Moda que retorna
Uma nova roupa que vem, uma antiga que vai. Os brechós vieram para ficar
Por Gabrielle Dalmoro
Um marketing massivo, cheio de promoções e roupas com diferentes estampas e modelos para que a moda nunca acabe. Assim é a fast fashion ou “moda rápida”, termo usado para tendências passageiras, visando pouco tempo no mercado e estimulando o consumidor a atualizar rapidamente seu guarda-roupa. O tempo médio de vitrine é de dois meses, mas o prejuízo para o meio ambiente pode durar anos, pois, a cada renovação, o descarte indevido de roupa se torna um grande desafio para a natureza, lugar onde a maioria desses rejeitos vão parar.
O prejuízo não para por aí. Além do desapego incorreto, a produção de novas peças de roupa tende a extrair o máximo de matéria-prima natural, deixando sua marca negativa no meio ambiente. Um exemplo disso é a calça jeans. Cerca de 5,2 mil litros de água potável são consumidos desde o plantio do algodão até a venda do jeans. Segundo dados da ONU, esse número excede em muito do que uma pessoa consome durante um mês. Em média, um adulto deve ingerir 100 litros/mês de água para que possa cumprir suas necessidades diárias.
Visando diminuir esse cenário totalmente desgastante da indústria, uma onda de brechós se espalha pelo país. Franquias como “Dig for fashion” são nomes recorrentes no mundo da moda sustentável. Muito além dos bazares, há também outras maneiras de se reinventar na moda. Um exemplo disso é a Kayka Oliveira Couto, costureira e customizadora de bolsas, que utiliza como matéria-prima objetos e roupas descartadas de maneira imprópria.
“Quando eu comecei a morar sozinha, eu pegava muita coisa da rua e reciclava. Mas eu não dava nome pra isso, tipo de upcycling ou sustentabilidade, era necessidade. Hoje em dia, quando eu pego uma coisa no lixo, é automático, isso aqui eu vou reutilizar. Pra mim não tem lixo, pra mim qualquer coisa pode ser transformada e reutilizada. Acho que muito por causa dessa necessidade que eu passei de pegar as coisas da rua, não faz sentido nenhum descartar coisas.”
A moda volta e se renova e, para que ninguém fique de fora, Kayka ressalta que a popularização entre o público jovem por meio de feiras e eventos voltados à sustentabilidade tem se consolidado com o passar do tempo.
“Eu acho que essa moda já pegou na minha bolha. É muito recente. As pessoas ainda estão conhecendo e se familiarizando. Tem muita gente, muito artista fazendo trabalho incrível. Grife produz uma coisa exclusiva a que só as classes mais altas podem ter acesso. O artesanato que a gente faz aqui também é a mesma coisa. É exclusivo, mas é acessível para todo mundo.”
Desencontro encontrando sustentabilidade
Buscando trazer visibilidade a essa nova onda, Henrique Leandro de Souza, sócio de uma produtora audiovisual focada em moda, juntou-se a um parceiro com a iniciativa de promover um evento que unisse moda sustentável e marketing. Dessa conversa, surgiu Desencontro, um evento que reúne brechós, artesanato e, o mais importante, o público jovem da cidade.
“Eu sempre fui conectado com brechós de moda em geral. A gente (produtora) é do tipo que vai garimpar em outros lugares e tudo mais, trocar a roupa com o amigo, coisas nesse sentido. Enfim, escolhemos potencializar criando o evento. Às vezes, encontro coisas diferentes que encontro no shopping. Evidentemente, é claro que também existe uma tendência muito grande, principalmente da geração Z de pensar um pouco mais em pautas sociais e ambientais.”
A primeira edição do evento atraiu mais de 800 pessoas, surpreendendo Henrique e seu sócio Mateus Moraes Mautone, que acabaram por realizar a segunda edição, que reuniu mais de mil pessoas no anexo da Barbiearia, local esse onde era o antigo brechó da Bardo.
“Enfim, todo mundo gostou. Teve gente que veio só para curtir, mas tem gente que saiu com muita roupa boa, então se mostra a curadoria que a gente tem. Inclusive, a gente teve um feedback da maioria dos brechós que foi o evento que eles mais venderam.”
Com o sucesso dos eventos anteriores, Henrique de Souza e Mateus Mautone já idealizam uma data para que a terceira edição possa acontecer. O desencontro está sendo planejado apenas para metade do ano de 2025, mas a moda sustentável acontece todos os dias.
Um novo ciclo para todos
Os brechós, muito além da sustentabilidade, significam economia, identidade visual e moda. Um perfeito pontapé para a abertura de um negócio. Esse foi o caso de Luana, proprietária do Be brechó, que deriva do verbo to be, ou seja, ser e estar em inglês.
“Desde pequena frequento bazares com a minha tia e depois, na faculdade, eu escolhi cursar Design de Moda para aprender um pouco mais sobre todo o processo. No finalzinho, eu entendi que eu queria trabalhar com a sustentabilidade através do Brechó.”
Além de frequentar as feiras, Luana tem um perfil nas redes sociais focado no seu negócio. Por lá, ela posta vídeos de combinações de roupas e atualizações de produtos para a venda, sendo uma vitrine digital. Com o grande interesse do público nesse ramo, a microempresária ressalta que temos muito a reutilizar no mundo da moda.
“Já existe muita roupa no mundo, então o caminho mais fácil é pegar aquilo que já está disponível, devolver para o ciclo de uso dele, do que criar uma nova peça. Porém, ao mesmo tempo que tem gente criando, tem gente saindo desse ambiente. Sempre terá marcas sendo criadas e marcas recebendo um fim. E sempre será assim.”