Cinema Brasileiro pede mais espaço
Com baixo incentivo e sem apoio da lei Cota de Tela, cinema brasileiro se reinventa e resiste ao descaso
Por Larissa Hirt
O acesso às produções audiovisuais nacionais sofrem impactos dentro e fora das salas de cinema, seja por tempo de tela ou questões orçamentais e incentivos ao setor. Venceu, em 2021, a lei de Cota de Tela, mecanismo que obrigava as empresas exibidoras a incluir longas-metragens brasileiros em sua programação e veiculação em dias e horários nobres, porém, até hoje a questão não foi resolvida.
Segundo dados da Ancine, em 2022, as produções estrangeiras tomaram quase 90% do parque exibidor, enquanto nenhum título brasileiro chegou a ocupar mil salas. “Infelizmente muito pouco do que é produzido no Brasil chega ao grande público”, explica o professor do curso de Cinema da Faculdade Univille, Brian Hagemann, 42.
Para o professor Brian Hagemann, as produções brasileiras têm algumas características que as diferenciam do resto do mundo. “O cinema nacional se enquadra facilmente em uma das cinematografias mais diversas, provocativas e criativas do mundo. Enquanto não temos orçamentos gigantes, compensamos com muita criatividade”.
A questão orçamental é outro ponto determinante.“Estamos no caminho certo nos investimentos em editais de fomento e prêmios para produções diversas e fora do eixo Rio-São Paulo. Investimentos públicos são sempre positivos para a cultura de forma geral”, comenta Brian.
Barbara da Silva, 50, fã dos filmes nacionais, comenta que está ansiosa para “O Auto da Compadecida 2”, previsto para estrear em 2024. “Eu lembro muito do Chicó, personagem do filme. Não sei se hoje vai ser assim, mas eu gostava das piadas dentro do filme, daquele humor singelo e humilde. Tomara que ele venha nos mesmos moldes”, recorda Barbara.
Das salas de cinema ao streaming
Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), 64% das salas de cinema estão localizadas em cidades com mais de 500 mil habitantes, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. A desigualdade não está somente nas salas de cinema, e isso afeta a forma como os brasileiros assistem as produções nacionais.
Uma pesquisa realizada em 2022 pela Hibou – empresa de pesquisa e insights de mercado e consumo – mostra que 70% dos 1,4 mil entrevistados assinam pelo menos algum streaming, dos 30% que não assinam, 18% levam em consideração o valor. E na decisão de escolher a plataforma, 6% levam em conta que tenham produções brasileiras.
“Com certeza os valores de uma sessão de cinema são proibitivos para grande parte da população brasileira. Poucas salas, longe da população, em shoppings centers que envolvem outros custos, isso nos grandes centros, em cidades menores nem salas de cinema existem. Os streamings são uma opção de acesso a produções nacionais, mas elas estão diluídas em várias plataformas diferentes, o que torna inacessível financeiramente também”, comenta Hagemann.
Barbara retrata essa realidade, quando mais jovem, não tinha tanta oportunidade de ir ao cinema. “Nos anos 2000 teve um cinema na minha cidade. Esse eu nunca fui. Naquela época nós éramos bem pobrinhos. Então, se nós íamos ao cinema, não tinha dinheiro para mais nada”, recorda.
Um olhar para o futuro
Lucas Bayerl, 19, estudante de Cinema e Audiovisual da Univille, escolheu fazer o curso pois gosta de assistir filmes e quer fazer parte da produção. Além disso, acredita que os alunos estão empolgados com o mercado nacional do audiovisual.
Hagemann sente que os alunos têm muita vontade de fazer cinema. “O fato dos equipamentos, meios de produção e difusão audiovisual estarem bem mais acessíveis que anos atrás, permite que novos talentos tenham oportunidades em qualquer lugar do mundo. Isso é empolgante”, explica.
Estreia prevista para 2024
“Ansiosos”, é assim que Brian e Barbara descrevem a expectativa de “O Auto da Compadecida 2”, um filme nacional dirigido por Guel Arraes e baseado na obra de Ariano Suassuna. “Eu lembro muito do Chicó, personagem do filme. Não sei se hoje vai ser assim, mas eu gostava das piadas dentro do filme, daquele humor singelo e humilde. Tomara que ele venha nos mesmos moldes”, diz Barbara.
O professor da Univille comenta que o Auto da Compadecida é orgulho da cultura brasileira. “Assisti no cinema em 2000 e espero poder assistir o novo numa sala cheia novamente”, recorda.
Além desse filme, 2024 ainda terá a estreia de Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo, Chama a Bebel, Nosso Lar 2: Os Mensageiros e Férias Trocadas.