Excesso de álcool no fim de ano amplia tragédias nas rodovias
Campanhas e fiscalização podem diminuir os acidentes no período de festas
Por Júlia Balsanelli
O final de ano é sinônimo de confraternizações, viagens e reencontros. Contudo, essa época também é marcada por um aumento expressivo nos acidentes de trânsito. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a combinação de excesso de velocidade e consumo de álcool ao volante é responsável por mais de 50% das fatalidades nas rodovias brasileiras durante as festas de Natal e Réveillon.
“É um período em que as pessoas estão mais vulneráveis emocionalmente. Há um clima de celebração, mas também de pressão para cumprir agendas, o que aumenta a imprudência. Quando o álcool entra na equação, o resultado pode ser desastroso”, alerta o psicólogo Rodrigo Ferreira, especialista em comportamento humano no trânsito.
O cenário é preocupante: em 2023, o Brasil registrou um aumento de 12% nos acidentes fatais em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse aumento nos acidentes ocorre principalmente em rodovias de grande fluxo, mas também se estende a áreas onde o movimento é menor. A combinação de euforia pelas festas e o desejo de chegar rapidamente ao destino pode levar motoristas a tomar decisões imprudentes, ignorando os limites de velocidade e outras medidas de segurança. A imprudência ao volante é uma das principais causas dos acidentes, principalmente quando associada ao consumo de álcool.
Além disso, a falta de fiscalização rigorosa em muitas rodovias durante o período de festas contribui para a intensificação dos comportamentos arriscados. O aumento do fluxo de veículos, somado à redução da presença de agentes de fiscalização, cria um cenário propício para infrações, como o excesso de velocidade e a condução sob efeito de álcool. Esse contexto é agravado pela alta temporada de viagens, que coloca ainda mais veículos nas estradas, aumentando a pressão sobre as infraestruturas rodoviárias.
Os efeitos do álcool no corpo são amplamente conhecidos: redução dos reflexos, perda de atenção e comprometimento da coordenação motora. Mesmo pequenas quantidades são suficientes para aumentar o tempo de reação do motorista, especialmente em situações de emergência. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) destaca que, a 100 km/h, um carro percorre cerca de 28 metros por segundo. Nesse intervalo, uma decisão mal calculada pode ser fatal.
A velocidade, por sua vez, agrava as consequências dos acidentes. Veículos em alta velocidade têm maior dificuldade de frenagem e a energia gerada em colisões é maior. Estudos mostram que, a partir de 80 km/h, as chances de sobrevivência em um impacto frontal caem drasticamente.
Mariana Costa, perdeu o irmão em um acidente de trânsito no Réveillon de 2019. “Ele estava voltando de uma festa com amigos e apesar de não ser ele quem dirigia, todos haviam bebido e ninguém usava cinto de segurança. Foi uma perda que marcou a nossa família para sempre”, relembra.
Histórias como a de Mariana se repetem nesta época. Em muitos casos, os responsáveis pelos acidentes não sobrevivem para enfrentar as consequências legais, mas deixam famílias destruídas.
Prevenção é a chave
Para combater essa realidade, diversas campanhas educativas têm sido realizadas em âmbito nacional. A PRF intensifica a fiscalização em pontos estratégicos, com ações que incluem blitzes da Lei Seca e radares móveis.
“O principal objetivo é salvar vidas. Não estamos apenas aplicando multas. Queremos conscientizar os motoristas sobre a responsabilidade de cada um ao volante”, afirma o inspetor da PRF, Carlos Roberto Filho.
Além da fiscalização, a conscientização social é essencial. Especialistas recomendam medidas simples, como evitar dirigir após o consumo de álcool, usar aplicativos de transporte e respeitar os limites de velocidade. Empresas e organizadores de eventos também podem contribuir, incentivando o uso de motoristas profissionais ou transporte coletivo para deslocamentos.
“O trânsito é um espaço compartilhado. Respeitar as regras e dirigir com responsabilidade é um ato de cidadania que protege não apenas quem está ao volante, mas todos ao seu redor”, reforça o inspetor de trânsito.
À medida que o ano chega ao fim, a mensagem é clara: a celebração da vida não deve ser comprometida por atitudes irresponsáveis. Um final de ano seguro depende de decisões conscientes e do compromisso de todos com um trânsito mais humano.