Borgen: Um novo capítulo
Dez anos se passaram desde que Borgen exibiu sua terceira temporada e concluiu as jornadas de Birgitte Nyrborg e Katrine Fonsmark. Nos anos seguintes a seu termino, a série criada por Adam Price alcançou uma legião de fãs e adquiriu os status de cult. Em 2020 a emissora dinamarquesa DR anunciou junto da Netflix que produziria uma quarta temporada. Lançada no começo de 2022 e tendo oito novos episódios, a série trouxe de volta grande parte do elenco original, além de novos atores e atrizes com o objetivo de atualizar a série.
Exibida na Netflix com o subtítulo “O reino, o poder e a glória”, a série retoma a história de Birgitte Nyborg (Sidse Babett Knudsen) dez anos depois de ter se tornado Ministra do Exterior. Ao longo desses dez anos, porém, muita coisa mudou. Seus filhos cresceram, ela se separou de seu namorado Jeremy (que era uma presença recorrente na última temporada) e vive sozinha.
A outra protagonista da série, Katrine Fonsmark (Birgitte Hjort Sorensen) se casou com Soren Ravn (Lars Mikkelsen, introduzido na terceira temporada) e teve uma filha, Molly. Ela também se encontra em uma nova posição em sua carreira no jornalismo. Ela é a nova editora da grade de jornalismo da rede TV1.
Nesta nova temporada, petróleo é descoberto na Groenlândia, o que movimenta uma série de potências a se embrenhar em negociações para controlar o valioso combustível fóssil. O salto temporal de dez anos é um dos pontos mais interessantes neste regresso da série política. A primeira metade do primeiro episódio é toda focada em apresentar esses personagens uma década depois que os vimos pela última vez.
Um dos destaques fica claro nas famílias de nosso duo feminino. Laura e Magnus cresceram. Ela se mudou para Nova York junto da namorada enquanto ele é um jovem universitário engajado em causas sociais. O caminho escolhido pelos roteiristas em relação a família da ex-primeira-ministra foi o primeiro que me chamou atenção. Educados em uma família onde a política sempre esteve presente sempre me pareceu natural que esses fossem seus destinos naturais. Magnus aqui é interpretado por Lucas Lynggaard Tonnensen (da série The Rain, exibida pela própria Netflix), que ganha aqui um maior destaque e dramas próprios.
O segundo ponto que me chamou a atenção é a presença das mídias sociais e do contexto político que serve de pano de fundo para a temporada. As redes sociais, junto das mensagens de texto, tem uma forte presença e são grandes motivadores nas histórias das protagonistas. Creio que na história de Katrine essa presença é ainda mais forte e consegue dar mais estofo aos seus dramas ao longo da temporada.
No contexto político, este é claramente um mundo pós pandemia e também pós guerra na Ucrânia. Os dois eventos são citados nos primeiros episódios e são motivos parciais para alguns dos eventos que vemos ao longo dos episódios. As três temporadas originais sempre abordaram temas relevantes para sua época. Episódios focados na guerra no Afeganistão se fizeram presentes na segunda temporada. Era natural, portanto, que a nova temporada tentasse capturar o espírito deste o começo dos anos 2020.
A quarta temporada de “Borgen” é, portanto, um bem-vindo retorno à Dinamarca. Declarações da equipe deram a entender que esta pode ser a última temporada. Porém, dado os finais em aberto de muitas histórias e o fato de que os personagens podem iniciar um novo capítulo em suas vidas a partir daqui, fica a expectativa por novos episódios. Resta apenas saber se eles virão e também quando. No mais, Borgen continua tendo muito o que dizer sobre a política global.