Avanço nas tecnologias aumenta uso de aplicativos de relacionamento
Por: Ana Júlia Dagnoni Zanotto
O século XXI como um todo está marcado por muitos avanços nas tecnologias, o que gera um aumento no número de pessoas que utilizam a internet para praticamente tudo, desde atividades como trabalhar home office até conhecer possíveis parceiros amorosos online. Porém, existem alguns perigos e alertas sobre esses relacionamentos por redes sociais e aplicativos. A preocupação principal vem da delegada Débora Mafra, da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM), que afirma: “É muito perigoso nós, não só as mulheres, mas todas as pessoas, irmos a encontros com pessoas desconhecidas. Os crimes aumentaram, principalmente entre as adolescentes.”
E não se trata apenas de perigos para a integridade física da pessoa, mas também de outros provenientes de fenômenos como os da chamada “Uberização” dos relacionamentos. Tal termo surgiu na internet mais ou menos no período em que o aplicativo de carros particulares Uber se tornou mais conhecido, por volta dos últimos cinco anos. Se trata de uma comparação entre os relacionamentos “instantâneos” e a utilização do próprio Uber, onde o passageiro pede um carro e este chega em poucos minutos, depois o passageiro pode dar uma avaliação para a viagem e ainda classificá-la de zero a cinco estrelas.
O Tinder, um dos aplicativos de relacionamento que foi comparado com o fenômeno da Uberização, possui mais de dez milhões de usuários ativos no Brasil, segundo dados da revista Istoé de março de 2022. Este foi o tema de uma pesquisa realizada com 76 jovens de 18 a 28 anos, e os resultados mostram que mais de 55% dos entrevistados afirmam ter interesse em utilizar o aplicativo, ou já o utilizam, enquanto os outros 45% demonstram medo e falta de interesse nesse formato de conhecer novas pessoas.
Eduardo Souza, um estudante de 21 anos que utiliza o Tinder há pelo menos cinco meses, diz que se sente inseguro pois nunca sabe se aquela pessoa com quem está conversando é realmente aquilo que diz ser. Ele ainda fala que há muita superficialidade, as fotos que se expõe são julgadas como se a pessoa por trás delas fosse um produto: “Você recebe likes, deslikes, é tudo tão automático que chega a ser estranho. Às vezes me sinto mal pois parece que deixamos de valorizar as questões mais profundas dos relacionamentos, mas ao mesmo tempo é tão prático conhecer gente de qualquer lugar do mundo, por exemplo.”
Por outro viés, muitos que já tinham dificuldade em se relacionarem pessoalmente com os outros, viram na internet e nos aplicativos uma forma mais “confortável” de fazer isso. A jovem Rafaela Silveira, 19 anos, disse: “Não precisar sair de casa e nem mostrar necessariamente meu rosto dá segurança, pois sempre sofri com a timidez.” Enquanto isso, muitos afirmam sentir medo em se envolver e compartilhar coisas com alguém que não viu pessoalmente.
A psicóloga Adriana Nunan, alerta para as questões importantes que devem ser levadas em consideração antes de embarcar em um relacionamento online: “Vejo muita gente avaliando as pessoas pelo desempenho delas, como se estivessem mesmo prestando e recebendo um serviço”. Ela ainda compara as relações por aplicativo com o termo do sociólogo Bauman da “Sociedade Líquida”. “O problema não mora necessariamente no meio online, mas ele facilita essa desvalorização dos sentimentos mútuos”, completa a psicóloga. Fenômenos como o ghosting (quando a pessoa some), muito associado com a Uberização, contribuem para que as pessoas se sintam mais pressionadas a agradar umas às outras e não serem elas mesmas, e isto, segundo Adriana, é um problema que afeta a saúde mental.
Mas, após dois anos do início da pandemia e distanciamento social, o único modo que muitas pessoas encontraram de manter suas relações foi pela internet. Dados da Pew Research Center, de 2020, mostram que ao longo desses dois anos a utilização dos apps cresceu cerca de 215%. O que também aumentou nesse período foram as manifestações virtuais de páginas como a Revista TPM (Trip Para Mulher), que realizou matérias voltadas para reflexão do público acerca da banalização dos sentimentos e das relações online, especialmente amorosas.