Mercado de apostas se expande e gera preocupações
Por Guilherme Miranda
Nos últimos anos, o número de casas de apostas no Brasil vem aumentando significativamente. Esse crescimento é impulsionado pela facilidade das transações, especialmente com o uso do PIX (Pagamento Instantâneo Brasileiro), que torna as apostas mais acessíveis. Muitos brasileiros se deixam levar pela ilusão de que podem transformar suas vidas da noite para o dia, atraídos por promessas de lucros rápidos em apostas ou cassinos. No entanto, é importante lembrar que também há riscos envolvidos nesse tipo de atividade.
Enquanto as casas de apostas e pessoas que divulgam oferecem a ilusão de mais oportunidades, esquecem de falar as consequências. Edmundo Steffen, sociólogo e amigo de uma vítima do vício em apostas, conta que esse fenômeno está ligado ao capitalismo tardio, quando a mercantilização do lazer e a precarização do trabalho criam um ambiente propício para o vício. “Trabalhadores inseguros, com rendas voláteis e perspectivas econômicas incertas podem ver nas apostas uma forma rápida de obter dinheiro ou superar crises financeiras. Nesse contexto, o ato de apostar se transforma em uma busca desesperada por mobilidade econômica”, afirma o profissional.
O neuropsicólogo Ian Hubener explica a dinâmica envolvida entre apostas e liberação de dopamina, substância química que transmite sinais entre as células nervosas no cérebro: “o sistema dopaminérgico está envolvido com alguns fatores, os principais são a motivação e o prazer. As apostas funcionam de uma forma ainda mais intensa nesse quesito. Estudos mais recentes apontam que liberamos mais dopamina quando não há uma certeza completa de ganhos, então o fato de ter a expectativa de poder ou não ganhar aumenta a motivação para uma nova tentativa. Uma parcela da população quando exposta a esse sistema incerto de ganhos pode acabar se viciando”, diz.
Segundo Edmundo Steffen, a falta de regulamentação no setor agrava a situação. “Sem mecanismos claros de controle ou limites, o ambiente de jogo se torna um território onde o indivíduo está sozinho contra a incerteza e o risco. Nesse cenário, as perdas podem ser entendidas como uma resposta à falência de expectativas e à ausência de uma rede de apoio social que ajuda a mediar a frustração e o desespero”, completa.
Segundo Edmundo Steffen, a falta de regulamentação no setor agrava a situação. “Sem mecanismos claros de controle ou limites, o ambiente de jogo se torna um território onde o indivíduo está sozinho contra a incerteza e o risco. Nesse cenário, as perdas podem ser entendidas como uma resposta à falência de expectativas e à ausência de uma rede de apoio social que ajuda a mediar a frustração e o desespero”, completa.
Essa solidão pode resultar em tragédias, como a que afetou o amigo do sociólogo, que não dava sinais aparentes de sofrimento, mas estava numa luta interna constante que culminou em suicídio. Ian Hubener aponta os principais sintomas do desenvolvimento de um vício: “quando alguém aumenta sua frequência em jogos, ou passa de depositar apenas um dinheiro que não faria falta para depositar uma quantia que faz a diferença em sua vida, é um indício que esse recurso pode estar sendo problemático. O principal indicativo é quando a pessoa não consegue parar, por não entender que é prejudicial ou, mesmo entendo, não conseguir. Esses sinais apontam que é o momento de buscar uma ajuda externa e controlar o vício.”
Crescimento das casas de apostas
De acordo com dados da plataforma Datahub, o setor de apostas online cresceu 734,6% entre 2021 e abril de 2023. Em 2021, o Brasil contava com apenas 26 empresas, número que saltou para 79 no ano seguinte. Somente nos primeiros meses de 2024, foi registrada a mesma quantidade de novas empresas que existiam em 2022.
Esse aumento foi impulsionado pela popularização do Pix. A ferramenta de pagamento instantâneo revolucionou a forma como os brasileiros realizam transações financeiras, tornando as apostas online mais acessíveis e atraentes. Segundo a ENV Media, 81% dos jogadores preferem utilizar o Pix, revelando confiança nessa transação.
O sociólogo Edmundo Steffen conta como o avanço tecnológico também influencia nessa questão. “O avanço tecnológico e a globalização financeira criaram um mercado de apostas extremamente acessível. Com a internet, é possível participar de apostas 24 horas por dia, em qualquer lugar do mundo, aumentando exponencialmente o público e a dependência desse tipo de serviço. Isso se alinha à lógica do capitalismo tardio, que transforma tudo em mercadoria e maximiza o consumo ao reduzir barreiras geográficas e temporais”, avalia.
Atualmente, a questão da regulamentação das bets no Brasil vem sendo constantemente discutida, das aproximadamente mais de 3 mil casas de apostas atuantes no país, apenas 108 têm a licença para funcionamento. Esses números mostram que se a regulamentação entrar em vigor, aproximadamente 96,4% das casas de apostas existentes no Brasil hoje, teriam que parar de funcionar.