Cresce o número de catarinenses que utilizam plataforma ‘sugar’
Por Milena Natali
Entre jantares e viagens, relacionamentos remunerados oferecem uma nova visão sobre parcerias emocionais e financeiras.
Nos últimos anos, o conceito de relacionamentos sugar tem ganhado popularidade. A ideia envolve acordos em que uma pessoa mais madura e experiente ofereça suporte financeiro, enquanto a outra, o acompanhe em festas, eventos, ofereça companhia e afeto. O tema gera debates e divide opiniões, especialmente quanto aos limites entre esses acordos e a prostituição.
Sugestão de olho: O termo nasceu a partir do empresário Adolfo B. Spreckels, 51, considerado o primeiro ‘sugar daddy’, herdeiro de uma refinaria de açúcar nos Estados Unidos. Por isso o nome ‘sugar daddy’, em português, pode ser traduzido como ‘papai de açúcar’.
Em Santa Catarina, segundo a plataforma MeuPatrocínio, que faz o intermédio nestas relações, mais de 777 mil pessoas estão cadastradas no site, representando cerca de 10% da população do estado. Entre os catarinenses, a renda média dos sugar daddies é de R$ 80.245, enquanto a das sugar mommies é de R$ 67.421.
De acordo com dados da plataforma, Florianópolis lidera o número de usuários em Santa Catarina, seguida por Blumenau, Joinville e Balneário Camboriú. A capital possui mais de 137 mil perfis cadastrados, enquanto Balneário Camboriú, com 94 mil usuários, destaca-se por ter 68% da população local registrada.
A Dra. Sofia Martins Cagnini, 43, especialista em comportamento social, explica que os relacionamentos sugar apresentam uma nova forma de interação que reflete mudanças nas dinâmicas de poder e nas expectativas das pessoas em relação ao amor e à estabilidade financeira. “Há uma clareza de intenções que, para muitos, traz uma sensação de controle e autonomia”, destaca a especialista.
A psicóloga também lembra que, “embora muitos vejam esses relacionamentos como benéficos para ambas as partes, é fundamental lembrar que a desigualdade financeira muitas vezes pode introduzir complexidades e desafios emocionais que vão além do acordo inicial”, completa.
Entre bolsas, jantares e viagens
Carlos (nome fictício para proteger a identidade do entrevistado), empresário de 52 anos, está no mundo sugar há quase uma década e compartilha sua visão sobre o estilo de vida. Ele revela que, para ele, a conexão vai além da simples troca financeira. “Busco uma baby que queira se desenvolver profissional e intelectualmente. O relacionamento vai além do mimo, é sobre construir algo juntos”, afirma.
Para ele, o respeito e a privacidade são pilares fundamentais para manter uma relação saudável nesse universo. “Sempre procuro conhecer bem a pessoa antes, conversando bastante online e, depois, marcando um jantar ou algo mais casual. A privacidade é essencial, especialmente quando há pessoas casadas nesse meio.”
Uma jovem que prefere não ser identificada, conhecida apenas como Ana, está envolvida nesse tipo de relacionamento há dois anos e relata que entrou no mundo sugar buscando mais estabilidade financeira. “Eu estava passando por dificuldades e vi no relacionamento sugar uma maneira de ter uma vida mais tranquila. Para mim, o mais importante é o respeito mútuo e os limites bem definidos. Eu não me vejo como uma ‘vendedora de amor’, o acordo é claro desde o início”, diz a baby sugar.
Polêmicas e legalidade
O crescimento da modalidade de relacionamento tem levantado questões sobre os limites entre o sugar e a prostituição. No entanto, a advogada Laura Casanova,34, afirma que o sugar é consensual e não configura exploração sexual. “O que é combinado entre eles diz respeito ao casal. Cada um é livre para fazer o que quiser com seu corpo”, destaca a advogada.
Durante a pandemia, a plataforma MeuPatrocínio registrou um aumento de 40% no número de usuários, refletindo a busca de muitas pessoas por estabilidade emocional e financeira em meio às incertezas. Esse crescimento pode ser atribuído ao isolamento social e à necessidade de novas conexões em tempos difíceis, levando muitos a explorar alternativas que proporcionem suporte econômico e interação social.
Além disso, a busca por estabilidade emocional se reflete nas características dos sugar babies. Muitos deles são jovens que buscam apoio financeiro para suas carreiras ou educação, enquanto encontram parceiros que estão dispostos a investir em seu desenvolvimento pessoal. A especialista Sofia Martins Cagnini enfatiza que “essa geração busca novos formatos de relacionamento que combinem afeto e suporte mútuo, desafiando normas sociais tradicionais”.
O fenômeno em Santa Catarina mostra uma crescente busca por novas formas de se relacionar, onde apoio financeiro e companheirismo andam lado a lado. À medida que esses relacionamentos se tornam mais comuns, o debate sobre suas implicações éticas e sociais continua a se desenvolver.
*Os nomes foram alterados para proteger a identidade dos entrevistados.