu pela primeira vez. Ela também é a primeira vereadora negra eleita na história de Joinville.
A Frente Negra Joinville foi criada no ano passado com objetivo de ampliar a representatividade dos negros na política local. Dos quatro candidatos da Frente Negra, apenas Ana Lúcia Martins foi eleita. Ela obteve 3.126 votos. No dia 15, ao final das apurações, a vereadora sofreu ataques de cunho racista na internet e ameaças de morte.
Emerson França de Souza, presidente da sociedade Kênia Club de Joinville, ressalta que o clube sempre tenta colocar candidatos negros para ter maior representatividade na Câmara. Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 18% da população de Joinville é negra. É o maior contingente de Santa Catarina. Nas últimas eleições municipais, 12,2% dos candidatos em Joinville eram negros e pardos, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Não há dados estatísticos oficiais sobre as candidaturas de LGBTQI+, pois no processo de homologação das candidaturas essa informação não é coletada pelo TSE. Segundo a União Nacional LGBTQI+ (UNA), que faz um levantamento próprio, havia cerca de 411 candidaturas no país.
A União Nacional LGBTQI+ conta com representações em vários locais do país, inclusive em Joinville. Criada em 2020, a UNA ressalta que a maneira adotada para trazer candidaturas mais representativas é eleger pessoas com conhecimentos das demandas das minorias. Jonas Massaro, presidente da UNA – Joinville, acentua que a união tenta trazer a população para o centro da conversa como parte integrante da candidatura. “É a única forma de construir uma Joinville diferente”, afirma.
Massaro conta que a pandemia acabou dificultando o estreitamento da União junto com a população joinvilense. “Tivemos muitas dificuldades em nos inserir em ambientes públicos por conta do isolamento social”, acrescenta.
Sociólogo defende sistema mais participativo
O professor Dauto da Silveira, doutor em Sociologia, enfatiza que o cenário de dominância no Brasil pode ser mudado a partir de uma revolução democrática operária. “É um movimento que tem que partir dos trabalhadores, das maiorias. É preciso transformar os poderes políticos em um sistema participativo, no qual coloque a classe trabalhadora como protagonista do processo político democrático”, ressalta Dauto.
Segundo o sociólogo, na atual sociedade liberal, predomina a representatividade das classes que possuem mais poder aquisitivo, dos mais ricos, que não são maioria em população, mas o são em espaços de decisão. Silveira enfatiza a importância da participação da população trabalhadora nesses espaços de poder.
Apesar do aumento nas candidaturas de mulheres, sua representação ainda está limitada a cerca de 30% das novas composições políticas, mesmo representando 51,8% da população brasileira, de acordo com os dados do último Censo, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mandatos coletivos são nova opção entre candidatos
A democracia representativa tem muitas formas de se apresentar aos eleitores. Uma forma recente de dividir a responsabilidade e somar esforços em torno de uma mesma causa são as candidaturas coletivas. O TSE permite apenas candidaturas individuais, porém, nas últimas eleições várias candidaturas apresentaram-se como coletivas. Joinville contou com duas campanhas coletivas, a do Coletivo Juntas (PT) e da Coletiva Bem Viver (PSOL).
Dentro das campanhas coletivas, os candidatos se unem em torno de um objetivo comum. Entretanto, somente um candidato pode formalizar o registro dentro do TSE, enquanto os outros participam da campanha, organizam-se para conseguir votos e, se eleitos, auxiliam a formular projetos de lei. A participação é fruto de um acordo entre o partido e candidatos.
A Coletiva Bem Viver faz parte do Subverta, do PSOL, um coletivo nacional com ideias de preservação ambiental e divisão de poder mais igualitária. No Brasil são três candidaturas: Rio de Janeiro, Florianópolis e Joinville. Em Joinville, a Coletiva é representada por três pessoas: Eduardo Besouro, Rossana Belé e Tarcísio Cura. Eduardo estava inscrito no TSE como candidato principal.
Segundo a Coletiva Bem Viver, cada candidato tem sua personalidade no decorrer da campanha, o que pode ser identificado em suas redes sociais. A coletiva Bem Viver de Florianópolis conseguiu eleger representante nas últimas eleições.
Outra campanha coletiva que concorreu em Joinville foi do Juntas, do PT. O coletivo é composto por cinco mulheres: Iraci Seefeldt, Maria Ivonete Peixer, Mônica Almeida, Patrícia da Silva e Valéria Nunes. Oficialmente, no TSE, a candidatura registrada foi de Valéria Nunes. As outras quatro seriam co-vereadoras. A principal proposta do Juntas é o fortalecimento da mulher inserida no meio político. O coletivo ressalta que é raro ver mulheres em situação de protagonismo no campo político, e que isso é ainda mais difícil em cidades do Sul do país.
*Reportagem desenvolvida na disciplina de Jornalismo Impresso II (Tutoria), com orientação da professora Maiara Maduro