Uso de telas causa efeitos negativos na infância
Excesso de eletrônicos na infância gera preocupações entre pais e especialistas, apontando riscos e dificuldades cognitivas
Por Sarah Falcão
Ansiedade, isolamento social e dependência emocional são exemplos de consequências do uso exagerado de dispositivos eletrônicos na infância. Um levantamento realizado pela TIC Kids Online Brasil, em 2023, revelou a extensão desta realidade. De acordo com os dados, 88% das crianças e adolescentes ouvidos têm acesso à plataforma de vídeos online. Além disso, 78%, usam WhatsApp, 66% possuem contas no Instagram, 63% no TikTok e 41% no Facebook.
Os números têm uma representatividade expressiva diante de tantos aspectos prejudiciais às crianças. A psicóloga Gabriela Troglio explica que pelo fato dos cérebros do grupo infantil estarem em desenvolvimento, essa prática se torna um problema. “Estudos apontam que o uso abusivo da tecnologia ocasiona problemas de concentração, altera a capacidade de aprendizado e prejudica o desenvolvimento cognitivo”, destaca.
No campo da psicologia, a cognição refere-se ao conjunto de processos mentais que envolvem a elaboração de conhecimento e o aprendizado. Diante disso, a psicóloga explica que é a partir do processo cognitivo que o ser humano consegue desenvolver suas capacidades intelectuais e emocionais. “As crianças que têm acesso livre e indiscriminado às telas terão a linguagem, o pensamento, a memória, o raciocínio, a capacidade de compreensão e a percepção afetadas”, alerta.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que crianças de até dois anos não tenham contato com eletrônicos com telas. De dois anos até cinco anos, o uso deve ser limitado a até uma hora por dia com a supervisão de um adulto. Já para as que têm entre 6 e 10 anos, o máximo indicado é de duas horas por dia, também com supervisão.
Mesmo com a recomendação, o cenário brasileiro é diferente, uma vez que as crianças têm se afastado das brincadeiras ao ar livre, trocando essas experiências pelas companhias de fios de carregadores ou fones de ouvido. “As crianças acham que nada é tão interessante quanto à tela. Começam a sentir que não há necessidade de brincar, de olhar no olho, de tocar a natureza, de abraçar e de ser abraçado. Tudo acaba sendo tedioso sem a tela”, afirma a psicóloga.
Controle dos pais no uso de eletrônicos
O uso de aparelhos eletrônicos em excesso é uma forte preocupação entre os pais. Renato Santos, 34, reforça a sua angústia em relação aos seus filhos, de cinco e 13 anos. “O que me preocupa hoje é o desenvolvimento cognitivo, principalmente do mais novo de apenas cinco anos. É fato que as telas são prejudiciais para a saúde mental e principalmente afeta a atenção das crianças e por este motivo a gente se preocupa bastante”, afirma.
Renato explica que para ter um controle maior sobre o uso de telas, impõe limites e regras dentro de casa. “Tento ao máximo manter eles entretidos com brincadeiras de criança mesmo. Fica na frente do celular apenas durante a noite e por um curto período. E os conteúdos que eles consomem são monitorados. Às vezes reclamam bastante, principalmente a mais velha, mas a gente impõe limites e eles tem que aceitar”, conta o pai.
Entre as atividades que Renato e sua esposa oferecem aos filhos longe das telas, estão visitas em parques e brincadeiras no condomínio para eles se relacionarem com outras crianças. “Faço isso até para estreitar vínculo com outras crianças e, em casa, a minha esposa sempre compra livros de desenhar para eles”, compartilha.
A psicóloga Gabriela Troglio alerta sobre os sinais de dependência em relação ao uso de telas, que incluem quando a criança não come sem estar assistindo algo, quando a única coisa que acalma ou diminui o estresse é através da tela, sono prejudicado e perda de interesse em outras atividades. Para isso, é necessário a ação ativa dos pais contra esses malefícios. Renato compartilha que sua filha tinha dificuldades de atenção quando era mais nova, e que após notar, tomou uma atitude. “Ela era muito dependente e por vezes deixava de fazer as tarefas para ficar no celular. Depois de percebermos isso, reduzimos o tempo de uso e percebemos que ela teve melhor desenvolvimento na escola e nas notas, por exemplo. Isso acabou refletindo no pequeno que tenta copiar a irmã em alguns comportamentos”, completa Renato.