As políticas da Dinamarca: Uma análise da série Borgen
Criada por Adam Price e exibida entre 2010 e 2013 pela emissora dinamarquesa DR, Borgen foi uma série muito importante na década passada. Vindo de uma tradição de obras como The West Wing, a série explora de forma ficcional as políticas do país escandinavo. A série contou com três temporadas de dez episódios, até 2022, quando a quarta temporada foi lançada. Nas três primeiras temporadas, cada episódio conta com duração de uma hora. Foram produzidos trinta episódios.
Centrada em Birgitte Nyborg (Sidse Babett Knudsen), a primeira mulher a se tornar primeira-ministra (PM) do país, a obra explora sua vida pública e privada e as estratégias que tinha de fazer para conseguir governar o país. Também é centrada nos jornalistas que acompanham ela e seus colegas. Katrine Fonsmark (Birgitte Hjort Sorensen) é uma dessas figuras da imprensa. Uma jovem e corajosa jornalista da rede ficcional TV1.
Ao longo de suas duas primeiras temporadas, a série explorou a vida de Nyborg como PM. De forma orgânica, vemos como sua vida pessoal é afetada pela nova posição que ocupa. Vemos o caminho que leva ao fim de seu casamento com Philip Christensen (Mikael Birkkjaer) e também como seus filhos, Magnus e Laura, são afetados por isso. Fonsmark também tem um desenvolvimento digno de nota. Seu relacionamento com Kasper Juul tem vários altos e baixos, mas é muito interessante de se acompanhar. Kasper (Pilou Asbaek) é o assessor de campanha de Birgitte. Um homem com um passado complicado, é um dos personagens mais interessantes de acompanhar o desenvolvimento nos primeiros vinte episódios.
A forma como os roteiros abordam a forma de se fazer política acaba sendo um dos grandes acertos na série. Algumas coisas mostradas logo no começo, nas dinâmicas entre imprensa e política, poderão chocar o público. Pelo menos na forma como esses aspectos são retratados na série, trata-se de uma sociedade muito diferente da brasileira. É comum vermos os filhos da personagem da primeira ministra assistindo aos debates na televisão com seus pais. Os debates televisionados também são diferentes dos vistos por aqui, é algo que pode chocar o telespectador latino. A forma de se fazer jornalismo é muito diferente também, apesar de algumas coisas serem facilmente identificáveis. Principalmente na temporada final.
Se a série brilha quando aborda seus temas e a sociedade dinamarquesa, o desenvolvimento de alguns personagens acabam ficando em segundo plano ou acaba não existindo. Por mais que não seja a intenção dos roteiristas explorar todos os personagens, alguns acabam ganhando nosso interesse. A figura de Hanne Holm, uma jornalista idosa e mais experiente, acaba sendo muito interessante à primeira vista, mas acaba não sendo explorada como se deveria.
Porém, se os coadjuvantes poderiam receber maior destaque, o desenvolvimento das duas protagonistas acaba sendo o mais digno de nota. Birgitte e Katrine são as personagens que mais evoluem e recebem destaque com o passar dos episódios. De certa forma, são as duas que terminam mais transformadas ao final de trinta episódios.
Ao longo de três temporadas, Adam Price abordou de forma competente dois setores da sociedade dinamarquesa. Com um rico desenvolvimento de suas protagonistas, a série se mostra como uma das melhores em seu gênero. Com certeza merece os status de cult que recebeu ao longo da década passada.
Com uma quarta temporada tendo estreado em 2022, me pergunto, dado o final dos personagens a quase uma década, como eles se encontram nos dias de hoje. É uma resposta que terei muito em breve, quando conferir os oito episódios produzidos em parceria com a Netflix. De qualquer forma, Borgen, em suas três temporadas originais, acaba sendo uma verdadeira joia na forma como aborda o mundo político. Uma excelente produção, sem dúvida.