Quem está roubando o sol das praias e prejudicando a sua saúde no verão
Entenda como os prédios altos estão bloqueando o sol na orla e quais são os impactos negativos desse efeito
Por Júlia Gava
Em Santa Catarina, um estado famoso por suas praias paradisíacas, é difícil imaginar que a sombra possa substituir o sol na areia. No entanto, isso tem acontecido em algumas praias do litoral catarinense. Balneário Camboriú e Itajaí já enfrentam problemas devido ao sombreamento nas orlas das praias. A falta de luz solar prejudica as condições sanitárias da areia e aumenta a sobrevida dos patógenos, como bactérias e vírus, que causam doenças.
O sombreamento nas praias ocorre quando prédios altos bloqueiam a luz solar, gerando sombras na orla. Isso pode impactar o ecossistema local, alterar o clima, prejudicar a vegetação e as espécies que dependem do sol, além de afetar negativamente a experiência dos visitantes.
O Ecólogo Marinho e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Horta, destaca a necessidade de redobrar os cuidados sanitários em praias afetadas pela sombra gerada pelos prédios altos, pois a menor incidência de luz solar favorece o crescimento de microrganismos causadores de doenças.
“Microrganismos, como bactérias, que causam desde diarreias até doenças mais graves, podem sobreviver por mais tempo na areia do que na água do mar. A radiação ultravioleta do sol controla essas bactérias, limitando seu tempo de vida na praia”, explica o professor. “No entanto, prédios altos bloqueiam a luz solar, o que aumenta a sobrevivência desses patógenos e, consequentemente, a contaminação das praias.”
Fauna e flora das áreas costeiras
Segundo Fernando Joner, biólogo, professor e pesquisador da UFSC, a falta de luminosidade adequada pode afetar a biodiversidade nas praias e influenciar o desaparecimento de algumas espécies de restinga.
“A falta de luz durante parte do dia afeta a reprodução e os ambientes de vertebrados, aves, répteis e anfíbios. Isso resulta em uma vegetação de restinga empobrecida, com menos biodiversidade do que em áreas com mais horas de luz.”
Cidades verticalizadas
De acordo com Paulo Horta, uma cidade verticalizada, ou seja, com muitos prédios altos e grande densidade populacional, pode gerar ambientes pouco adequados ou desconfortáveis para a vida humana.
“Um verão quente e úmido pode sobrecarregar o corpo humano, aumentando o risco de doenças. Por isso, é importante planejar áreas de refúgio com pontos de hidratação e arrefecimento, para preservar a saúde e a vida”, destaca.
Para ele, é essencial que cidades verticalizadas à beira-mar sejam encaradas como um grande desafio no gerenciamento costeiro, sendo preciso pensar em soluções inteligentes para adaptar e reduzir os efeitos das mudanças climáticas.
Impacto para os turistas
O aumento de prédios altos ao longo da orla de Balneário Camboriú tem gerado debates sobre a falta de luz solar nas praias. Embora os edifícios sejam um atrativo visual e turístico, há quem questione se esse crescimento vertical realmente compensa.
Nicoly Daumann, estudante de Medicina e turista em Balneário Camboriú, afirma: “Esteticamente, os prédios são bonitos e deixam a cidade famosa, mas não acho que vale a pena, principalmente por conta da falta de luz do sol. Praia sem sol não tem graça, por isso acabo escolhendo ir a outras praias da região.”