Violência contra a mulher mostra urgência em reeducar a sociedade
ONU estabeleceu o dia 25 de novembro como a data para marcar a conscientização sobre essa violação dos direitos humanos
Por Crislaine Moreira
No Brasil, em 2023, a cada seis horas uma mulher foi vítima de feminicídio e cerca de 1,3 milhão de brasileiras sofreram algum tipo de violência. Esses números ressaltam a importância do dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, estabelecido 25 de novembro.
A data foi criada em 1999 pela Organização das Nações Unidas (ONU), para a conscientização sobre uma das formas mais persistentes e generalizadas de violação dos direitos humanos. A escolha foi em homenagem às irmãs Mirabal, ativistas políticas brutalmente assassinadas em 1960, que se tornaram símbolo de resistência contra a opressão.
A violência assume diversas formas e atinge mulheres de todas as idades, raças e classes sociais. Porém, a violência de gênero afeta ainda mais negras e periféricas. Em 2023, o Brasil uniu a campanha global de 21 dias pela eliminação da violência contra a mulher, à luta pelo Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. A campanha termina em 10 de dezembro, no Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em mais de 150 países.
A socióloga Valdete Daufemback explica o motivo da junção dessas datas. “Entendeu-se que, nesse processo de violência, as mulheres negras sofrem mais do que as não negras”, afirma.
Apesar dos avanços legais, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, a realidade vivida reflete um ciclo de violência que as silencia, ameaça e mata. “As leis não diminuíram os números de violência. Mata-se a mulher, simplesmente, por ser mulher. Não é pela lei. Tem que ter outros mecanismos. Precisamos ter uma outra sociedade”, comenta a socióloga.
A advogada Ana Paula Nunes explica que os maiores desafios das vítimas de violência são lidar com o medo e a vergonha. “Segundo pesquisas realizadas, o medo é o maior causador das mulheres não denunciarem. O segundo é o julgamento social. Ainda não avançamos nesse seguimento”, comenta.
A importância da informação para o combate à violência
A conscientização e a educação são vistas como ferramentas poderosas no combate à violência de gênero. Para a advogada Ana Paula Nunes, a mudança começa com a instrução e o acesso à informação. “Não é só um papel da mulher entender seus direitos e trabalhar como se isso fosse uma guerra. É extremamente importante falar com crianças e adolescentes sobre esse tema. A informação é um empoderamento. A informação salva”, afirma.
A socióloga Valdete Daufemback reforça esse ponto ao falar sobre a diferença na educação de meninas e meninos. “Na maioria dos lares, a educação entre meninos e meninas é diferente. É ensinado aos meninos serem mais ‘machões’, enquanto as meninas são ensinadas a serem mais recatadas, recolhidas. Principalmente educação sexual, não se fala dos meninos”.
O Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra a Mulher é mais do que uma data no calendário. Ele representa a luta diária de milhões de mulheres por dignidade, respeito e sobrevivência. “Nosso caminho é todos os dias. Toda a oportunidade que tem de falar, mostrar, vivenciar e praticar essas ações em defesa dos direitos humanos, em defesa das mulheres contra a violência, é um exercício que devemos fazer todos os dias”, enfatiza Valdete.