Construção dos molhes de pedra em Itapoá: progresso ou prejuízo ambiental?
Júlia Balsanelli
A construção dos molhes de pedra em Itapoá é um desejo antigo dos moradores e caracteriza-se como uma obra de grande relevância para a região, mas também levanta questões sobre seus possíveis impactos ambientais. Situada em um ponto estratégico, visa a controlar o fluxo das águas, minimizar as enchentes, conter a erosão costeira e, principalmente, abrir uma nova foz para o rio SaíMirim. No entanto, a intervenção em áreas naturais não é isenta de controvérsias e exige uma análise detalhada dos efeitos sobre o ecossistema local.
A introdução dos molhes pode alterar o comportamento das correntes marítimas e modificar a dinâmica sedimentar da região, afetando a fauna e a flora locais. A análise dos impactos deve ser conduzida de forma detalhada, levando em consideração todas as variáveis envolvidas, para que se possa balancear os interesses de desenvolvimento com a preservação do meio ambiente.
Além disso, é fundamental que as autoridades responsáveis promovam um diálogo aberto com a comunidade e os especialistas durante todo o processo. O envolvimento da população local e de órgãos técnicos pode contribuir para uma compreensão mais abrangente dos impactos e para a implementação de medidas mitigadoras eficazes. Assim, será possível garantir que o projeto não apenas alcance seus objetivos, mas também respeite e proteja o patrimônio ambiental de Itapoá para as futuras gerações. Portanto, a pergunta persiste: os molhes representam um progresso necessário para a segurança e desenvolvimento da cidade ou um prejuízo ambiental?
A importância da obra
Os molhes de pedra são estruturas construídas ao longo das margens dos rios e do mar, projetadas para proteger as margens da erosão e ajudar a controlar o assoreamento dos canais. No caso de Itapoá, a construção dos molhes na Barra do Saí tem como principal objetivo manter o canal navegável e seguro, além de estabilizar a barra, um ponto crucial para o desenvolvimento da região.
Durante décadas essa obra foi muito aguardada pela comunidade pesqueira. Atualmente, mais de 50% da comunidade vive da pesca artesanal. Nesses longos anos de espera, muitos pescadores tiveram suas embarcações totalmente danificadas em decorrência do mar revolto e da maré baixa. “Perdi minha canoa e todo o meu material de trabalho num dia de barra seca ao encalhar na saída para o mar, agora temos a esperança de que com essa obra o pescador sofra menos”, relata o pescador artesanal João Baiano. A fixação do novo canal do rio Saí-Mirim com os molhes de pedra trará benefícios significativos para a comunidade, facilitando a pesca e promovendo o crescimento do turismo, atividades que são pilares da economia local.
Uma preocupação necessária
A intervenção em ecossistemas costeiros pode resultar em impactos ambientais significativos, que precisam ser cuidadosamente avaliados e mitigados. O engenheiro sanitarista e ambiental Lucas Medeiros, responsável técnico para a execução dos programas ambientais da abertura da barra e construção dos molhes, destaca que o processo de licenciamento ambiental envolveu uma série de estudos rigorosos para avaliar os impactos potenciais nos meios físico, biótico e social.
Esse estudo integrou dados dos diferentes meios afetados pela obra, permitindo a identificação de impactos e a proposição de medidas e programas ambientais para mitigar esses efeitos. Algumas ações já foram realizadas e, entre elas, destaca-se a supressão autorizada da restinga, com o transplante de cerca de 2.050 mudas de vegetação nativa para uma área próxima à foz atual do rio Saí-Mirim. Isso quase dobrou a área de recuperação inicialmente prevista, visando uma recuperação ambiental mais eficaz.
Após a conclusão das obras, o Projeto de Recuperação de Área Degradada (PRAD) será implementado em áreas específicas, com monitoramento contínuo, através de profissionais habilitados, durante três anos, para garantir a regeneração da vegetação e da fauna. “É um desafio que requer muita atenção, organização, gestão e principalmente cuidado na compilação dos dados, para trazermos um monitoramento ambiental completo, buscando sempre relacionar com os possíveis impactos que possam ser ocasionados pelas obras,” completa o engenheiro.
As medidas de recuperação ambiental já implementadas, como o transplante de mudas nativas e o futuro monitoramento da vegetação e fauna, são indicativos de que é possível equilibrar desenvolvimento e sustentabilidade.