Meu Amigo Totoro e o olhar singular das crianças
Por Henrique Duarte
“Você deve ter conhecido o senhor desta floresta. Significa que você tem muita sorte. Mas, nem sempre é possível encontrá-lo”. Meu Amigo Totoro (1988), de Hayao Miyazaki, expressa o que há de doce no olhar das crianças. O filme retrata aflições, amor familiar e muita magia, entregando esperança a um Japão pós segunda guerra mundial.
A história fala sobre as irmãs Mei e Satsuki, que se mudam com o pai para um vilarejo no interior do Japão, para ficar perto da mãe hospitalizada. Na nova casa, perto de uma canforeira — árvore nativa do Extremo Oriente — , elas vivem várias aventuras com Totoro, uma adorável criatura mística que só pode ser vista pelas crianças.
A trama de Miyazaki sintetiza, da melhor forma, pequenos detalhes da animação que fazem com que cada frame se aproxime da realidade. Em Totoro, o diretor expressa essa proximidade nas emoções das crianças. Por exemplo, no choro delas, a gama de emoções pelas quais passam é expressada de forma íntima e realista, da mesma forma que qualquer criança desta idade costuma fazer. O que impressiona nas obras dos Studios Ghibli é a materialização de universos fantasiosos, com uma natureza rica em detalhes e animações fluidas, utilizando planos abertos e com poucas interrupções. Na obra, a direção de arte fica por conta de Kazuo Oga, que, na época, era apenas um entusiasta iniciante nas animações, mas que possuía um grande cuidado criativo para dar luz à trama de forma animista e espiritualmente viva.
Por ser um filme destinado majoritariamente ao público infantil, a história é mais uma cativante experiência visual e sonora do que, de fato, uma narrativa moral e repleta de lições – como em outros filmes da produtora. Porém, isso não significa que o enredo seja vazio ou meramente estético: Meu Amigo Totoro aborda questões familiares de forma intimista, explicando a importância do compartilhar e, acima de tudo, explorando os sentimentos de um Japão que, naquela época, era uma sociedade rural pós-guerra.
Em alguns quadros, as emoções exibidas foram feitas de maneira que aproximam o público da trama fantasiosa. A pureza nas cenas das personagens traz empatia para os espectadores. É notório que Meu Amigo Totoro se tornou uma obra-prima de Hayao Miyazaki. O filme é reconhecido até hoje no Japão e, o personagem que intitula o filme, se tornou o mascote oficial dos Studios Ghibli.
O clássico japonês faz jus à posição de umas das animações mais emblemáticas dos Studio Ghibli. Não é atoa que Totoro, até hoje, é o ícone de representação da produtora. A sensação imagética do mundo que Miyazaki criou, traz consigo uma profundidade lúdica e muito esmero por meio de um conto baseado no folclore japonês.