Elas querem passar: circular pelas ruas é motivo de medo para a maioria das mulheres
Por Amanda Santos
Ir e vir é um direito garantido pela constituição brasileira a todos os cidadãos. Entretanto, para as mulheres, circular livremente pelas ruas não é tão fácil. São diversas pesquisas, dados e depoimentos que apontam para tal. Nem mesmo ir à padaria, à faculdade ou ao trabalho são ações simples para as mulheres, pois a preocupação é constante e o medo está quase sempre presente.
“Uma vez eu estava indo para o centro da cidade a pé, um carro com dois homens se aproximou de mim e me ofereceram uma carona. Eu recusei e eles me seguiram durante várias quadras”, relata Dyenifer Soares, 20 anos. Segundo ela, essa é a situação que mais a deixou com medo ao andar sozinha pela rua.
Infelizmente, as situações de importunação e assédio às mulheres nas ruas são comuns. Conforme a pesquisa “Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade” realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, 69% das mulheres já sofreram cantadas inconvenientes e olhares insistentes durante os seus deslocamentos. Além disso, 35% já foram vítimas de importunação/assédio sexual e 67% das mulheres negras disseram já terem passado por alguma situação de racismo.
Para Natália Schlickmann, 25 anos, o medo de andar nas ruas é maior à noite e em locais com pouco movimento. “Eu já mudei meu trajeto várias vezes por medo de que algo acontecesse comigo”, conta ela. Natália também já passou por situações em que homens na rua lhe disseram coisas inconvenientes.
Além de mudar o trajeto, algumas mulheres deixam de ir para os locais desejados por conta do medo. Em uma enquete realizada com 27 mulheres pela Revi, 70% delas disseram já terem deixado de sair por medo de irem sozinhas até o local. A pesquisa também mostrou que todas elas já passaram por alguma situação de assédio ao saírem sozinhas de casa.
Justamente pelo número de casos e pelo medo, algumas alternativas são desenvolvidas para que o trajeto das mulheres se torne um pouco mais seguro. Este é o caso da Nina, uma plataforma desenvolvida para que mulheres possam denunciar casos de assédio e violência na mobilidade urbana. Com base nessas denúncias, a plataforma busca influenciar na criação de políticas públicas e privadas para a prevenção de casos. A Nina foi criada por Simony Cesar, premiada pela ‘Forbes Under 30’ pelo projeto. Além da Nina, o aplicativo Malalai também tem o objetivo de tornar o deslocamento das mulheres mais protegido. Através dele é possível consultar quais são os caminhos mais seguros para percorrer o trajeto.
Essas iniciativas são essenciais para que as mulheres se sintam seguras em um país como o Brasil. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), o Brasil é o quinto país que mais pratica feminicídio no mundo, ou seja, onde as mulheres são vítimas por conta do seu próprio gênero. Além das mortes, também é registrado um caso de estupro a cada 11 minutos e 536 ocorrências de violência por hora.
Tanto para Dyenifer quanto para Natália, a educação de gênero nas escolas poderia diminuir o machismo existente e reduzir situações de assédio e violência. “É necessário reverter toda criação e educação machista que levam os homens a não nos respeitarem”, pontua Dyenifer.
Foto de capa: reproduzido por capazes.pt/cronicas/nada-vai-mudar-se-nao-lutarmos-e-denunciarmos/