Heranças da imigração alemã: 200 anos de sabores e tradição
Milena Natali
Entre tantas receitas, senhora de 83 anos preserva livro manuscrito em alemão que passa de geração em geração.
Neste ano, o Brasil comemora o bicentenário da imigração alemã, e essa celebração vai muito além das pessoas. Santa Catarina se transforma em um verdadeiro banquete de sabores, graças à rica influência germânica que permeia a culinária local. Afinal, o que seria dos catarinenses durante o final de semana sem um chope?
No Sul do país, as delícias da culinária alemã são encontradas em muitas cidades. Especialmente em Pomerode, a gastronomia local é uma viagem ao passado, onde restaurantes e confeitarias se dedicam a preservar receitas tradicionais.
Os pratos salgados são uma parte essencial dessa herança culinária e marcam presença em eventos e nas refeições diárias. O chucrute e as salsichas são apenas alguns exemplos que fazem sucesso nas festas e encontros familiares. Um dos maiores expoentes dessa tradição é o restaurante Siedlertal, que desde 1999 se destaca pela sua dedicação.
O nome do restaurante, que significa “Vale do Colono Imigrante”, já é um prenúncio da experiência gastronômica que ele oferece. Entre os pratos mais famosos estão o bockwurst, composto por salsichas pomeranas, eisbein à moda do opa, com joelho de porco, e, claro, o icônico marreco recheado.
É impossível falar da culinária alemã sem mencionar a famosa cuca, um bolo coberto com farofa doce que se tornou um marco nas mesas catarinenses. Ela não só conquistou o paladar local mas, também, se adaptou ao longo dos anos, ganhando variações que incluem frutas como banana, maçã, uva e ameixa, além de deliciosos recheios de creme, doce de leite e até chocolate. Outro doce que se destaca é o schnecke, um pão doce em formato de caracol, geralmente recheado com canela e açúcar.
Um pouco da Alemanha em casa…
No interior de Jaraguá do Sul, Ingrid Krueger Schroeder, de 83 anos, mantém viva suas tradições familiares. Na casa de Ingrid, ou como é carinhosamente chamada, “Oma Ingrid”, cada receita é uma herança preciosa, transmitida de geração em geração. Com mãos firmes e experientes, ela prepara as mesmas iguarias que aprendeu ainda menina, observando sua mãe e avó na cozinha.
Guardado como um verdadeiro tesouro, está o antigo livro de receitas da família, cujas páginas amareladas pelo tempo são recheadas de anotações em alemão. Todo domingo, o ritual se repete na casa de Oma Ingrid com marreco recheado, como prato principal, acompanhado por nhoque de batata doce. Mas o deleite não termina por aí! Após o almoço, a sobremesa, uma cuca de banana com farofa, preparada com fermento de pão, é aguardada com entusiasmo. Na casa de Ingrid, o tempo parece desacelerar, permitindo que cada momento seja saboreado, assim como cada pedaço dessas receitas tradicionais, que não são apenas comida, mas um pedaço de história.
A fim de compartilhar seus dotes gastronômicos, Ingrid nos passou uma receita um tanto quanto simples… Confira!
Receita de cuca da “Oma Ingrid”
Modo de preparo : 1h 40min
Ingredientes:
- 1 ovo
- 1 colher (sopa) de margarina
- 2 colher (sopa) de fermento de pão
- 1 xícara (chá) de açúcar
- 2 xícaras (chá) de água morna
- 1 pitada de sal
- 3 xícaras (chá) de trigo
- Canela em pó a gosto
Farofa:
1 xícara (chá) de trigo1
xícara (chá) de açúcar
1/4 xícara (chá) azeiteCanela em pó a gosto
Instruções:
- Em uma tigela bata o ovo, o açúcar e a margarina por 2 minutos;
- Adicione o trigo, o sal e o fermento;
- Adicione aos poucos a água e bata até obter uma massa homogênea;
- Em uma forma untada despeje a massa e deixe descansar por 40 a 45 minutos;
- Pré-aqueça o forno em temperatura de 180º por 10 minutos;
- Prepare a farofa, em uma tigela misture o trigo, o açúcar e a canela;
- Adicione azeite com as mãos, amasse até obter uma farofa;
- Leve para assar;
- Deixe assar por 35 a 45 minutos.