Ary Silveira de Souza, autor do livro “Memórias de um jornalista joinvilense”, é um repórter e radialista aposentado com 58 anos dedicados à comunicação. Na obra, Ary conta através da sua experiência na profissão a rotina de um radialista joinvilense durante os anos 50 e 60.
O escritor atuou em rádios em toda Santa Catarina, como na rádio Difusora (1961) e na rádio Clube de Capinzal (1972). Em uma breve conversa, afirma com bom humor que, se fosse para fazer aquilo que mais gosta, “estaria na beira da praia pescando”. Mas, com um inevitável brilho nos olhos, destaca que “foi na comunicação em que eu realmente me achei”.
Questionado sobre as principais mudanças percebidas no jornalismo moderno, o radialista comenta: “rezo a Deus para que eu não comece a pensar que o que era velho, foi melhor ou mais bonito”. Afirma que hoje, com o surgimento da internet, fazer jornalismo se tornou mais fácil, porém mais perigoso. Ary explica que a neutralidade que tanto preza está cada vez mais perdida, e que foi substituída por opiniões, que, segundo ele, não condizem com a realidade.
“Hoje quando se deseja saber alguma informação, como, por exemplo, a capital da Nicarágua, basta apenas fazer uma rápida pesquisa”, ponderou Ary. “Porém, o problema é que as pessoas se contentam rapidamente com o primeiro resultado. Não buscando um segundo para confirmarem”, avalia o autor. Com isso, compreende que o achismo em torno das informações acaba se instaurando, resultando em textos que impedem os leitores de pensarem.
Ao comentar sobre o livro, Ary diz com veemência que está orgulhoso de trazer em sua obra um texto sem qualquer nível opinativo sobre os assuntos abordados, prezando sempre pela informação, sem rodeios.
Sobre a obra: leituras e percepções
O livro de Silveira, publicado em 2018 e com 240 páginas, conta através de uma escrita simples e quase impecável situações vividas em seu cotidiano profissional. A obra foi publicada pela editora Areia, localizada em Joinville. Ao se apropriar de uma linguagem de entendimento universal, com graça e simplicidade de uma pessoa com pouco tempo de escola (Ary estudou até a quarta série), o escritor não parou no tempo e muito menos se intimidou com os desafios da escrita. É possível afirmar que a obra do ex-radialista não deve em nada a outras do gênero.
Mesmo que o conteúdo seja baseado em histórias de vida e em experiências pessoais, o livro tenta, com todos os meios possíveis, contextualizar o leitor sobre as situações político-sociais de uma Joinville pré e pós-ditadura militar. Com certeza, esses momentos históricos tornam a obra ainda mais rica. Apesar desses momentos serem curtos e sem muitos detalhes, ainda assim, são um ótimo atrativo.
Entretanto, é de se perceber que a intenção do livro não é ser uma obra rica em detalhes e divagações longas, como é possível observar em muitos dos clássicos da literatura. A obra de Ary se encaixa mais como pequenos recortes de uma grande história. Esses recortes, por serem curtos e concisos, acabam por tornar a leitura mais dinâmica a leitores mais inexperientes. Sendo assim, se torna uma leitura rápida e de caráter informativo para aqueles acostumados com a leitura regular.
Por fim, “Memórias de um repórter joinvilense” é um livro para quem busca uma leitura para o final de semana e para aqueles que possuem interesse em surfar nas ondas da memória de uma pessoa bem vivida, com algumas histórias trágicas e cômicas para compartilhar. Sendo perceptível o carinho e o esmero impostos em cada página, o autor afirma desejar contar sua história para que “eu não morra com elas”.