Mais de 20 anos de vida noturna: Joinville e a cultura das danceterias
Por Brendha Souza (Shoyu)
Há quem utilize a vida noturna para beber, namorar, curar um coração partido, dançar, ou ir ao cinema assistir a alguma estreia popular. Mas a massa joinvilense tinha seu próprio estilo de vida nos anos 2000. De segunda a segunda-feira havia uma agenda completa com as mais diversas opções de entretenimento, e as tribos sociais se conectavam umas com as outras de forma natural.
Danceterias espalhadas pelo município encontravam entre os jovens carismáticos suas câmeras cybershot, calças cintura baixa e cortes de cabelo estilo surfistinha que, sem a nova cultura dos filtros impostas atualmente pela internet, eram registradas e incluídas em algum perfil na rede social Orkut.
O impacto do jornalismo local e sua influência na promoção de eventos
No período apresentado acima, uma febre se instaurou entre os jovens adultos: o projeto audiovisual Free way. O apresentador, Wander Luís, cobria os maiores eventos na região e, segundo ele, pelas limitações que havia na web, seu programa gerava nos festeiros uma movimentação frenética assim que ligava suas luzes e câmera, afinal, todos queriam um espaço para expressar suas identidades e liberdades artísticas.
Free Way se tornou um dos veículos de comunicação mais influentes nas décadas em que se manteve ativo, e ainda gera visualizações nostálgicas nos arquivos memoráveis expostos em seu canal do Youtube, pois fazia questão de estar inserido nas maiores danceterias da cidade como a Metrô Night Club Joinville, Mansão Music Theater, Bovary Snooker Pub, Big Bowlling e tantas outras.
O programa foi logo visto por todos como um canal publicitário que influenciava a geração e, desta forma, um relacionamento entre o público e o jornalismo foi estabelecido, fazendo todos esquecerem os padrões tradicionalmente formais expostos nas redes televisivas.
Wander detalha que a ideia surgiu quando assistiu a um programa televisivo paulista neste formato, que realizava entrevistas independentes com pessoas que estavam na festa. A mistura entre os hits e a alegria contagiante logo lhe chamaram a atenção.
“Pronto! Ali começava a idealização do programa e logo veio seu slogan: Se é balada, o programa é Free Way. E o projeto deu certo! Foram 12 anos, entre 2000 e 2012, expondo (além do Youtube) em diversas emissoras como: TV da Cidade, SBT Joinville, TVBC e entre outras.”
Nas maiores casas noturnas do município aconteciam coberturas fotográficas que, após editadas, eram divulgadas nos portais de grandes empresas como a Look Here e The Night Mix. Os registros ofereciam um conteúdo atraente, a captura de uma noite vivaz, e a lotação exibida nas páginas online moviam no público um apetite para o próximo encontro.
A atual febre das festas temáticas anos 2000
O cenário noturno de Joinville apresenta em 2024 uma rotina monótona, em comparação aos períodos apresentados acima, mas jamais morta.
Festas itinerantes, casas noturnas e bares seguem disponíveis para todos os gostos. O público não é mais o mesmo, mas eventualmente as playlists sim.
Novos DJS compactam em seus pen drives faixas lançadas a aproximadamente mais de 20 anos, como a seleção de Summer Eletrohits, e os jovens aproveitam de bons drinks gelados clássicos como Alexander ‘s, Cosmopolitan ´s e Cuba ´s Libre.
Entre as danceterias com os maiores públicos atualmente na cidade, destaque-se a TYPE Joinville e UNDR Bar. Estas baladas oferecem festas temáticas com decorações e atividades fiéis às suas respectivas propostas. Um dos eventos mais solicitados são justamente as famosas “partys 00’s”, que refletem em alguns o desejo de adquirir celulares flip e CDS do NSYNC.
Ana Dorneles, natural do município e representante da equipe artística UNDR Bar e TYPE Joinville, destaca que “Estes espaços [festas relacionadas a virada do milênio] são projetados para atender a um determinado ritmo e estilo de vida…se intensificou com os millennials e alcançou um grau significativo na maturação das gerações seguintes”.
Se tornando nesta década uma referência cultural e ponto de encontro para a exploração artística individual, a profissional ainda reforça que, ao notar a atual crescente de eventos inéditos direcionados a uma comunidade alternativa, se sentem seguros em criar um espaço onde cada pessoa possa se sentir acolhida com sua individualidade.
A capital da dança não é a capital da festa, e todos os locais para farras e comemorações disponíveis enfrentam seus obstáculos. Mesmo sendo a maior cidade do estado catarinense, o público não fomenta significativamente o nicho de entretenimento e arte.
Com feedbacks positivos no histórico das instituições criativas que representa, Ana enfatiza “Embora haja obstáculos para construir uma vida noturna mais vibrante, acreditamos que a melhor forma de avançar é continuar promovendo eventos que ofereçam experiências culturais valiosas. Estamos dedicados a criar um ambiente que ressoe com o público”.
Com pessoas criativas e dispostas a fazer acontecer, a vida noturna de Joinville se torna cada dia (e noite) mais rica e movida à paixão. Talvez com sorte conquiste futuramente um coletivo inovador, receptivo e, que de forma descomplicada, explore e colabore com os estabelecimentos da região. Os obstáculos se tornarão apenas histórias feitas para honrar os legados de tantos lugares, como foi com as danceterias mirabolantes de Julian Olsen desde a década passada, Jammim Club, Hanna e Soul.
Ao promover uma identidade coletiva e integração social há tantos anos, a cidade segue com o mesmo propósito: um momento de liberdade e conexão.